Na entrada da UPA de Realengo, o barbeiro André Tenório, de 32 anos, abre uma marmita e dá comida na boca de seu filho Isac, de 3 anos. Sentado num toco de madeira, o menino, com mais de 40 graus de febre, aguarda por atendimento médico desde as 9h, quando chegou com o pai na unidade.
A cena, flagrada pela equipe do EXTRA às 15h desta terça-feira, não é exclusividade da UPA de Realengo: ainda nesta terça, o EXTRA percorreu dez unidades nas zonas Norte, Oeste, Sul, em São Gonçalo e na Baixada e, durante o percurso, se deparou com problemas como falta de equipamento e de médicos e até salas de espera lotadas, com pacientes aguardando até sete horas pelo atendimento.
— Cheguei com meu filho e minha mulher às 9h. O Isac passou a madrugada acordado, com febre. Até agora não comemos nada e não fomos chamados. Por isso, tive que apelar para a solução da quentinha — desabafa André.
A espera de sete horas não é prevista pela Secretaria estadual de Saúde. Segundo Elson Santos de Oliveira, coordenador de atendimento das UPAs, o tempo máximo de espera para atendimento é de três horas, em casos de menor urgência. Em tese, o atendimento é imediato em casos de maior gravidade.
Rainan Bittencourt, de 17 anos, machucou o pé em um acidente de moto na noite da última segunda-feira e precisava de uma radiografia para diagnosticar a lesão. Pouco depois do meio-dia de ontem, entrou, carregado por sua mãe, na UPA de Magalhães Bastos. Cinco minutos depois, saiu: não havia aparelho de raios-X no local. Pouco depois, na unidade de Realengo, nova decepção: Rainan teve de ir ao Hospital estadual Albert Schweitzer para tirar raios-X.
Na UPA do Alemão, o vigilante Fábio Lívio Dire Feliciano, de 36 anos, teve atendimento negado após desmaiar na rua com dores nos rins. Ele foi socorrido por Marco Antônio do Patrocínio, de 40 anos, que passava no local:
— Ele não aguenta andar. Mesmo assim, mandaram procurar o Hospital Getúlio Vargas — queixou-se.
Outros problemas
Na UPA da Penha, o tempo médio de atendimento era de sete horas, na tarde de terça-feira. Já na unidade de Realengo, pacientes aguardavam mais de seis horas por atendimento. Em Bangu, por volta das 18h, dez pacientes desistiram do atendimento por conta da espera de até quatro horas.
Nas UPAs de Magalhães Bastos e Realengo, pacientes que precisavam de radiografia eram aconselhados a procurar o Hospital Albert Schweitzer. Já na UPA de Senador Camará, pacientes reclamavam da falta de medicamentos.
Situação é melhor na Maré e na unidade de Copacabana
Separadas por cinco anos e três meses, as primeira e última Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) estão entre as melhores das 45 abertas. Na Maré, a primeira UPA, inaugurada em maio de 2007, o tempo médio de atendimento, até o início da tarde de terça, foi de duas horas. Havia dois pediatras e três clínicos no plantão, segundo uma funcionária, mas a quantidade de pacientes aumentou o tempo de atendimento. Com febre e dores, a dona de casa Nadja Vasconcelos, de 48 anos, procurou a unidade pouco antes de meio-dia e só saiu às 13h45m:
— Fui bem atendida e o raio-X ficou pronto rápido, mas demorou porque tinha muita gente. Deram até o antibiótico — comentou.
Com cinco clínicos e três pediatras por plantão de 12 horas, e um dentista e um auxiliar por escala de 24, a UPA de Copacabana, na Zona Sul, inaugurada em setembro do ano passado, tem um tempo de atendimento que varia do imediato até três horas, dependendo da classificação do paciente. Mas há quem reclame da demora. A lentidão foi motivo de queixa para a caixa de supermercado Maria Euzébia Gomes, de 54 anos. Com tendinite no braço direito e até dormência, ela chegou ás 8h53m, mas só foi atendida às 11h26m.
— Além da espera devido à falta de funcionários para atender todo mundo, a enfermeira ainda errou a minha veia, na hora de aplicar a injeção, e teve que furar os dois braços. Um absurdo — desabafou ela.
Segundo Elson Santos de Oliveira, coordenador de atendimento das UPAs do governo estadual, um dos fatores que podem ocasionar a demora no atendimento é o deslocamento de médicos que precisam, eventualmente, acompanhar pacientes graves em exames em outras unidades:
— Uma equipe de monitoramento percorre todas as UPAs para detectar o que está fora do esperado. Se houver falta de algum profissional, por exemplo, eles se comunicam com o coordenador da UPA e com a secretaria, em busca de um profissional para suprir essa necessidade. Isso é feito no mesmo dia — explicou Edson.
Secretarias de saúde contestam
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Saúde, a coordenação da UPA informou que a unidade de Realengo trabalhou nesta terça com quadro clínico completo, com cinco clínicos gerais e três pediatras. A coordenação da unidade negou que o equipamento de raios-x não estava funcionando, e afirmou que foram realizados ontem 42 exames com o aparelho.
Ainda segundo a assessoria, a UPA da Colubandê funcionou ontem com quatro clínicos e um pediatra, mas dois profissionais teriam faltado sem aviso prévio. A coordenação informou ainda que a unidade está com dez leitos intensivos e três vermelhos semi-intensivos (que tem os mesmos equipamentos de uma Unidade de Terapia Intensiva) ocupados, o que teria elevado o tempo de atendimento dos pacientes menos graves.
Já segundo a Secretaria municipal de Saúde, a coordenação da UPA Alemão informou que a unidade contou com três médicos, dois dos quais eram pediatras nesta terça. Um clínico do plantão teria pedido demissão. Ainda de acordo com a assessoria, o monitoramento dos serviços prestados pelas unidades é feito por uma comissão de servidores municipais da área técnica.
Veja as notas na íntegra:
Secretaria municipal de Saúde:
“Não houve qualquer mudança recente nos contratos. Todos os profissionais contratados pelas UPAs estão com os pagamentos em dia. O monitoramento dos serviços prestados pelas unidades é feito por uma comissão de servidores municipais da área técnica, com metas específicas a serem alcançadas por este tipo de unidade. O principal problema encontrado hoje é a lotação de profissionais médicos em algumas regiões da cidade. Há uma variação do tempo de espera conforme demanda e quadro clínico do paciente. As UPAs, assim como outras unidades de urgência e emergência, funcionam com política de classificação de risco, em que os casos mais graves têm prioridade de atendimento. Os de menor gravidade são atendidos na sequência, podendo, para esses casos, haver maior tempo de espera. É importante ressaltar que, de 2010 a 2013, as 14 UPAs municipais já realizaram mais de 16 milhões de procedimentos, sendo 1,222 milhão em 2010; 4,267 milhões em 2011; 4,746 milhões em 2012; 6,071 milhões em 2013.”
Secretaria estadual de Saúde:
“UPA PENHA: A coordenação da UPA da Penha informa que não há pediatras na unidade. Desde sua criação, a estratégia de atendimento é que os pacientes infantis são atendidos por pediatras no Hospital Estadual Getúlio Vargas, que fica em frente à unidade. Nesta terça-feira, dia 9 de setembro, a unidade contou com 6 médicos e realizou 404 atendimentos até as 18h.
UPA BANGU: A coordenação da UPA de Bangu informa que a unidade trabalhou hoje com 4 clínicos gerais e 2 pediatras - um pediatra e um clínico faltaram sem aviso prévio e, apesar dos esforços, não foi possível repor os profissionais. Entre os pediatras presentes, um chegou atrasado à unidade, o que prejudicou o atendimento. Foram atendidos nesta terça-feira 245 pacientes. As Unidades de Pronto Atendimentos foram criadas para atender a pacientes de baixa complexidade e, por isso, só contam com clínicos gerais e pediatras.
UPA COLUBANDÊ: A coordenação da UPA informa que a unidade funcionou hoje com 4 clínicos e 2 pediatras - um pediatra e um clínico faltaram sem aviso prévio e, apesar dos esforços, não foi possível repor os profissionais. Foram realizados 354 atendimentos no local. A coordenação informa ainda que a unidade está com 10 leitos intensivos e 3 vermelhos semi-intensivos (que tem os mesmos equipamentos de uma Unidade de Terapia Intensiva) ocupados, o que teria elevado o tempo de atendimento dos pacientes menos graves.
UPA REALENGO: A coordenação da UPA informa que a unidade trabalhou hoje com quadro clínico completo, com 5 clínicos gerais e 3 pediatras. Foram atendidos nesta terça-feira 313 pacientes. Sobre o equipamento de raio-x, a coordenação esclarece que NÃO PROCEDE a informação de que o equipamento não estava funcionando. Ao longo de todo o dia, o aparelho realizou 42 exames”.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/espera-por-atendimento-nas-upas-chega-sete-horas-13887064.html#ixzz3D6TLB6XL
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