quinta-feira, 15 de março de 2012

Imagens mostram dificuldades nos atendimentos do Samu

Quando a questão é matemática, a solução é fácil. Mas quando é questão de saúde, o problema fica difícil de ser resolvido. São Paulo tem 11 milhões de habitantes. E 120 ambulâncias do Samu, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
Em todo o Brasil, há casos assim. E que ficam mais graves com ambulâncias quebradas, falta de médicos, falta de infraestrutura. Nossos repórteres acompanharam o trabalho dos socorristas e constataram: o serviço criado para salvar vidas não dá conta de atender a demanda.
Em São Luís, um aposentado morreu depois que o socorro foi negado por quatro vezes.
Em São Paulo, policiais militares fizeram o parto de uma mulher que não conseguiu uma ambulância.
Veja os flagrantes impressionantes:
Saímos rumo à sede da Samu em São Paulo, mas nem precisamos chegar lá. Na Marginal Pinheiros, encontramos uma equipe no meio de um atendimento.
O acidente deixou dois motoqueiros caídos no chão com ferimentos leves.
“Ele está equilibrado, está fora de perigo”, disse a enfermeira.
“São mais contusões, escoriações, mas a gente está aguardando outro resgate para levar, porque são duas vítimas”, informou um médico.
Vemos um nó. Uma equipe com três socorristas do Samu. Uma vitima já estável dentro da ambulância, já poderia partir para o hospital. Mas falta uma segunda ambulância para a segunda vítima. O Samu não tem unidade de resgate disponível. Foi pedido apoio para o Corpo de Bombeiros.
Eram 18h, pico do trânsito. E a ambulância vinha de longe.
Finalmente chega o resgate, 30 minutos depois do registro da ocorrência.
Com o motoqueiro já imobilizado, a remoção é rápida. Achamos que tudo estava resolvido.
Mas enquanto acontecia o atendimento do Samu, os curiosos causam outro acidente. Uma freada brusca. É muito comum acontecer um segundo acidente durante o atendimento de uma primeira ocorrência. E aconteceu. Diante da equipe de socorristas.
Com a ajuda da companhia de tráfego, os paramédicos seguram o trânsito e fazem o primeiro atendimento ali mesmo, no meio da pista. O caso preocupa a equipe.
“Ela está estável, mas a contusão dele foi mais grave. Ele voou e bateu a cabeça e coluna cervical no chão”, conta o socorrista. Ele diz que a prioridade será dada ao caso mais grave. “Os recursos são sempre menos que adequados a demanda”, diz.
Vai um, enquanto o outro espera uma terceira ambulância.
São 120 viaturas do Samu e 40 do Corpo De Bombeiros para todo o município de São Paulo. Com mil e quinhentos quilômetros quadrados e mais de 11 milhões de habitantes.
Em Salvador, o cenário é pior. A cidade tem menos ambulâncias do que determina o Ministério da Saúde. Pelo menos 22 quebradas. E cinco novas à espera de equipes de socorro.
“Hoje, infelizmente, tem ocorrência que nós levamos 30, 40 minutos para chegar ao local”, afirma o presidente do sindicato da Samu da Bahia.
Na periferia de São Luís, a morte de um pedreiro virou caso de polícia. O Ministério Público estadual do Maranhão investiga a denúncia de omissão de socorro. A família diz ter feito quatro ligações para o Samu, sem que nenhuma ambulância fosse mandada.
Só em São Paulo, a central do Samu recebe nove mil ligações por dia.
Esta semana, o caso de uma mulher em trabalho de parto não foi tratado como prioridade. O bebê nasceu pelas mãos de dois policiais militares. E o Samu chegou apenas para remover mãe e filho para a maternidade.
“Quando chegou a solicitação, ela tinha começado a ter as contrações há pouco tempo e não estava ainda de dez em dez minutos. Então, seria o início de um trabalho de parto. Precisa de ambulância, mas não imediatamente”, argumenta Gustavo Guilherme Kuhlmann, coordenador médico do Samu-SP.
“Eu tenho que estabelecer as prioridades que o sistema me estabelece para poder mandar primeiro os recursos para os casos mais graves”, completa.
Uma escolha difícil.
O Samu é coordenado pelo Ministério sa Saúde, mas quem gerencia o trabalho são as secretarias municipais ou estaduais de saúde, dependendo da cidade.
Em nota, o ministério disse que metade da verba vem do Governo Federal e metade dos governos locais. A nota também informa que o ministério doa ambulâncias e repassa recursos mensais para ajudar no custeio do serviço.
Hoje o país conta com 2009 ambulâncias e 101 motos em operação pelo Samu. Como vimos, não têm sido suficientes.

Correção: No texto publicado às 8h02, dissemos que São Paulo tem um milhão e meio de quilômetros quadrados. Na verdade, são mil e quinhentos quilômetros quadrados, como no texto corrigido, às 8h23.
Veja a reportagem na íntegra no link abaixo:
http://glo.bo/yqauKH

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