RIO — O neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que faltou ao plantão do último Natal no Hospital Salgado Filho, no Méier, deixando Adrielly dos Santos Vieira, de 10 anos, vítima de bala perdida, esperando oito horas por uma cirurgia, vai responder agora por estelionato e falsidade ideológica. Ele é acusado de contratar médicos para dar plantão em seu lugar no Salgado Filho. Segundo a delegada da Delegacia Fazendária (Delfaz), Izabela Rodrigues Santoni, que indiciou o médico, as penas somadas podem chegar a dez anos de reclusão. Adão já tinha sido indiciado por omissão de socorro.
Adrielly morreu 11 dias depois de ser baleada. Além de Adão Gonçalves, também foram indiciados por crimes contra a administração pública o neurocirurgião que o substituía nos plantão anteriores, Francisco Doutel de Andrade, o diretor do Salgado Filho, Conrado Weber, e outros cinco médicos.
— O diretor do hospital tem livre acesso à escala de plantão. Em seu depoimento, ele alegou que não tinha conhecimento das ausências de Adão Gonçalves, não recebendo qualquer documentação referente às faltas. Mas ele se contradisse quando contou que determinou ao chefe da especialidade que fizesse o lançamento das faltas eventuais. Isso significa dizer que ele tinha absoluta ciência das ausências. Logo, deveria ter tomado providências. Ele foi omisso — afirmou a delegada, que já investiga outros médicos da rede pública que também burlam as escalas de plantão, lesando a administração pública. Há casos, segundo Izabela, de profissionais não concursados assumirem os plantões.
Francisco Doutel foi indiciado por estelionato, enquanto o diretor do Salgado Filho e os outros cinco médicos, por condescendência criminosa, ou seja, por se omitirem ao não responsabilizar um subordinado.
— Houve crimes nos mais variados escalões hierárquicos, além daqueles mais evidentes dos médicos Adão e Doutel. O que se verificou foi a verdadeira terceirização ilegal de cargo público. Trata-se de uma substituição permanente, ao longo de três anos, na qual Adão conseguiu manter o cargo público, o título e até a futura aposentadoria. Os demais delitos foram evidenciados diante da absurda inércia daqueles que deveriam adotar providências para coibir tais práticas — disse a delegada.
Segundo o delegado Luiz Archimedes, titular da 23ª DP (Méier), o inquérito em que o médico Adão Gonçalves foi indiciado por omissão de socorro foi enviado ao Ministério Público estadual e retornou à delegacia esta semana. A promotoria exigiu que fosse apresentado um laudo do IML para definir se a demora no atendimento a Adrielly contribuiu para sua morte.
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