Na planilha de leitos da enfermaria do setor de ortopedia do Hospital do Andaraí, a precariedade em que se encontra a rede federal no Rio fica estampada. Dos 12 leitos, seis trazem, no lugar do nome do paciente, o registro “cama quebrada” ou “cama quebrada e sem colchão”. O diagnóstico: “sem manivela”, “ausência de suporte de grade”, “manivela não funciona”. Enquanto esses leitos permanecem fechados, camas e colchões novos estão encaixotados em salas e corredores do prédio, e 1.158 pessoas aguardam na fila por uma cirurgia. De acordo com levantamento feito em dezembro pela Defensoria Pública da União, há pacientes que esperam ser chamados para a operação desde 2008.
De acordo com o defensor público federal Daniel Macedo, que ajuizou uma ação civil pública contra a União, o Estado e o Município do Rio no último dia 7, à carência de material, medicamentos e equipamentos soma-se a falta de profissionais de saúde. Só no Andaraí, para o adequado atendimento dos pacientes, é preciso contratar pelo menos 129 médicos, segundo a própria unidade.
É o que sonha a empregada doméstica Nilzeir Correia Rodrigues, de 51 anos. Moradora de Campo Grande, na Zona Oeste, ela tenta há cinco anos fazer uma cirurgia ginecológica:
— Tenho um mioma muito grande e preciso tirar o útero e fazer correção do períneo. Sofro de incontinência urinária e, todo mês, tenho sangramentos que duram de 15 a 20 dias. Já estive no Hospital do Fundão, mas cancelaram todas as cirurgias por falta de material. Na Fernando Magalhães, cheguei a fazer risco cirúrgico, mas como não tinha urologista, cancelaram a cirurgia. Depois, fui para o Hospital do Andaraí, onde também fiz risco cirúrgico em janeiro do ano passado. Lá, disseram que falta um material para a cirurgia de períneo. Agora, procurei um posto de saúde e me encaminharam para o Hospital de Ipanema. Tenho vontade de chorar, de gritar. É angustiante não conseguir resolver um problema tão simples — diz Nilzeir, que pensa em desistir de procurar atendimento. — Seja o que Deus quiser. Se tivesse que morrer, já teria morrido.
Visita realizada pelo Sindicato dos Médicos no último fim de semana ao Hospital do Andaraí flagrou pelo menos 20 camas e colchões sem uso armazenados em corredores. Segundo médicos da unidade, por causa da falta de macas, uma das enfermarias do setor de ortopedia chegou a ser fechada. Pela estimativa dos profissionais, em todo o hospital, há pelo menos 40 macas em diferentes enfermarias que apresentam defeitos e não podem ser utilizadas.
Para o defensor público Daniel Macedo, o Andaraí é a pior unidade da rede federal, mas a situação não é diferente nos outros cinco hospitais. A ação movida pela Defensoria requer que a União, o estado e o município apresentem, no prazo de 90 dias, um plano concreto de ações para a realização de cirurgias de baixa, média e alta complexidade em 13.851 pacientes que aguardam em filas de espera nos hospitais federais Cardoso Fontes, Andaraí, Lagoa, Ipanema, Servidores do Estado e Bonsucesso.
— Há casos em que a espera já dura dez anos. Isso é inaceitável, uma maldade — diz Macedo.
Na mesma ação, a Defensoria pede que todas as cirurgias sejam realizadas no prazo máximo de um ano.
A direção do Hospital do Andaraí afirma que o setor de ortopedia funciona normalmente e nega que existam macas quebradas em uso na unidade. As macas quebradas serão consertadas após finalização de orçamento. Elas estão fora de uso e guardadas em local apropriado e não representam prejuízo à assistência porque foram substituídas por equipamentos novos.
Ainda segundo a direção do Andaraí, foram compradas 40 camas e colchões no dia 29 de novembro. Esses equipamentos foram entregues no dia 14 de janeiro, sendo que 20 já estão em uso e outras 20 aguardam a finalização de obra para serem instaladas.
Em relação à fila cirúrgica, o Andaraí informou que iniciou em dezembro a convocação dos pacientes que aguardam por cirurgia para a realização de reavaliação médica e agendamento das operações.
Já a Secretaria estadual de Saúde respondeu, em nota, que “todas as unidades estaduais estão apresentando aumento significativo de demanda de pacientes por conta do fechamento de serviços e restrição de atendimento nas emergências dos hospitais federais ao longo dos últimos anos. Desde o início de 2014, com a greve dos servidores federais, a superlotação dos hospitais estaduais é ainda mais evidente, tendo em vista que a Secretaria de Estado de Saúde orienta todas as direções a não recusar atendimento. Cabe lembrar que a interdição da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso já dura mais de um ano e meio e a obra para readequar o setor sequer foi licitada, de acordo com reportagens na imprensa. No entanto, se o Poder Judiciário determinar que os pacientes nos hospitais federais não devem ser atendidos na ampla rede de unidades do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro e terão prioridade em relação aos demais pacientes que aguardam leitos nos hospitais estaduais, independente da gravidade de cada caso, a Secretaria de Estado de Saúde terá que acatar a decisão da Justiça’’.
Já a Secretaria municipal de Saúde afirmou que só vai se manifestar sobre a ação movida pela Defensoria Pública após ser notificada oficialmente. Em nota disse ainda que “vale lembrar que as redes federal, estadual e municipal têm diferentes atribuições no Sistema Único de Saúde. Dentro do seu perfil de atendimento, as unidades da rede de atenção do município realizaram, somente em 2013, 42,3 mil cirurgias, sem contar as obstétricas’’.
Fonte Jornal extra on-line
Fonte Jornal extra on-line
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/no-hospital-do-andarai-ha-camas-quebradas-sem-colchao-denuncia-sindicato-11670435.html#ixzz2u3ZJWAOA
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