sexta-feira, 13 de abril de 2012

Filha de cineasta morto no Souza Aguiar diz que está montando dossiê sobre atendimento

Taís Mendes Com G1 - O Globo
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RIO - A filha do cineasta húngaro Andreas Palluch, que morreu no Hospital Souza Aguiar, disse ao site G1, nesta quinta-feira, que está montando um dossiê, com todos os documentos sobre o atendimento recebido por seu pai na unidade para entregar à Defensoria Pública ou ao Ministério Público. Uma reportagem exibida na noite desta quarta-feira no "Jornal das Dez", da GloboNews, revelou uma troca de mensagens entre médicos do hospital em que o responsável pelo CTI diz que a família do paciente tem se mostrado muito problemática. Na mensagem, postada em 16 de março, o médico ainda revela que a cirurgia de Palluch, agendada para o dia anterior, precisou ser remarcada para cinco dias depois devido a um erro do fornecedor na entrega do material que seria usado para a sustentar a coluna do paciente.
- A primeira questão é a Justiça. Depois, vou lutar para que isso não aconteça com outros brasileiros. Meu pai estava no Brasil há 60 anos e amava isso aqui. Foi muito angustiante, foi sofrido demais acompanhar tudo o que aconteceu com ele. Ter que ver meu pai padecendo daquela forma - afirmou Andrea.
Sobre uma possível medida ação na Justiça contra a prefeitura ou contra o hospital, Andrea Palluch contou que vai ter um encontro na segunda-feira com a Associação de Vítimas de Erros Médicos para decidir que medidas devem ser adotadas. De acordo com Andrea, logo depois que o pai chegou ao hospital, médicos da neurocirurgia teriam dito que ele precisava ser operado em, no máximo, 48 horas. No entanto, Andreas só passou por uma cirurgia em 20 de março, quase um mês após a internação. Por acreditar que as informações sobre o estado de saúde do pai não eram repassadas à família de forma adequada, Andrea resolveu acionar a Defensoria Pública para garantir o acesso ao prontuário do pai.
- Na capa do prontuário que eu tenho, o próprio hospital menciona que está entregando o documento conforme determinado pela Defensoria.
A filha do fotógrafo também afirma que, em vários momentos durante a internação, observou procedimentos inadequados com relação ao paciente. De acordo com Andrea, no dia em que o pai sofreu uma parada respiratória e precisou ser encaminhado na enfermaria para o CTI do Souza Aguiar teve que esperar muito e só teria conseguido após acionar amigos.
- Meu pai teve uma parada respiratória, em função da pneumonia que ele adquiriu no hospital, às15h e só às 23h que ele foi levado para o CTI. E isso só aconteceu porque mobilizei amigos que conhecem pessoas lá - lamenta Andrea.
Cremerj abre sindicância
A presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Márcia Rosa de Araujo, afirmou, nesta quinta-feira, que a família do cineasta será convidada para conversar com os representantes do conselho. Ela disse que vai abrir uma sindicância para apurar as denúncias de irregularidades constatadas na troca de e-mails entre os médicos que revelou, além das mazelas enfrentadas pelos profissionais, como a falta de material e de pessoal, os erros ocorridos durante cirurgias, a reserva de leitos e até a recusa de pacientes em estado grave oriundos das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). Segundo a presidente do Cremerj, os médicos serão chamados para prestar esclarecimentos.



A reportagem exibida na noite da quarta-feira no "Jornal das Dez" foi feita pelos repórteres Rafael Coimbra e Antônia Martinho. Eles chegaram aos e-mails quando faziam uma reportagem do caso do cineasta, que levou uma gravata durante uma assalto, na Lapa, na sexta-feira de carnaval, 17 de fevereiro, e morreu 47 dias depois no Souza Aguiar. Andrea Palluch disse que o pai foi levado para o hospital por um policial, mas não foi feito um boletim de ocorrência. Ele teria chegado lúcido e andando normalmente.
O fórum de discussão pela internet foi criado em fevereiro de 2010 para tratar assuntos do CTI. As conversas, no entanto, deveriam ficar restrita ao grupo — que tinha 32 participantes —, mas por um erro estava disponível na internet até segunda-feira. Na terça-feira, o material já tinha sido removido.
Em outra troca de mensagens, o responsável pelo CTI pede aos médicos que sejam criteriosos na escolha do paciente a ser internado. O médico, que não quis gravar entrevista, diz no e-mail que a recomendação é para que as vagas sejam preenchidas rapidamente para evitar transferências externas, na maioria dos casos de pacientes em estado grave e moribundos removidos das UPAs.
Casos de imperícia também são relatados. Num deles, um médico fala da falta de enfermeiros e informa que tem uma doença infecciosa, mas o isolamento não é feito da forma adequado, com risco de disseminação. Em outro, o profissional chama a atenção para um objeto metálico esquecido dentro do corpo de um paciente. Ele ressalta que, felizmente, nas palavras dele, o descuido tinha sido descoberto antes de o corpo seguir para o IML, evitando que o Souza Aguiar fosse questionado.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/filha-de-cineasta-morto-no-souza-aguiar-diz-que-esta-montando-dossie-sobre-atendimento-4626742.html#ixzz1rxk22f6t

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