quarta-feira, 19 de outubro de 2011

SP: Colírio queima olhos de bebê em hospital

Família diz que medicamento foi aplicado em excesso e estava errado, pois tinha concentração acima da recomendada


Recém-nascido passou por duas cirurgias após a falha, mas pode ter sequelas na visão, segundo médicos

Um recém-nascido teve os olhos queimados após uma enfermeira aplicar colírio lo­go depois do parto, no Hospital do Servidor Público Mu­nicipal (na região central de São Paulo), na última quarta-feira. A criança corre o risco de ter a visão prejudicada.

Segundo familiares do be­bê, além de o colírio ter sido aplicado em excesso, a me­dicação estava errada, pois tinha concentração acima da recomendada.

De acordo com os pais da criança, o hospital informou que foi usado um medica­mento à base de nitrato de prata. Esse tipo de colírio previne a bactéria que causa gonorreia -doença sexualmente trans­missível- e deve ser aplicada em todo recém-nascido, com concentração de 1%.

Logo após receber o colírio, a criança ficou com os olhos bastante inchados e roxos.

O músico Samuel Alves da Silva, 23, pai do bebê, diz que o médico do hospital afirmou que houve falha da equipe.

"Eu estava na sala acompanhando o parto e presenciei que as en­fermeiras se excederam quando colocaram a subs­tância. Uma delas comentou com a outra que tinha colo­cado demais e tentaram lim­par o excesso com uma ga­ze", conta.

No mesmo dia, o bebê foi transferido para o Hospital São Paulo, onde passou por duas cirurgias para lavagem e raspagem dos olhos.

"O bebê ficou chorando desde que recebeu o colírio. Só tomaram providências em relação ao erro horas depois, quando teve a troca de equi­pe no hospital", disse Silva.

A mãe do bebê, Maiara Cu­nha, 19, está revoltada. "É um erro que não pode acontecer com ninguém."

Os médicos ainda não sabem a gravidade das sequelas.

Segundo a oftalmo­logista Denise de Freitas, do Hospital São Paulo, o colírio provocou uma alteração química nos olhos do bebê. Para ela, a criança pode ter a vi­são afetada, mas ainda é ce­do para avaliar. O excesso de medicação ou a concentra­ção superior pode ter causado o problema.

Os pais registraram ontem um boletim de ocorrência no 5º DP (Aclimação) contra o hospital.

Profissionais foram afastados, afirma Secretaria de Saúde

A Secretaria Municipal da Saúde informou que afastou todos os profissionais envolvidos no atendimento do recém-nascido.

Foi criada uma comissão para apurar a responsabilidade do ocorrido.

A direção do Hospital do Servidor Público Municipal disse que está à disposição dos familiares, para todos os esclarecimentos solicitados, e que já conversou com o pai.

De acordo com o Hospital São Paulo, foram feitas duas intervenções no bebê para retirar o produto dos olhos e ele passa bem.

Na próxima segunda-feira será feito um novo procedimento para avaliar os danos causados na visão, informou o hospital.

De acordo com a oftalmologista Denise de Freitas, que acompanha a criança, a queimadura pode provocar sequelas na visa do bebê. Ainda não há previsão de alta hospitalar do bebê. (TATIANA SANTIAGO E FABIANA CAMBRICOLI - Folha de S.Paulo-15.10)

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