quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Macas que faltam em emergência sobram em necrotério em hospital da zona oeste do Rio


Hieros Vasconcelos



A falta de macas para receber pacientes nas unidades de saúde públicas do Rio provocou ontem uma situação inusitada no Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande. Lá, a situação é tão dramática que chega a faltar colchões para pôr em cima dos leitos improvisados. Por conta disso, pelo menos dez macas estão amontoadas ao lado do necrotério do hospital, servindo apenas para transportar corpos de pacientes.



O EXTRA esteve na unidade e constatou o problema, confirmado por funcionários que preferiram não ser identificados. As macas amontoadas encontram-se enferrujadas, sujas e com restos de esparadrapos. Em outro canto do hospital, próximo à cantina, mais desses equipamentos se misturam a aparelhos quebrados. Lá, uma ambulância aguardou uma hora para ter a maca devolvida.



Presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Jorge Darze lembra que a realidade do Rocha Faria se repete em todas as emergências da cidade e é um reflexo do “caos na saúde pública do estado”.



— Em qualquer emergência tem esse problema. Estão superlotadas. Mas a falta de colchões leva você a perceber a que ponto chegamos — diz Jorge Darze.



A deficiência prejudica o atendimento feito pelas ambulâncias. Um enfermeiro do Samu ouvido pelo EXTRA ficou quatro horas parado porque a maca da ambulância ficou presa, ontem, das 8h às 14h30m, no Hospital Estadual Carlos Chagas.



— Acontece isso também com a prancha rígida e com colares cervicais. Precisamos de todos instrumentos. A ambulância fica horas retida à espera da devolução e não temos como realizar atendimentos na rua — afirma o enfermeiro.



A Secretaria estadual de Saúde negou a falta das macas, também constatada pela Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores. Em nota, a secretaria afirma que “com a demanda aumentada, seja de forma espontânea, seja pelo Samu, em determinados momentos não há leitos imediatamente disponíveis para a acomodação do paciente trazido pela ambulância. A orientação é que ele fique na maca da ambulância até que o leito seja disponibilizado, no menor espaço de tempo possível. Ressaltamos que o problema é registrado, em sua maioria, nos dias em que a frequência da chegada de ambulâncias é maior".


Fonte :Jornal extra


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/macas-que-faltam-em-emergencia-sobram-em-necroterio-de-hospital-na-zona-oeste-do-rio-2847269.html#ixzz0UVtuomFc



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Planos ignoram pressão para diminuir cesáreas

Nove em cada dez partos feitos por planos de saúde são cesáreas


Brasil ainda não sabe como reduzir quantidade de cesarianas e tentativas feitas até agora foram em vão. Prática só cresce no país. Tentativas feitas até agora foram em vão. Número de partos feitos desse modo só cresce no país

As mulheres com plano de saúde ajudam a elevar o índice de cesáreas no Brasil. O país tem uma das maiores taxas de parto cesariano do mundo, com atualmente 45%. Enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS) 40% dos nascimentos são via cesáreas, na saúde suplementar este índice mais do que dobra, chegando a 90%.

Desde 2005, quando se descobriu que as mulheres com plano de saúde em quase sua totalidade faziam cesarianas, o governo federal e as entidades médicas se uniram para pressionar as operadoras a reduzir as taxas. Passados seis anos, pouca coisa mudou e, o pior, o Brasil até agora não sabe ao certo em qual frente deve trabalhar para reverter a situação, já que os fatores de escolha pelo parto cesáreo são múltiplos.

A ideia de que parto era algo para ser feito nos hospitais foi copiada dos Estados Unidos, mas lá as taxas de cesarianas chegam a 27%, bem inferiores ao Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere uma taxa de parto cesáreo de 25% para cada país. Com o intuito de acabar com as altas taxas, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febras­­go), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outras entidades médicas fizeram uma pesquisa com 3 mil médicos para tentar mapear as motivações pela escolha da cesariana e, assim, combatê-las. A pesquisa só será divulgada em novembro, mas, em entrevista, as entidades já adiantam alguns fatores observados.

Motivos

A questão mais óbvia desta diferença é que as atendidas pelos planos de saúde podem escolher livremente o parto que querem ter, e elas preferem o cesáreo por diversos fatores: pela comodidade, pela falsa ideia de que dói menos (na verdade, a recuperação da cesariana é bem mais dolorida), por medo de o parto normal machucar o bebê (se for feito corretamente, é inverídico) e, atualmente, pela violência urbana e a possibilidade de não haver vagas nas maternidades.

“Nas grandes cidades, mulheres e médicos têm preferido marcar a cesárea para evitar a surpresa de um parto normal na madrugada, colocando em risco o médico, a parturiente e o bebê, pois podem ser assaltados no trajeto até a maternidade”, ex­­plica a médica Lucila Nagata, membro da comissão de mortalidade materna da Federação Brasileira das Associa­­ções de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Além disso, o agendamento acaba sendo a garantia de que a mulher vai ter o filho no lugar escolhido previamente.

Indução

A grande reclamação das mulheres, porém, é de que os médicos induzem ao parto cesáreo. Elas dizem que os médicos fazem isso devido à cesariana ser mais cômoda para eles, afinal, este parto dura cerca de duas horas enquanto um parto normal pode durar 12 horas.

“Sempre quis ter normal, cheguei a entrar em trabalho de parto e o médico, no hospital, me disse que eu não tinha dilatação. Ele me pegou em um momento de fragilidade e afirmou que teria de ser cesárea pelo bem do bebê. Acabei cedendo, mas foi frustrante”, afirma a farmacêutica Halline Queiroz, que tem duas meninas, a Julia e a Laura.

A Julia nasceu de cesariana e a Laura de parto normal. “Na segunda vez, mudei de médico e ele me provou que o parto normal era possível. Ele derrubou o mito de que mulher que tem o primeiro filho de cesárea vai ter de fazer cesariana sempre”, conta.

Prematuridade aumenta e bebês vão para UTIs

O problema da escolha pela cesariana é cultural, segundo a gerente-geral de regulação assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar, Marta Oliveira. Para ela, não basta pressionar os planos de saúde para reduzir as taxas, “a mulher precisa aceitar o parto normal.”

Marta chama a atenção para o fato de as cesarianas serem literalmente agendadas, ou seja, a mulher nem chega a entrar em trabalho de parto e o bebê, por isso, acaba nascendo imaturo (com o pulmão ainda com líquido). “Se tivéssemos 90% de partos cesáreos e estivesse tudo bem, sem problemas. A questão é que temos a prematuridade aumentando e muitos bebês ficando em UTIs. Este tipo de consequência nos preocupa”, diz.

Mitos

Conheça algumas crenças sobre o parto normal que não são comprovadas pela Medicina:

Há muita perda de sangue

Na realidade, na cesariana se perde muito mais sangue.

A dor é muito forte

Na hora da cirurgia da cesárea a mulher não sente dor devido à anestesia, mas a recuperação é bem mais complicada e dolorida.

O bebê se machuca

Pelo contrário: a passagem pelo canal vaginal ajuda a criança a expelir os últimos líquidos, inclusive do pulmão, e isso evita a síndrome de angústia respiratória.

A relação é pior

Na cesárea, muitas vezes, o bebê vai para a incubadora. Segundo médicos, isso é extremamente prejudicial na relação da mãe com o filho. No parto normal o bebê é colocado imediatamente no peito da mãe para criar o vínculo maternal.

Reduz a libido

Ao contrário do que se acredita, o parto normal não diminui a libido.

Levantamento

Dinheiro gasto com cesarianas poderia ir para outras áreas

O Ministério da Saúde tem pesquisas que mostram o quanto de dinheiro foi usado desnecessariamente com cesarianas, mas os dados são internos e não podem ser divulgados à imprensa. A economista Tabi Thuler Santos, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais, defendeu recentemente uma dissertação onde trabalhou o tema Evidências de indução de demanda por parto cesáreo no Brasil e chegou à conclusão de que “há dinheiro gasto com cesáreas que poderia ser usado para investimento em outras áreas”. O custo de um parto normal pelo Sistema Único de Saúde é de R$ 291 e a cesariana custa cerca de R$ 402. O valor, no privado, pode variar conforme a operadora do plano.

“A cesariana é um procedimento cirúrgico que às vezes demanda UTI e antibióticos: é um problema de saúde e econômico”, diz. Tabi revisou a literatura e chegou a dois dados interessantes: o primeiro é a crença (errada) de que a mulher que tem o primeiro parto de cesariana precisa fazer os outros do mesmo modo. “Um estudo de São Paulo de 2002 revelou que 95% das mulheres com mais de um parto fizeram cesariana no segundo ou nos outros porque já haviam passado uma vez pela cirurgia”, diz. Outro dado, de 2009 (Rio de Janeiro), é de que apenas 37% das cesáreas no período foram uma escolha exclusiva da mulher, ou seja, a interferência do médico é grande.

O outro lado

Plano de saúde adere à campanha

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou uma campanha intitulada Parto Normal está no meu plano com o intuito de incentivar as mulheres com planos de saúde a não optar pela cesariana. A reportagem entrou em contato com a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde) e a União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) para saber qual o posicionamento das operadoras de planos de saúde sobre os altos índices de cesarianas na saúde suplementar. A única que atendeu à reportagem foi a Unidas.

Por e-mail, ela respondeu que faz pesquisas (está na 12ª edição) para verificar a adesão à cesariana e que tem percebido as altas taxas, por isso aderiu à campanha da ANS. Sobre os motivos das altas taxas, afirmou que é um problema cultural e o fato de os riscos da cesariana não serem levados em conta. A presidente da Unidas, Denise Rodrigues Eloi de Brito, ressalta que não há culpados pelas altas taxas de cesariana, afinal, “hoje o custo dela é equivalente ao do parto normal e, às vezes, até maior.” (Pollianna Milan - Gazeta do Povo-15.10)

Lesão estética: Hospital e médico são condenados

Justiça condena Hospital Santa Helena e médico por mamoplastia malsucedida


A STJ (Superior Tribunal de Justiça) manteve a condenação do Hospital e Maternidade Santa Helena e do médico responsável por cirúrgia de redução de seios malsucedida. A indenização estipulada em R$ 11.050,00 foi concedida a uma paciente que ficou com um seio maior que outro e retração em um dos mamilos, além de cicatrizes visíveis.

A sentença negou os pedidos da paciente, sob o argumento de que “as complicações sofridas pela autora devem ser consideradas como provenientes de caso fortuito, a excluir a responsabilidade dos réus”.

A paciente apelou e o TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) (TJMG) declarou a existência do dano moral, arbitrando a indenização em R$ 11.050,00.

“Em se tratando de cirurgia plástica, em que se comprovou ser de natureza reparadora e estética, a obrigação assumida pelo profissional é de resultado. Não tendo sido cumprido, de forma adequada, o dever de informação ao paciente, que deve ser exaustiva, a culpa é evidente, uma vez que agiu o profissional com negligência. A lesão estética é causadora de danos morais, razão pela qual a indenização é devida”, decidiu o TJ-MG.

O hospital, o médico e a paciente interpuseram embargos de declaração. Os do estabelecimento foram acolhidos para reconhecer a solidariedade entre os réus, no que se refere ao pagamento de indenização; os da paciente também foram acolhidos, para condenar os réus ao pagamento de indenização por danos materiais, consistente no pagamento de cirurgia reparadora à paciente, a ser realizada por outro profissional, observado o limite de R$ 10 mil. Já os embargos interpostos pelo médico foram rejeitados.

No STJ, a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, não fez nenhum reparo no valor fixado a título de indenização por danos morais e materiais. Além disso, a ministra não viu como afastar a responsabilidade do médico pelo resultado final da cirurgia a que fora submetida a paciente.

“Não cabe dúvida de que, do ponto de vista reparador, a intervenção alcançou a finalidade esperada, eliminando as dores que assolavam a paciente. Porém, do ponto de vista estético – em relação ao qual a obrigação do médico é de resultado –, a cirurgia nem de longe cumpriu com as expectativas, deixando a paciente com um seio maior do que o outro, com cicatrizes grosseiras e visíveis e com retração de um dos mamilos”, afirmou a ministra. (Última Instância)

Dentista aposentado atuava como médico

Santos - Preso em flagrante sob a acusação de cometer os crimes de exercício ilegal da medicina e falsificação de documento particular na clínica Harmonia Vital, em Santos, M.J.K., de 59 anos, foi contemplado com a liberdade provisória, mediante o pagamento de fiança.


O alvará de soltura foi cumprido na cadeia anexa ao 5º Distrito Policial de Santos por volta das 17 horas de terça-feira (11/10). Pela manhã, familiares pagaram fiança de seis salários mínimos (equivalente a R$ 3.270,00) estipulada pela juíza Silvana Amneris Rôlo Pereira Borges, da 6ª Vara Criminal de Santos.

O pedido de liberdade provisória foi requerido pelo advogado Armando de Mattos Júnior. Ele argumentou que o cliente é primário, possui residência fixa, tem nível superior, sendo formado em odontologia, e compromete-se a comparecer a todos os atos processuais para os quais for intimado.

Pesquisa criminal do acusado feita na Delegacia de Investigações Gerais de Santos revelou que ele tem duas passagens pela polícia na década de 80, em Mogi das Cruzes, por tráfico de drogas e cárcere privado. Porém, como não registra condenação, é tecnicamente primário.

A prisão em flagrante do réu aconteceu na quinta-feira (6/10) da semana passada. Para checar informações de que ele exercia ilegalmente a medicina, uma policial foi até a sua clínica, na Avenida Floriano Peixoto, e disse que pretendia fazer tratamento para emagrecer. O acusado prescreveu para a falsa paciente medicamentos de uso controlado, emitindo receituário e atestado médico. Ambos os documentos foram assinados e carimbados pelo acusado, que usou o nome e o número de inscrição no Conselho Regional de Medicina (CRM) do filho, que é médico.

Segundo o acusado, o filho mora em Jundiaí e não sabia do uso indevido de seus dados. Ele ainda disse que se aposentou como dentista devido a problemas psiquiátricos. Apesar de solto, ele continua sendo investigado e será processado criminalmente. Para reunir mais provas contra o falso médico, o delegado Marcelo Gonçalves da Silva intimou cerca de dez pessoas. Ele pretende concluir o inquérito policial e remetê-la à Justiça. Eventuais depoimentos tomados após essa data serão enviados posteriormente ao Judiciário por ofício.

A conduta do acusado foi considerada “gravíssima” pelo delegado. Em receitas recolhidas no consultório são prescritas substâncias que podem causar dependência física e psíquica. Recibos de pagamentos de consultas e até atestado médico com data futura também foram apreendidos. (Eduardo Velozo Fuccia - Consultor Jurídico)

SP: Fraudes e gambiarras na saúde

Se a Prefeitura de São Paulo executar a promessa de exigir que todos os médicos cumpram os plantões à risca, o sistema público de saúde entra em colapso.


Na barafunda que constitui a escala dos serviços municipais, é preciso distinguir entre as fraudes propriamente ditas, nas quais funcionários-fantasmas recebem sem trabalhar, e as gambiarras, que são as soluções informais encontradas pelos gestores para lidar com um sistema engessado e pouco funcional.

O problema está no fato de que o serviço público no Brasil é composto por diversas camadas geológicas de servidores, o que inviabiliza uma política salarial consistente.

Em parte, a culpa é dos políticos. Cada administrador que entra tenta criar uma marca eleitoral. Para isso, concebe um programa qualquer (AMAs, AMEs, PSF, Samu, UPAs, há vários alfabetos deles) e, a fim de fazê-lo funcionar direitinho, contrata a soldo generoso os médicos que nele trabalharão. Os demais salários, é claro, ficam como estavam. O resultado, que contraria os princípios mais elementares da administração, é que o poder público passa a concorrer consigo mesmo.

Em São Paulo, por exemplo, as AMAs pagam cerca de R$ 3.500 mensais por 12 horas semanais. Já um plantonista de UTI ou sala de emergência, função muito mais estratégica, recebe, pela tabela, mais ou menos o mesmo montante, mas para uma jornada de 24 horas.

Para atrair profissionais para esses postos-chave e manter os hospitais funcionando, gestores se valem de todo tipo de expedientes irregulares. Oferecem pagamento dobrado (recebe por 24, mas trabalha 12), plantões extras e outras medidas que resultam em escalas irreais.

Nessa balbúrdia, perde-se quase inteiramente o controle sobre quem trabalha ou não, e as fraudes se diluem nas incoerências do sistema. Ganham os fraudadores e os administradores que os patrocinam. (HÉLIO SCHWARTSMAN - Folha de S.Paulo-15.10)

SP: Colírio queima olhos de bebê em hospital

Família diz que medicamento foi aplicado em excesso e estava errado, pois tinha concentração acima da recomendada


Recém-nascido passou por duas cirurgias após a falha, mas pode ter sequelas na visão, segundo médicos

Um recém-nascido teve os olhos queimados após uma enfermeira aplicar colírio lo­go depois do parto, no Hospital do Servidor Público Mu­nicipal (na região central de São Paulo), na última quarta-feira. A criança corre o risco de ter a visão prejudicada.

Segundo familiares do be­bê, além de o colírio ter sido aplicado em excesso, a me­dicação estava errada, pois tinha concentração acima da recomendada.

De acordo com os pais da criança, o hospital informou que foi usado um medica­mento à base de nitrato de prata. Esse tipo de colírio previne a bactéria que causa gonorreia -doença sexualmente trans­missível- e deve ser aplicada em todo recém-nascido, com concentração de 1%.

Logo após receber o colírio, a criança ficou com os olhos bastante inchados e roxos.

O músico Samuel Alves da Silva, 23, pai do bebê, diz que o médico do hospital afirmou que houve falha da equipe.

"Eu estava na sala acompanhando o parto e presenciei que as en­fermeiras se excederam quando colocaram a subs­tância. Uma delas comentou com a outra que tinha colo­cado demais e tentaram lim­par o excesso com uma ga­ze", conta.

No mesmo dia, o bebê foi transferido para o Hospital São Paulo, onde passou por duas cirurgias para lavagem e raspagem dos olhos.

"O bebê ficou chorando desde que recebeu o colírio. Só tomaram providências em relação ao erro horas depois, quando teve a troca de equi­pe no hospital", disse Silva.

A mãe do bebê, Maiara Cu­nha, 19, está revoltada. "É um erro que não pode acontecer com ninguém."

Os médicos ainda não sabem a gravidade das sequelas.

Segundo a oftalmo­logista Denise de Freitas, do Hospital São Paulo, o colírio provocou uma alteração química nos olhos do bebê. Para ela, a criança pode ter a vi­são afetada, mas ainda é ce­do para avaliar. O excesso de medicação ou a concentra­ção superior pode ter causado o problema.

Os pais registraram ontem um boletim de ocorrência no 5º DP (Aclimação) contra o hospital.

Profissionais foram afastados, afirma Secretaria de Saúde

A Secretaria Municipal da Saúde informou que afastou todos os profissionais envolvidos no atendimento do recém-nascido.

Foi criada uma comissão para apurar a responsabilidade do ocorrido.

A direção do Hospital do Servidor Público Municipal disse que está à disposição dos familiares, para todos os esclarecimentos solicitados, e que já conversou com o pai.

De acordo com o Hospital São Paulo, foram feitas duas intervenções no bebê para retirar o produto dos olhos e ele passa bem.

Na próxima segunda-feira será feito um novo procedimento para avaliar os danos causados na visão, informou o hospital.

De acordo com a oftalmologista Denise de Freitas, que acompanha a criança, a queimadura pode provocar sequelas na visa do bebê. Ainda não há previsão de alta hospitalar do bebê. (TATIANA SANTIAGO E FABIANA CAMBRICOLI - Folha de S.Paulo-15.10)

RJ: Drama na sala de cirurgia

Obra que ficou inacabada em unidade do estado deixa hospital municipal superlotado em Itaboraí


A falta de pelo menos mais um centro cirúrgico tem se tornado um drama para os moradores de Itaboraí que precisam ser operados. Os 228.996 habitantes contam com apenas uma unidade pública com centro cirúrgico para atender a demanda: o Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior, inaugurado em 1992. Sobrecarregado de pacientes, o hospital acumula queixas da população por causa das longas filas e da demora no atendimento.

— Minha irmã já precisou fazer uma cirurgia por causa de um acidente de carro e teve que ir pra São Gonçalo. É uma falta de respeito com o morador de Itaboraí — reclama a doméstica Maria José Evangelisa, 47 anos.

Em 2004, a então governadora Rosinha Garotinho inaugurou o Hospital Estadual João Batista Cáffaro com a promessa de um centro cirúrgico. Oito anos depois, a promessa continua sendo dívida, conforme foi denunciado na coluna Extra, Extra, da jornalista Berenice Seara, na edição de ontem.

Segundo a secretaria de Saúde do estado, no local só havia iluminação e mesas cirúrgicas. A atual gestão, então, traçou um perfil da região e constatou a necessidade de uma UTI.

Transferências

"A unidade dispõe de uma sala de trauma, onde o paciente recebe os primeiros-socorros, é estabilizado e encaminhado para os hospitais estaduais de referência da região, que podem ser o Azevedo Lima ou o Alberto Torres, ambos com centro cirúrgico", diz em nota a secretaria. Os hospitais ficam em Niterói e em São Gonçalo, respectivamente.

Segundo o secretário de saúde de Itaboraí, César Alonso, o único centro cirúrgico do município atende a 20 pessoas por dia (600 por mês).

— O hospital municipal não suporta essa sobrecarga. Estamos numa situação desesperadora em relação assistência médica — afirma. Ele acrescenta ainda que passam diariamente pela unidade 600 pessoas, quase o dobro do suportado.

— Aqui no municipal sabemos que tem médico. E aí o pessoal vem direto para cá — relata a cozinheira Dorinei Maria da Conceição. (Hieros Vasconcelos - Extra Online)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Policiais depõem sobre morte de grávida

Terça-Feira, 18/10/2011, 07:54:

Os policiais que acompanharam a triste trajetória da jovem Vanessa Xavier da Cruz vão depor nesta terça-feira, às 9h, na Divisão de Investigação e Operações Especiais (DIOE), na Cidade Velha. Vanessa , 26 anos, morreu na última sexta-feira, dia 14, grávida de sete meses, depois de não conseguir atendimento no Pronto-Socorro Municipal do Guamá. Ela chegou a ser levada à Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu.A expectativa é que os policiais possam esclarecer a versão de que foi negado atendimento à jovem. Segundo os policiais que escoltaram a jovem ao hospital, a demora e a falta de atendimento no Pronto-Socorro teriam provocado a morte da mãe e do bebê.Além dos portões fechados do posto de saúde, os policiais e o companheiro de Vanessa, que não quer se identificar, dizem que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado várias vezes, sem resposta, e que, por isso, Vanessa foi conduzida ao Pronto-Socorro do Guamá pela viatura policial.Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) diz que abriu processo administrativo para apurar o caso junto aos funcionários que estavam de plantão no hospital durante o ocorrido, mas informa que também entrou com representação junto à corregedoria da polícia militar a respeito das alegações feitas pelos policiais sobre o caso em questão. Segundo a Sesma, diferente do que dizem os policiais, não houve tempo de a paciente ser atendida pela médica plantonista, uma vez que a viatura não aguardou a ida da médica até o carro. Segundo relatos dos funcionários, enquanto a técnica de enfermagem se encaminhou ao consultório para chamar a médica, a viatura saiu do hospital com a paciente.O delegado titular da Dioe, Rogério Almeida, informa que os profissionais de saúde já foram intimados e devem depor na próxima sexta-feira, dia 21.A MORTEVanessa Elaine Xavier da Cruz, de 26 anos, grávida de aproximadamente 20 semanas, faleceu na madrugada de sexta-feira (14), após tentar dar entrada no Hospital de Pronto-Socorro Humberto Maradei Pereira, no bairro do Guamá. Policiais que a escoltaram alegam que não foi feito atendimento. (Diário do Pará)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O dia do Médico

O Movimento Basta com Erros Médicos,parabeniza a todos os profissionais dedicados,que estão na profissão por vocação,que valorizam o bem mais precioso que temos que é a vida,nós do movimento sempre estaremos do lado dos bons.Para estes sempre lutaremos por melhores condições de trabalho e salariais.Quanto aos maus profissionais,lembraremos aqui o juramento de Hipocrates,pois acho que esqueceram!Não vamos deixar que destruam uma das profissões mais bonitas que é a medicina.Basta com profissionais despreparados!!!

domingo, 16 de outubro de 2011

Investigação de 1987 diz que pacientes morreram após retirada de órgãos. Médicos negam ter forjado morte encefálica; júri será em 2011

Após 23 anos, quatro médicos acusados de matar quatro pacientes em Taubaté, no interior de São Paulo, como parte de um suposto esquema de tráfico de órgãos humanos deverão ser julgados em 2011. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, o júri popular poderá ocorrer ainda no primeiro semestre do próximo ano, no Fórum Central da cidade.




A demora para o julgamento se deu por conta da investigação policial, que levou mais de dez anos para ser concluída, além do fato de os réus estarem em liberdade e as defesas deles terem entrado com diversos recursos na tentativa de anular o processo. Segundo o TJ-SP, no entanto, os pedidos foram negados e já não cabem mais recursos.



As mortes ocorreram em 1986. Uma equipe médica da Faculdade de Medicina de Taubaté que usava o extinto Hospital Santa Isabel de Clínicas (Hosic), onde atualmente está localizado o Hospital Regional de Taubaté, é suspeita dos crimes. Como hoje, na época a instituição era popular, mas atendia convênios médicos particulares. O fato, porém, só se tornou público no ano seguinte após revelação feita pelo médico Roosevelt Kalume, então diretor da mesma faculdade. Ele havia procurado o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) em 1987 para informar que um programa ilegal de retirada de rins de cadáveres para doação e transplantes acontecia sem o seu conhecimento e aval.



Procurado pelo G1, o Cremesp informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o caso foi decidido em recurso pelo Conselho Federal de Medicina em Brasília (CFM-DF). A assessoria do conselho não se pronunciou até quarta-feira (22). Documentos obtidos pela reportagem mostram que os quatro médicos réus foram absolvidos das acusações de tráfico de órgãos e eutanásia nos procedimentos administrativos e éticos do Cremesp, em 1988, e do CFM, em 1993.



Decisão do CRM absolveu médicos (Arte/G1)

Apesar da decisão daquela época, Kalume não se calou. O programa de transplantes era tido como parte de um suposto convênio entre a faculdade de medicina da Universidade de Taubaté (Unitau) e o Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Mas, segundo o então diretor, esse acordo jamais existiu. "Eu era o diretor da faculdade e esse programa [de transplantes] era feito por médicos subordinados administrativamente a mim e eu não sabia do programa e quando eu tomei conhecimento eu fiquei com medo", diz Kalume, que está com 63 anos.



Procurada nesta semana, a Universidade de Taubaté informou que "não se pronunciará sobre esse assunto". A assessoria de imprensa da superintendência do HC da USP não respondeu aos questionamentos da reportagem feitos por e-mail e telefone.



Médium pedia para família doar rim

Voltando aos anos 80, Kalume também tinha dito que a equipe médica envolvida falsificava diagnósticos de morte encefálica para convencer as famílias dos pacientes a autorizar a retirada dos órgãos. Em alguns casos, continua o denunciante, uma espécie de médium foi apresentado pelos médicos aos parentes para dizer que havia entrado em contato com o morto no plano espiritual e ele havia pedido para os familiares autorizarem a retirada de seus rins. "Era um programa de retirada de órgãos de pacientes comatosos [em estado de coma] para mandar para clínicas particulares de São Paulo", diz Kalume.



Mas, segundo Kalume, o fato mais grave nessa história toda é que os pacientes estavam vivos, e não mortos. "Os pacientes tinham os órgãos retirados, mas eles tinham fluxo cerebral. Eles não estavam enquadrados no conceito de morte cerebral ou no conceito de cadáver. Radiografias revelaram que havia atividade cerebral", diz o médico. "Em outras palavras, eles morreram porque tiveram esses órgãos retirados."



Segundo o CFM, morte encefálica e morte cerebral são sinônimos. Apesar de os anos 80 não terem tido uma legislação específica para transplantes de rins no país, o recomendado era seguir as normas da Associação Médica Mundial. Ela determinava a retirada de órgãos de pacientes com morte encefálica (sem atividade cerebral e sem respiração natural).



"O meu interesse maior, pessoal, é o mesmo que eu tinha há 24 anos. Pode? Pode fazer o que foi feito aqui em Taubaté? Mesmo dentro da legislação atual, mesmo dentro da legislação vigente. Mesmo dentro das determinações do Código de Ética, que já foram modificadas, depois desse episódio. Essa resposta quem vai dar é a Justiça. Se a Justiça achar que pode, então ela vai consagrar que pode tirar órgãos de pacientes sem estar em morte cerebral", diz Kalume, que, por conta das acusações, foi afastado do cargo de diretor da faculdade na época. Atualmente, trabalha como cirurgião de tórax no Hospital Geral de Taubaté.



Caso Kalume, a CPI e a enfermeira

Na época, o assunto ficou conhecido nacionalmente e a imprensa o tratou como caso Kalume, em referência ao sobrenome do denunciante. O escândalo culminou com a abertura de inquérito policial em 1987 e até virou alvo em 2003 da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava a atuação de organizações criminosas atuantes no tráfico de órgãos no Brasil. Um dos depoimentos mais marcantes em Brasília foi o de uma enfermeira que contou ter visto um paciente ter os órgãos retirados enquanto se debatia na mesa de cirurgia. A mulher também disse que um médico pegou o bisturi, enfiou no peito do homem e ele morreu.



"Lembro que eles avisaram que ia entrar uma cirurgia. De urgência. Eu trabalhava no centro cirúrgico. E a gente preparou a sala. Eu e uma outra amiga. Falaram que era um rapaz que tinha sido atropelado. Quando entrou o paciente, ele estava com a cabeça toda enfaixada. Eu até pensei que fosse uma cirurgia de crânio. Aquela correria de uma cirurgia quando vai começar e o paciente muito agitado. Ele não parava de se debater. O paciente superagitado. Eu pensava que fosse uma cirurgia de crânio e, no fim, foi tão estranho, eles fizeram uma cirurgia... Tiraram os dois rins do paciente e logo já mandaram a minha colega de sala, pegar uma caixa assim de plástico, uma espécie de reservatório, uma caixa reserva para transportar", contou ao G1.



"Ele colocou os dois rins ali dentro, muito bravo. E saiu com os dois rins, mas o paciente ainda continuava vivo. O paciente se debatia muito porque a anestesia que ele tomou não pegou. Aí ele [o médico Pedro Henrique Torrecillas] pegou... Ah, meu pai. Ele pegou um bisturi e deu um pique, um pique praticamente no meio do peito. O paciente parou de se mexer, nós levamos ele para a UTI. E aí encerrou. Nós ficamos só no comentário depois", disse a ex-enfermeira, de 56 anos.



Lei dos transplantes



Livro do médico Roosevelt Kalume (Foto:

Reprodução/G1)

Além disso, o caso em Taubaté ajudou na discussão a respeito da elaboração da atual lei que trata sobre a regulamentação dos transplantes de órgãos no país até hoje. Segundo o CFM, a lei é a 9.434, de 1997. Em 1993, Kalume chegou a publicar um livro sobre o caso. Para narrar os fatos, ele usou nomes diferentes dos personagens da vida real. "Transplante", no entanto, deixou de ser publicado. Apesar disso, a obra também faz parte do processo contra os médicos.



Já em 1996, após quase dez anos de investigação, a Polícia Civil de Taubaté concluiu o inquérito que responsabilizou quatro médicos pelas mortes de quatro pacientes. Apesar de o Cremesp e o CFM absolverem os quatro médicos das acusações, a polícia afirmou que o laudo do Instituto Médico-Legal (IML) atestava que os pacientes estavam vivos quando tiveram os órgãos retirados. A retirada de órgãos para transplantes foi apontada como motivação do crime. Apesar disso, a suspeita de tráfico envolvendo comércio ilegal de rins jamais foi comprovada. Quanto ao destino dos órgãos, é incerto até hoje.



"Tratava-se de um caso extremamente complexo que ia demandar um longo tempo, o que de fato ocorreu. Esse inquérito tramitou durante dez anos. Eu tive que procurar as provas subjetivas, ou seja, as provas testemunhais, e também as provas periciais. Então tive que contar com o Instituto Médico-Legal [IML] de São Paulo, Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Nós tentamos, no inquérito policial, verificar se houve comércio desses órgãos. Não foi possível a gente determinar isso daí. Mas concluímos que houve homicídio doloso, ou seja, homicídio intencional. Eles assumiram o risco de produzir o resultado. Logicamente se eu retirar os seus dois rins, eu estou assumindo um risco de determinar sua morte", disse o delegado Roberto Martins de Barros, de 66 anos, delegado titular do 1º Distrito Policial de Taubaté, em 1987, e atualmente titular da delegacia do idoso em São José dos Campos.



Segundo o delegado, caso sejam condenados, os médicos poderão pegar penas de 6 a 20 anos de reclusão.



Mesmo sem a confirmação do destino dos órgãos retirados dos pacientes em Taubaté, o Ministério Público denunciou em 1996 os neurocirurgiões Mariano Fiore Júnior e Aurélio de Carvalho Monteiro, o nefrologista Pedro Henrique Masjuan Torrecillas e o urulogista Rui Noronha Sacramento por homicídio doloso dos pacientes José Miguel da Silva, Alex da Silva, Irani Gobo e José Faria Carneiro.



Depois, a Justiça pronunciou os acusados que passaram a ser réus no processo. Todos sempre alegaram inocência e disseram que exames de arteriografia comprovaram que os pacientes estavam clinicamente mortos, em coma irreversível ou morte encefálica.



Acusação

Em entrevista ao G1, o promotor Luiz Marcelo Negrini disse que os médicos assumiram o risco de matar os quatro pacientes que haviam dado entrada no Pronto-Socorro do antigo Hospital Santa Isabel com suspeita de traumatismo craniano. Além disso, afirmou, a equipe praticou desvio de conduta ética e moral.



Para conseguir a autorização da família de um paciente para doação de rins, a equipe médica se utilizou de um método pouco ortodoxo, segundo o promotor. "Parentes de uma vítima relataram que uma médium, uma espírita, havia entrado em contato com aquela pessoa que havia acabado de morrer. E o morto teria dito para ela no plano espiritual que a família deveria autorizar a doação de seus órgãos. Pode parecer absurdo, mas isso foi feito. A família autorizou a doação", afirmou o promotor.



De acordo com Negrini, a convicção da Promotoria de que os médicos cometeram assassinatos é amparada pela denúncia de Kalume, depoimentos de familiares das vítimas e enfermeiros, além de provas técnicas.



"Era constatada essa morte cerebral e imediatamente era feito contato com os familiares das vítimas, comunicando aquela situação e pedindo autorização para que tivessem os órgãos transplantados ou retirados para um futuro transplante. Os familiares, certamente chocados com a notícia da morte do seu familiar, concordavam. Esses órgãos eram retirados e encaminhados para São Paulo. Só que posteriormente ficou comprovado que muitas dessas vítimas não apresentavam esse estado de morte cerebral. Então, elas ainda apresentavam atividade cerebral", afirmou o promotor Negrini.



Segundo ele, a atividade cerebral pôde ser verificada por meio das radiografias dos pacientes. O promotor também rebateu a versão da defesa dos réus de que o Cremesp e o CFM absolveram os médicos.



"Em exames que foram recolhidos e fazem parte do processo consta que essas vítimas ainda apresentavam atividade cerebral. São arteriografias, exames semelhantes que mostravam que essas vítimas ainda apresentavam atividade cerebral. Nem sempre o que o Cremesp e o que o CFM decidem é levado em conta na acusação. O promotor e o juiz não são médicos. Os laudos que temos são de peritos médicos do IML."



A respeito do suposto médium que procurava as famílias dos pacientes para pedir a autorização da doação de órgãos, Negrini afirmou que ouviu isso de familiares. "Mas nada foi comprovado posteriormente."



Filha de paciente

O G1 falou com a parente de um dos pacientes mortos. Atualmente com 39 anos, ela pediu para não ser identificada, mas relatou o que ocorreu em 1986 com seu pai.



"Eu era adolescente e fui avisada que meu pai tinha sofrido um aneurisma cerebral. Um quadro que foi dito para a família que era irreversível. Foi feito o pedido da doação dos órgãos, dos rins, né? Do meu pai. E eles [médicos] chegaram em comum acordo que iriam doar sim os rins dele. E na época, assim, apesar de eu ser nova, jovenzinha, eu senti que tinha assim uma pressão que tinha que decidir rápido. Tinha que tomar uma decisão rápida, que eles tinham pressa", disse a filha de uma das vítimas. "Uma morte cerebral. Foi constatada morte cerebral. Morte cerebral é irreversível, né? Eu fiquei na porta do centro cirúrgico. Eu vi quando saiu a caixinha do órgão dele."



A expectativa de todos que estão envolvidos é de ter um desfecho de toda essa história. De a verdade realmente prevalecer e que seja feita a justiça"Filha de paciente morto

Em relação ao julgamento do caso Kalume em 2011, a mulher, que também é uma das testemunhas da acusação, disse que está ansiosa. "A expectativa de todos que estão envolvidos é de ter um desfecho de toda essa história. De a verdade realmente prevalecer e que seja feita a justiça."



Outro lado

O G1 procurou os quatro médicos réus no processo de homicídio contra os quatro pacientes para comentar as acusações. Todos se defenderam, seja pessoalmente ou por meio de seus advogados. Disseram que havia um programa de transplante, sim, mas que os rins eram retirados de pacientes com morte encefálica e mediante autorização das famílias deles. Alegaram ainda serem inocentes dos crimes. Disseram que o Conselho Regional de Medicina os considerou inocentes das acusações e que tiveram prejuízos na carreira profissional e na vida pessoal por conta do que chamaram de acusações mentirosas.



"Ficou comprovado que [os pacientes] estavam em morte encefálica. Estavam mortos. Se os indivíduos estavam mortos, não tem como eu ser acusado de uma coisa, se eles estavam mortos. O que eu fiz...a minha participação foi no diagnóstico da morte encefálica", disse o neurocirurgião Mariano Fiore Júnior, de 62 anos.



A respeito do julgamento, Fiore Júnior disse que aguarda somente ser absolvido pelos jurados. "Eu espero ser considerado inocente, né? Já que eu fui envolvido numa situação na qual eu não acho justa porque eu só fiz o diagnóstico da morte encefálica. Não participei de retirada de órgãos, não sei fazer isso, não entrei no centro cirúrgico, não tive contato com enfermagem de centro cirúrgico, não sei de nada disso. Isso daí foi a equipe de doação. A minha função era fazer o diagnóstico. Minha função como plantonista era fazer o diagnóstico da morte encefálica. E escrever e dizer para o médico intensivista: ‘está em morte encefálica'. Ele ou alguém do hospital comunicava a equipe de captação de órgãos que fazia... Eu não fazia parte da equipe de captação de órgãos. Desconheço a razão dessa acusação de envolvimento na morte encefálica porque eu não fiz... Eu só fiz o diagnóstico da morte encefálica", afirmou.



O urologista Rui Noronha Sacramento, de 60 anos, também rebateu as acusações do Ministério Público. "Em primeiro lugar, é uma mentira a acusação. Em segundo, eu há 36 anos sou médico para cuidar da vida das pessoas e para melhorar a vida delas. Nunca agi contra a vida em nenhum momento da minha carreira. Na equipe que há vinte e tantos anos, na cidade de Taubaté, realizou retiradas de rim, nefrectomias de cadáver para transplante renal, e que realizou transplante renal na cidade de Taubaté e em outras cidades lá, eu era o cirurgião responsável pela retirada do órgão e pela colocação nos outros pacientes que precisavam do transplante. Nunca foi feita retirada de órgão de paciente que tivesse o menor sinal de vida", disse.



O advogado João Romeu Correa Goffi, que defende Rui Sacramento, o nefrologista Pedro Henrique Masjuan Torrecillas e o neurocirurgião Aurélio de Carvalho Monteiro, também afirmou que seus clientes são inocentes das acusações.



"Esses rapazes [médicos] estão sendo injustiçados, profundamente injustiçados. Quando foram feitas as retiradas dos rins, não estavam somente eles, equipe de transplante, presentes na sala. Havia estudantes de medicina, anestesistas, havia um grande corpo clínico, pessoas que se interessavam em conhecer o procedimento. Então, como num contexto desse pode ter havido algo tão grotesco? Eles disseram que pelo que foi apresentado a eles, não dava para afirmar que os pacientes estavam mortos. Só que nós alegamos que houve manipulação de documentos. Havia um convênio entre a equipe daqui e a polícia para fazer esse serviço. E depois com o Exército. A aeronave do Exército fazia o transporte desses órgãos para São Paulo. Era uma coisa totalmente pública", disse o advogado Correa Goffi.



O G1 entrou em contato com a Polícia Rodoviária Federal em São Paulo e com o Exército, com sede na capital paulista, para comentar o assunto.



O departamento de comunicação da Polícia Rodoviária Federal disse desconhecer o transporte de órgãos humanos nos anos 80.



"Não é uma prática comum, corriqueira. Nem o transporte nem a escolta para o transporte. Se existir uma eventual solicitação, essa solicitação tem de ser devidamente documentada e oficiada. A polícia informa ainda que desconhece transporte de órgãos na década de 80. Os policiais têm treinamento de resgate, primeiros-socorros, e não transporte de um órgão humano. Nenhum policial rodoviário está autorizado a transportar órgãos", informou o departamento de comunicação.



O Exército divulgou nota na qual nega que tenha auxiliado no transporte de órgãos de Taubaté a São Paulo. "Considerando que o primeiro voo com origem na Base Aérea de Taubaté ocorreu em abril de 1989, a Força não possui registros anteriores a esta data", informou a nota.





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