domingo, 18 de março de 2012

Hospital Lourenço Jorge acaba de perder cirurgiões vasculares. Unidade já não tinha especialistas em tórax e cérebro

Superlotação na emergência do Hospital Lourenço Jorge
Superlotação na emergência do Hospital Lourenço JorgeFoto: Emanuel Alencar / Agência O Globo/10.10.2011
Flávia Junqueira
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A emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, recebe, em média, sete baleados e 350 acidentados ao mês. A unidade, que fica nas proximidades de uma via expressa, atende vítimas de trauma 24 horas por dia. A despeito disso, os cinco cirurgiões vasculares da unidade foram demitidos — eles eram funcionários da Fiotec, organização social que gerencia projetos com a Secretaria municipal de Saúde. Há cerca de um ano, os cirurgiões torácicos também foram retirados do hospital, que nunca teve serviço de neurocirurgia.
— A emergência do Lourenço Jorge recebe vítimas de acidentes de vias de alta velocidade. Seria obrigatório ter cirurgia vascular, torácica e neurocirurgia. Estamos falando de emergências. São eventos que não podem esperar a chegada de uma ambulância, as intercorrências do trânsito e a disponibilidade de equipe em outro hospital. O fato é que todos os hospitais estão sobrecarregados. É uma irresponsabilidade do secretário de Saúde — diz o médico Pablo Vazquez, coordenador da Comissão de Saúde Pública do Cremerj.
O médico, que trabalha no Hospital Souza Aguiar, alerta que a maior parte das equipes de plantão na unidade do Centro não tem cirurgião vascular.
Hoje, os casos de neurocirurgia precisam ser encaminhados ao Miguel Couto, arriscando-se a agravar as sequelas e a vida do paciente. Em 29 de novembro do ano passado, um senhor de 72 anos deu entrada na emergência do Lourenço Jorge com traumatismo crânio-encefálico e no tórax. A equipe acionou a central de regulação para tentar a transferência para um hospital com neurocirurgião. Tarde demais. O paciente morreu às 23h41 daquela terça-feira.
— Estou cansado de ver pessoas morrendo e ficando sequeladas por motivos totalmente evitáveis — desabafa um médico do Lourenço Jorge, que prefere não se identificar.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, afirma que os plantões na unidade ficaram restritos a cirurgia geral e ortopedia para casos cirúrgicos.
A Secretaria municipal de Saúde alega que se baseou num estudo de demanda feito em parceria com a Fiotec para fazer o "remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda".
Em nota, a secretaria informou que, em 2011, o Lourenço Jorge realizou nove cirurgias de emergência do aparelho circulatório, o que inclui as cirurgias vasculares. O livro de ocorrências dos plantões do serviço — agora extinto — mostra que 41 cirurgias foram feitas no ano passado, entre contenção de sangramentos em artérias de grande porte e amputações de pacientes com membros gangrenados, a maioria diabéticos descompensados.
— Não são traumas, mas são emergências. Sem a cirurgia, a pessoa morre — alerta o médico do Lourenço Jorge.
A nota da secretaria informa que, segundo o diretor do hospital, “o atendimento a diabéticos representa a maior parte da demanda clínica, porém, a quantidade de casos com necessidade de procedimentos cirúrgicos é pequena”. Os casos de trauma, que incluem acidentes, quedas e agressões, representaram cerca de 21% da demanda do hospital, e não são necessariamente cirúrgicos, completa a secretaria, acrescentando que os cirurgiões vasculares e torácicos foram remanejados para unidades com maior demanda.
A secretaria afirma que o Lourenço Jorge conta com suporte do Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, e está ampliando o atendimento na região da Barra, por meio de convênio com o hospital da Universidade Gama Filho — antiga Clínica São Bernardo, na Avenida das Américas. “A unidade conveniada atende pacientes eletivos transferidos do Lourenço Jorge, em especialidades como cirurgia geral, vascular, neurocirurgia e urologia”, diz a secretaria.
Em seu site na internet, a Gama Filho informa, no entanto, que “para maio, estarão abertos ao público os centros nefrológico, cardiológico, cirúrgico e de terapia intensiva”.

Leia a nota da Secretaria municipal de Saúde na íntegra:
“A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil informa que está ampliando o serviço de atendimento de diversas especialidades na região da Barra da Tijuca, por meio de convênio com o hospital da Universidade Gama Filho. A unidade conveniada atende pacientes eletivos transferidos do Hospital Municipal Lourenço Jorge, via SUS, em especialidades como cirurgia geral, vascular, neurocirurgia e urologia, entre outros, enquanto a unidade da Prefeitura continua atendendo a todas especialidades de emergência, conforme seu perfil. Além disso, a SMSDC ampliará a capacidade da emergência do hospital Lourenço Jorge com a contratação de profissionais, por concurso público em fase de conclusão. Serão convocados 1.700 médicos para toda a rede.
A rede municipal de saúde e as unidades conveniadas trabalham de forma integrada, visando otimizar os recursos existentes nos hospitais. Desta forma, e de acordo com estudo de demanda feito em parceria com a Fiocruz, por meio da Fiotec, houve remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda. Em 2011, o Hospital Lourenço Jorge realizou nove cirurgias de emergência do aparelho circulatório, o que inclui as cirurgias vasculares.
A região conta, ainda, com uma unidade de pronto atendimento (UPA) na Cidade de Deus, que recebe casos de menor gravidade, e com suporte do Hospital Municipal Miguel Couto, que fica a cerca de 16 quilômetros, e oferece serviços de referência em diversas especialidades, dando apoio ao Hospital Lourenço.
O Hospital Municipal Lourenço Jorge recebeu no ano passado, mensalmente, 7 baleados e 350 acidentados de todas as naturezas (colisão, queda de moto, atropelamento etc). Os atendimentos clínicos/ambulatoriais responderam por 79% dos registros da unidade em 2011. Os casos de trauma, que incluem acidentes, quedas, agressões etc, representaram cerca de 21% da demanda do hospital, e não são necessariamente cirúrgicos. Há pouca variação do atendimento em função do dia da semana.
De acordo com o diretor do hospital, o atendimento a diabéticos representa a maior parte da demanda clínica, porém, a quantidade de casos com necessidade de procedimentos cirúrgicos é pequena. Conforme informado, houve remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda, de acordo com estudo de demanda feito em parceria com a Fiocruz, por meio da Fiotec.
O Hospital Municipal Lourenço Jorge nunca ofereceu serviço de neurocirurgia desde sua abertura. A unidade trabalha de forma integrada a hospitais de referência da rede, como o Hospital Miguel Couto. A unidade Core (Centro de Operações Regional de Emergência) que será aberta funcionará de forma independente ao hospital, como uma unidade avançada, dando apoio às emergências clínicas.”


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/hospital-lourenco-jorge-acaba-de-perder-cirurgioes-vasculares-unidade-ja-nao-tinha-especialistas-em-torax-cerebro-4337351.html#ixzz1pWFv56Q3

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