segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sem médicos, Rocha Maia fecha as portas - Rio de Janeiro



Bruna Talarico (bruna.talarico@oglobo.com.br) Tamanho do texto A A A

RIO - O Hospital Municipal Rocha Maia, em Botafogo, foi mais uma vez o expoente da carência de médicos pela qual passa a rede municipal de saúde. Sem médicos, a unidade manteve os portões fechados durante o dia de domingo. Quem tentava atendimento era orientado pelos seguranças a procurar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Botafogo, ou mesmo o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Por telefone, uma funcionária ressaltou que havia apenas um médico no plantão, mas que por falta de equipe, o profissional não estava prestando atendimento.



— O médico não pode trabalhar sozinho — justificou.



Presidente da Associação de Moradores da Lauro Müller e Adjacências (Alma), Abilio Tozini enfatizou que a não prestação de atendimento já não é fato isolado.



O médico não pode trabalhar sozinho— Por conta deste mesmo problema, organizamos manifestações em 2010. Tivemos a promessa do secretário de Saúde de que o hospital teria mais atenção, e recentemente o diretor do hospital disse que teríamos uma surpresa boa. Até agora, nada aconteceu. É um contra-senso, você vai ao Miguel Couto e encontra um ambiente superlotado, enquanto o Rocha Maia tem até uma setor de emergências novo e está de portas fechadas. Não dá pra entender — reclamou Tozini.



Secretaria diz que casos graves foram atendidos

A Secretaria municipal de Saúde informou que, ao contrário do que sustentaram funcionários e vigilantes, foram atendidos casos de maior urgência e que o plantão diurno de domingo teve funcionamento restrito em função da saída recente de profissionais.



Em nota enviada pela Secretaria municipal de Saúde, a unidade informou ainda que “situações de perfil ambulatorial foram encaminhadas para unidades próximas”, e o serviço seria normalizado ainda no domingo. Uma equipe do GLOBO esteve no local, e até as 19h o atendimento não havia sido normalizado.



— A contratação de novos profissionais para a unidade já foi iniciada pela Secretaria Municipal de Saúde. Além disso, a Prefeitura autorizou na última semana a realização de novo concurso público, que oferecerá mais de 2.500 vagas, sendo 1.700 médicos de diversas especialidades — dizia a nota.



O vereador Paulo Pinheiro (PPS), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara, afirmou que está recolhendo assinaturas para a instauração de uma CPI sobre as políticas de recursos humanos na área de saúde pública. Segundo ele, a falta de médicos não é problema exclusivo do Hospital Rocha Maia, e atinge todas as unidades da rede municipal, como o Hospital Municipal Paulino Werneck, na Ilha do Governador — onde, na última semana, um médico que prestava sozinho atendimento se recusou a terminar o plantão.



— Venho denunciando isso há pelo menos seis meses. Existe uma carência brutal de clínicos e pediatras. Estamos solicitando ao secretário, em caráter de urgência, a convocação de um concurso público, mas aliada a implementação de um plano de cargos e salários — apontou Pinheiro.



Segundo ele, o baixo salário de um médico concursado (que não chega aos R$ 2 mil mensais) é um dos maiores fatores para a quebra na política de recursos humanos da rede pública. Já os médicos convocados pela Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec) nos últimos meses, sem relação estatutária, teriam salários que variam entre R$ 7,5 e R$ 15 mil mensais.



— A solução é a modificação na politica de recursos humanos. É preciso plano de cargos e salários, para que a remuneração acompanhe o crescimento profissional dos médicos. Isso hoje não existe hoje na Secretaria municipal de Saúde — denunciou Pinheiro. — Uma saída seria a contratação em caráter de emergência de um grupo de médicos, por tempo determinado, até que os novos concursados assumam seus cargos de fato. O novo concurso acabou de ser autorizado, mas até que estes profissionais sejam absorvidos, vão se passar pelo menos uns 8 meses.



Cremerj: falta de médicos atinge toda a rede municipal

Diretor secretário-geral e coordenador da Comissão de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Pablo Queimadelos faz coro com o vereador Paulo Pinheiro.



— Esta é uma realidade em todos os hospitais da rede pública. Nós já alertamos a Secretaria sobre a necessidade de se organizar um grande concurso público, mas com salários convidativos. A população só está sendo privada de um atendimento melhor porque faltam médicos na rede municipal de saúde, mas não faltam médicos no Rio de Janeiro — enfatizou.



Queimadelos ainda afirmou que, se provado que médicos faltaram ilegalmente ao plantão, eles estarão sujeitos à sindicância do conselho. Por outro lado, se ficar evidente que a causa da falta de atendimento no Rocha Maia se deve à ausência de profissionais na rede municipal, o próprio secretário Hans Dohmann, que também é médico, estará sujeito às sanções previstas no código processual do Cremerj, que vão desde uma advertência até a cassação.




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