sábado, 26 de janeiro de 2013

Grampo mostra que Marca repetiu no Rio o mesmo esquema de Caxias

Guilherme Amado
 
A empresa Associação Marca, acusada de participar de um esquema de fraudes na área de saúde em Duque de Caxias, recebeu R$ 37 milhões da Prefeitura do Rio, durante dois anos, para administrar a UPA de Senador Camará. Em uma ação civil que corre em segredo de Justiça, o Ministério Público do Rio investiga se os recursos destinados à UPA também foram desviados, a exemplo do que ocorreu em Caxias e em Natal, capital do Rio Grande do Norte.
Uma interceptação telefônica feita com autorização judicial pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP-RN), obtida pelo EXTRA, mostra que a Marca montou no Rio um esquema semelhante ao que lhe permitiu desviar recursos nas outras cidades. A Secretaria de Saúde afirmou que o contrato com a Marca está "em fase de finalização".
Tanto em Natal quanto em Caxias, os promotores descobriram que a Marca, terceirizada pelas prefeituras para administrar unidades de saúde, firmava contratos com outras empresas que pertenciam às mesmas pessoas que, por meio de laranjas, controlam a Marca - Rosimar Bravo de Oliveira, Antônio Carlos de Oliveira e Tufi Soares Meres. Tufi é apontado como o chefe da organização.
Ao subcontratar empresas de que eles mesmos são donos, o objetivo do grupo, segundo os promotores, era apresentar notas falsas e desviar dinheiro público.
"... trata-se de um grupo criminoso, que através da Marca e de outras empresas satélites, desviam dinheiro público, mediante inserção de despesas fictícias nas prestações de contas", escreveram os promotores do Rio Grande do Norte.
Em um dos grampos da investigação, Rose conversa com Ana Schneider, subsecretária de Saúde do Rio, e admite que a empresa Health Solutions é subcontratada pela Marca. De acordo com as investigações, a Health também é controlada por Tufi, por meio de laranjas.
Ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, a Marca confirmou ter contratado a Health Solution para operar o software da UPA de Senador Camará.
Sem dizer quais, prefeitura diz saber de ‘falhas’
Segundo a Secretaria de Saúde do Rio, a subsecretária Ana Schneider e a funcionária Aila - embora seja uma funcionária pública, seu sobrenome não foi divulgado - apenas queriam conhecer o programa de computador usado pela Marca na UPA. No grampo, Ana diz que o objetivo seria testá-lo para outras UPAs. A secretaria afirma que a ideia não foi à frente.
"Desde as primeiras denúncias envolvendo a Organização Social Marca, na cidade de Natal, a prefeitura iniciou um processo de apuração sobre a sua atuação, o que resultou no posterior descredenciamento da organização social. (...) Além disso, relatório do Tribunal de Contas, realizado a pedido da própria Prefeitura do Rio, apontou falhas na prestação de contas da Marca na UPA de Senador Camará", disse, em nota, a secretaria, sem especificar o que foi descoberto pelas apurações.
Apesar disso, a Marca afirmou que a prefeitura pediu renovação "por mais 30 dias, até que o novo processo licitatório seja concluído e a nova OS possa assumir a gestão desta UPA". A Secretaria de Saúde não respondeu quando a UPA será reaberta.
UPA fechada por falta de médicos
Quem procurou ontem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Senador Camará encontrou as portas fechadas. Faltavam médicos.
O motorista Marcelo Cruz, de 35 anos, passou mal no trabalho, e deixou o ônibus na garagem para procurar a UPA de Bangu. Como também não encontrou médico lá, foi a Senador Camará:
- O segurança disse que os médicos tinham faltado. Cheguei por volta das 16h. Mandaram que eu voltasse às 19h para a troca de plantão. Depois me orientaram a ir à UPA de Campo Grande. Decidi voltar mais tarde a Bangu. É lamentável isso.
O comerciante Alex da Costa Melo, de 38 anos, também não conseguiu atendimento para o filho de 2 anos. Ele foi à unidade de Senador Camará com a mulher e os dois filhos, mas só conseguiu atendimento em Realengo:
- Meu filho estava com 39 graus de febre e vômito. Quando disseram que não tinha médico, fiquei indignado. Era garganta inflamada.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o custo mensal de manutenção de cada UPA de Nível 3 é de cerca de R$ 1 milhão mensais.
Igepp: Caxias não pagava integralmente
O Instituto de Gestão em Políticas Públicas, que geria o Hospital Municipal Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, informou em nota que o contrato com o município de Duque de Caxias, iniciado em outubro de 2011, previa o repasse total de R$ 149 milhões até 30 de setembro de 2013, período de vigência do contrato, mas que até janeiro de 2013, recebeu menos de 50%. O instituto informou também que o pagamento mensal, de R$ 6,2 milhões, nunca foi pago integralmente.
Os grampos
O Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP-RN) fez interceptações telefônicas com autorização judicial nos telefones de Rosimar Gomes Bravo e Oliveira, a Rose Bravo, uma das responsáveis pela Associação Marca.

Em 29 de junho de 2011, às 10h24m, Ana Schneider, subsecretária de Saúde da cidade do Rio, liga para Rose e pergunta sobre o programa de computador usado na UPA de Senador Camará.


No mesmo dia, às 12h26m, Aila, funcionária da Secretaria de Saúde do Rio, liga para Rose e pergunta se o sistema já está funcionando na UPA.


Às 14h16, Rose liga para uma funcionária da Marca, chamada Patrícia, e conta o que conversou com Aila e com Ana Schneider.
Colaboraram: Antero Gomes e Cíntia Cruz

Fonte:Jornal extra on-line

Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/grampo-mostra-que-marca-repetiu-no-rio-mesmo-esquema-de-caxias-7403556.html#ixzz2J6XnA1nD

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