RIO - Enquanto hospitais públicos da cidade padecem da superlotação, no Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, o diagnóstico é outro: emergências e leitos vazios, mas não pela ausência de pacientes. O mal da unidade é a falta de médicos, como constatou na quinta-feira, durante uma vistoria, a Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores, que estava acompanhada do Sindicato dos Médicos e da Defensoria Pública da União no Rio. Nos últimos dois meses, a crise se agravou e, agora, a unidade tem seis setores importantes fora de atividade por causa do déficit de profissionais. Pelos cálculos repassados aos integrantes da comissão, esse número passa de cem.
Salas de cirurgia estão fechadas
Na próxima segunda-feira, médicos e funcionários farão uma paralisação para protestar contra os problemas no Cardoso Fontes, que fica às margens da Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá e numa região estratégica para os Jogos Olímpicos de 2016. Na quinta-feira, a bem equipada emergência pediátrica, com seis leitos, se encontrava vazia, apesar da procura constante de mães com crianças doentes. O setor fechou as portas no dia 30 de setembro, porque não há pediatras.
Também estão inoperantes o ambulatório de especialidades pediátricas, seis das sete salas de cirurgia, a enfermaria de cardiologia, seis leitos da unidade coronariana e seis do pós-operatório. Somente na unidade coronariana, há 27 bombas de infusão de medicamento inutilizadas. O setor, de acordo com o presidente da Comissão de Saúde da Câmara, vereador Carlos Eduardo (PSB), teria capacidade para atender, por dia, até 600 crianças. A direção do hospital informou à comissão que seriam necessários 39 pediatras para recolocar a emergência em funcionamento.
A dona de casa Verônica de Souza Liberato tentava na quinta-feira atendimento para seu filho Gabriel, de um ano e dois meses. Eles contou que já haviam dado meia-volta em frente a outros dois hospitais antes de chegar ao Cardoso Fontes. Nesta unidade, a moradora de Jacarepaguá soube de funcionários que ali também não haveria médico para examinar o pequeno Gabriel, com inchaço numa das pernas.
Verônica só conseguiu a consulta por causa da blitz promovida pela Comissão de Saúde, com a qual se deparou no corredor da emergência pediátrica do hospital.
— Chegamos aqui e disseram que não ia ter atendimento. Um funcionário me disse que só me atenderam hoje (quinta-feira) aqui por causa dessa visita. Disseram que, se meu filho piorar, não vai mais ter atendimento. Esse tipo de coisa é um descaso total com a gente — afirmou Verônica.
A dona de casa Ana Maria Gracielle também circulava na quinta-feira pela área do hospital — que possui sete prédios — em busca de atendimento para João Victor, de dois meses. No momento em que a blitz deixava a unidade, Ana Maria, moradora da Cidade de Deus, ainda aguardava consulta para o bebê, com febre alta, falta de ar e tosse.
— Disseram que na emergência pediátrica não tinha médico. Agora, estou rodando o hospital — contou a mãe de João Victor.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde no Rio, o hospital conta hoje com 321 médicos, sendo 235 estatutários e 86 com contratos temporários, além de 1.585 funcionários, sendo 1.341 profissionais de saúde. O total de leitos é de 218. Por mês, segundo a Comissão de Saúde, são feitos 2.500 atendimentos na emergência e 12 mil no ambulatório. O orçamento anual da unidade é de cerca de R$ 50 milhões.
Fonte jornal extra
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