sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ambulância vira depósito em hospital de Realengo, onde faltam motoristas no Rio de Janeiro

Ambulância com sinais de abandono vira depósito no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo
Ambulância com sinais de abandono vira depósito no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo Foto: Urbano Erbiste / Extra
Flávia Junqueira e Rafael Soares
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No lugar de pacientes, pneus, rodas, balde e até um cone. Com pneus arriados, a ambulância prefixo 01-3734 do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo, está parada no pátio do hospital e virou depósito. As outras duas que servem a unidade rodam sem descanso, quando há dois motoristas. O que não acontece às quintas e aos sábados durante o dia, quando há apenas um motorista na escala. Sem receber salários há mais de dois meses, os condutores, que são funcionários da empresa Unirio, contratada pela Secretaria estadual de Saúde para atender 18 hospitais da rede, se revezam nos plantões.
- O normal é termos um motorista estatutário e dois ou três da Unirio, dependendo do dia da semana. Mas muitos motoristas estão sem dinheiro até para comer. Estamos trabalhando com um estatutário, que faz plantão de 24 horas, e um da Unirio, que fica das 8h às 17h. Às quintas e aos sábados, durante o dia, não temos estatutário na escala. Nas noites de quinta, um da Unirio cobre o buraco. Se acontecerem duas emergências ao mesmo tempo nesses plantões e após as 17h, não haverá ambulância — diz o funcionário do Albert Schweitzer que pediu para não ter o nome divulgado.
Ambulância com pneus arriados e sinais de abandono no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo
Ambulância com pneus arriados e sinais de abandono no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em RealengoFoto: Urbano Erbiste / EXTRA

A Secretaria estadual de Saúde afirmou que notificou a Unirio em 22 de janeiro e 4 de fevereiro. A Comissão de Fiscalização do órgão fez um relatório detalhado do contrato da empresa com a secretaria para que a Unirio preste esclarecimentos. A secretaria aguarda a defesa da empresa, para avaliar a possibilidade de aplicar punições previstas na lei, como multa e suspensão do direito de contratar com a administração pública.
A reportagem do EXTRA tentou contato com a Unirio, cuja sede fica em Duque de Caxias, mas não houve expediente nesta sexta-feira e os responsáveis pela empresa não retornaram as ligações.
Carro para serviços administrativos está abandonado e com estulhos dentro, no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo
Carro para serviços administrativos está abandonado e com estulhos dentro, no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em RealengoFoto: Urbano Erbiste / Extra

Carro para serviços administrativos vira depósito no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em Realengo
Carro para serviços administrativos vira depósito no pátio do Hospital estadual Albert Schweitzer, em RealengoFoto: Urbano Erbiste / Extra

Um grupo de motoristas de ambulâncias do Hospital Azevedo Lima, em Niterói, denunciou a falta de pagamentos no início desta semana à Procuradoria do Trabalho de Niterói, que orientou os funcionários da Unirio a procurar os representantes da empresa, em Caxias. Lá, contam os motoristas, eles não conseguiram passar do portão de entrada.
Na próxima segunda-feira, o grupo vai à Delegacia do Trabalho de Duque de Caxias para que o Ministério do Trabalho seja acionado.
No Azevedo Lima, viatura sem farol alto

Das três ambulâncias paradas no pátio do Hospital estadual Azevedo Lima, apenas uma está andando, segundo os motoristas da unidade
Das três ambulâncias paradas no pátio do Hospital estadual Azevedo Lima, apenas uma está andando, segundo os motoristas da unidadeFoto: Thiago Lontra / Extra

No Hospital estadual Azevedo Lima, em Niterói, das quatro ambulâncias que servem a unidade, apenas uma está funcionando.
- E ela está sem ar-condicionado e sem farol alto. Tem 12 anos de uso e é um risco circular à noite. Uma viatura está há um ano parada e outra, há cinco meses. Recebemos uma ambulância da UPA do Fonseca, que é mais nova - diz um motorista do Azevedo Lima que pediu para não ter o nome divulgado.
Parada na porta do Hospital estadual Azevedo Lima, a ambulância está quebrada, sem condições de transportar pacientes
Parada na porta do Hospital estadual Azevedo Lima, a ambulância está quebrada, sem condições de transportar pacientesFoto: Thiago Lontra / Extra

Uma das duas únicas ambulâncias em operação no Hospital estadual Azevedo Lima está em péssimas condições: sem ar-condicionado, luz interna, suporte para soro, desfibrilador e até cinto de segurança nas macas
Uma das duas únicas ambulâncias em operação no Hospital estadual Azevedo Lima está em péssimas condições: sem ar-condicionado, luz interna, suporte para soro, desfibrilador e até cinto de segurança nas macasFoto: Flávia Junqueira / Extra

Ontem, após denúncia do EXTRA, o paciente Valdeci Pereira, de 61 anos, que esperava há 13 dias transferência, foi levado para o Hospital Antônio Pedro, também em Niterói, onde realiza exames para ser submetido a uma cirurgia. Ele tem câncer nos rins e na bexiga.
A direção do Azevedo Lima confirma que há duas ambulâncias em operação e três em manutenção, “por problemas distintos, ocorridos em momentos diferentes, que não superam quatro meses”.
O carro para serviços administrativos do Hospital estadual Azevedo Lima está parado atrás de um contêiner, no pátio do hospital: sinais de abandono
O carro para serviços administrativos do Hospital estadual Azevedo Lima está parado atrás de um contêiner, no pátio do hospital: sinais de abandonoFoto: Thiago Lontra / Extra

Cooperativa para pagar os motoristas
A Secretaria estadual de Saúde contratou uma cooperativa para pagar as diárias dos motoristas da Unirio que trabalhassem no período de carnaval, de 8 a 17 de fevereiro. Mas, segundo um motorista do Azevedo Lima, apenas três dos 14 motoristas aderiram:
- A ficha cadastral não foi entregue a todos.
A secretaria diz que descontará da Unirio o valor pago aos motoristas por meio da cooperativa. Em nota, a pasta informou que, no período de carnaval, contratou “profissionais para ocuparem 77 postos de trabalho” a um custo de R$ 48 mil. E acrescentou que “se preciso, caso a empresa continue não honrando seus compromissos trabalhistas, esses prazo e custo podem ser ampliados”.


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