A menina, de cinco meses, sofria de uma doença que afeta o coração. E o quadro de saúde piorou na noite deste domingo (29). A família saiu da cidade de Mocajuba, a 200 km de Belém, em busca de atendimento. Quando Rayssa chegou ao pronto socorro, não havia nenhum cardiologista para examinar a menina. A direção informou que a criança foi avaliada pelos médicos de plantão, mas como o quadro de saúde era grave, logo após a entrada no hospital o bebê morreu.
Veja a reportagem no link abaixo:
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Por Paula Brito – Foi em clima de muita revolta que Maicon Aparecido Soares, de 22 anos, foi sepultado na tarde de ontem. Depois de ficar um mês internado no Hospital Municipal Desembargador Leal Junior a espera de uma cirurgia de reconstituição facial que não aconteceu, o jovem faleceu na manhã de terça-feira depois de uma parada cardíaca. O caso foi denunciado por O Itaboraí no dia 27 de março
O caso vinha revoltando os familiares desde o dia 3 de março, quando o rapaz sofreu um acidente e foi levado ao hospital, com fratura múltipla dos ossos do rosto. O problema teve início quando o secretário de saúde se recusou a pagar a cirurgia. De acordo com a prefeitura, a operação de Maicon não era de caráter de urgência. “Agora realmente não existe mais urgência nenhuma, meu irmão morreu e nada foi resolvido”, disse uma irmã da vítima, que preferiu não se identificar.
Durante o sepultamento, familiares e amigos usavam uma blusa com a foto do rapaz e a frase: “A felicidade foi embora, mas a saudade no nosso peito ainda mora”. Cerca de 150 pessoas estiveram no Cemitério Municipal de Itambi, onde o corpo foi sepultado às 15 horas em meio de muito choro e revolta. Os moradores afirmavam que a culpa era do prefeito e que essa era mais uma vítima de negligência do Hospital Municipal. “Está satisfeito agora senhor prefeito? Esse é mais um inocente que morre por sua culpa!”, gritavam.
Prontuário - O hospital não liberou o laudo médico nem o prontuário do paciente, mas informou aos familiares que Maicon não foi operado porque era diabético e hipertenso. Mas de acordo com os parentes, o rapaz era saudável e todas as doenças informadas foram adquiridas dentro da unidade municipal. A prima Priscila Knupp, de 22 anos, criticou a posição do hospital e classificou a justificativa como mentirosa.
“É um descaso muito grande, Maicon sempre foi um menino saudável e eles estão dizendo que ele tinha diabetes e hipertensão, não é verdade! Ele teve três paradas cardíacas e infecção pulmonar devido à traqueostomia, trombose na perna esquerda e infecção generalizada e eles só descobriram que ele era diabético e hipertenso agora? Isso é um absurdo, qualquer exame de sangue mostraria isso quando ele foi internado. É tudo mentira! No sábado quando fui visitá-lo, ele estava completamente sedado, ele piorou muito lá dentro. Meu primo só sofreu um acidente e foi levado imediatamente para o Leal Jr, toda doença que eles alegarem, foi adquirida lá dentro. Até hoje não liberaram o prontuário, nós vamos ter que entrar na justiça para que isso seja esclarecido”, afirmou.
De acordo com o laudo do IML, Maicon teve septicemia (infecção generalizada) com evolução para estado mórbido. Um dos principais questionamentos da família foi a respeito da demora na liberação do corpo. “Ele morreu às 11 horas de terça-feira e o corpo dele só foi liberado ao meio dia de quarta”, contou o pai, Romeu José Soares, de 48 anos.
Secretaria abandonada
Casos como esse são corriqueiros no município de Itaboraí. Uma das principais justificativas para o caos na saúde pública do município pode ser a troca constante de secretários. Desde a posse de Sérgio Soares, a Secretaria Municipal de Saúde já passou pelas mãos de 13 pessoas diferentes. As reclamações são inúmeras, não é de hoje que O Itaboraí vem mostrando o descaso com os munícipes - que vão de falta de remédio em postos de saúde, à mortes por negligência médica.
“Até quando as pessoas serão tratadas dessa forma? Precisamos equipar melhor os hospitais e secretarias, essa cidade está abandonada. O Maicon não vai voltar, mas podemos salvar outras vidas. No sábado, cinco pacientes morreram por infecção e nós ficamos desesperados. Eles viam a situação e não faziam nada pra ajudar”, disse Priscila.
O atual secretário, que já foi diretor do hospital Leal Jr, até hoje não se pronunciou sobre o caso. Até o fechamento dessa edição nem a Prefeitura nem a Secretaria de Saúde se pronunciaram a respeito da morte de Maicon.
Polícia – O delegado titular da 71ª DP (Itaboraí), Wellington Vieira, já convidou a mãe e parentes de Maicon para comparecerem à delegacia e ajudarem na investigação do caso. Segundo ele, o diretor-médico Abel Martinês e o secretário de Saúde, Luiz Cezar Faria Alonso, serão intimados para dar explicações a respeito do caso. Ainda segundo ele, um inquérito já foi instaurado a situação já está sendo investigada.
“Mais uma vez, tivemos conhecimento do caso através da imprensa e a delegacia já está investigando sinais de negligencia no hospital. Espero os familiares aqui para que possamos descobrir o que aconteceu com o rapaz”, contou.
“Estava tudo pronto, mas não operaram ele”, disse a mãe em entrevista
No dia 27 de março, a reportagem de O Itaboraí esteve no hospital para conversar com a mãe de Maicon, Gislaina Aparecida Knupp Soares. Durante a entrevista a dona de casa de 46 anos contou que o filho não foi operado porque o secretário de Saúde, Luiz Cezar Faria Alonso, não liberou a verba necessária para pagar o material.
Ainda segundo ela, um médico não residente do hospital teria ido até a cidade para tratar do caso. O cirurgião buço-maxilo-facial afirmou que o paciente poderia ser operado, só era necessário o material para a operação. Na época, Gislaina alertou que o caso do filho piorava a cada dia.
“Eles já haviam confirmado tudo, e aí disseram que não poderia operar porque o material não estava disponível por falta de pagamento. Nós precisamos de ajuda urgente, porque a cada dia que passa ele piora. Até agora ninguém me deu uma resposta. O quadro do meu filho se agrava a cada dia que passa”, disse ela na ocasião.
No mesmo dia, a prefeitura informou que o rapaz seria operado na semana seguinte, e que estava recebendo todos os cuidados médicos necessários. Em nota, informaram que “de acordo com o diretor médico do hospital, o caso de Maicon foi enquadrado como cirurgia complementar eletiva (quando o caso não é de urgência ou emergência, ou seja, quando ele não está sob o risco de vida imediato ou sofrimento intenso, podendo ser efetuada em data uma escolhida pelo médico)”. A nota dizia ainda que os familiares não têm acesso a informações do setor administrativo.
“Eles disseram que a família não tem acesso às compras e licitações de remédios, mas isso é mentira. Nós estávamos lá quando o médico bateu na mesa do Dr. Abel e criticou o retorno do material, ele disse que o Maicon já estava pronto para a operação, mas que sem aquele material não haveria condições. Na semana passada eles fizeram outro pedido, mas a empresa terceirizada não quis compactuar com aquela palhaçada”, disse o cunhado, Rafael Silva de Oliveira.