segunda-feira, 19 de março de 2012

Prefeitura do Rio também cancela contratos após denúncia de fraude

19/03/2012 18h04- Atualizado em 19/03/2012 20h30

Prefeitura do Rio também cancela contratos após denúncia de fraude

Reportagem do Fantástico denunciou esquema de propinas em hospital.
Governo do RJ anunciou mais cedo que também ia cancelar contratos.

Do G1 RJ
77 comentários
A Prefeitura do Rio de Rio de Janeiro informou por meio de nota, nesta segunda-feira (19), que assim como o Governo do Rio de Janeiro, também vai cancelar os contratos com as empresas que aparecem na reportagem do Fantástico exibida neste domingo (18), na qual representantes de companhias aparecem oferecendo propina para obter benefícios em licitações para prestar serviços a um hospital público da rede federal.
Quatro empresas são apontadas como parte do esquema: Locanty Soluções, Toesa Service, Bella Vista Refeições Industriais e Rufolo Serviços Técnicos e Construções.
De acordo com a prefeitura, "atualmente, a Locanty presta serviços para cinco órgãos municipais - Previ-Rio, Controladoria Geral do Município, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Rio Zoo e Secretaria Municipal de Saúde - em contratos que somam R$ R$ 6.131.617,30".
A Prefeitura do Rio explicou que "a empresa Padre da Posse Restaurante Ltda, cujo nome fantasia é Bella Vista Refeições, presta serviço para três órgãos municipais - Secretaria Municipal de Saúde, Guarda Municipal e Rio Zoo - em contratos que somam R$ 14.510.311,96".
Com as outras duas empresas envolvidas, a Toesa e a Rufolo, a prefeitura disse que não tem qualquer contrato em vigor.
Veja a íntegra da nota da Prefeitura do Rio
"A Prefeitura do Rio determinou o cancelamento imediato de todos os contratos com as empresas mencionadas na reportagem exibida ontem no Fantástico e vai analisar com a Procuradoria Geral do Município a melhor solução para substituí-las. O município não tem qualquer contrato em vigor com as empresas Toesa Service e Ruffolo Serviços Técnicos e Construções. Atualmente, a Locanty presta serviços para cinco órgãos municipais - Previ-Rio, Controladoria Geral do Município, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Rio Zoo e Secretaria Municipal de Saúde - em contratos que somam R$ 6.131.617,30".


"Já a empresa Padre da Posse Restaurante Ltda, cujo nome fantasia é Bella Vista Refeições, presta serviço para três órgãos municipais - Secretaria Municipal de Saúde, Guarda Municipal e Rio Zoo - em contratos que somam R$ 14.510.311,96".

Governo do RJ também cancela contratos

Na nota enviada pelo governo do estado nesta segunda-feira (19), o secretário de estado da Casa Civil Régis Fichtner informou que o “governador determinou a todos que verifiquem em suas respectivas Secretarias se existem contratos hoje em execução com essas empresas. Em caso positivo, solicito que seja informada a Secretaria da Casa Civil. Todos os eventuais contratos de órgãos do Estado com essas empresas serão cancelados”.
Veja a nota na íntegra
“Senhores Secretários e Presidentes de Instituições do Estado:

Tendo em vista a matéria do programa “Fantástico”, que denunciou que as empresas Toesa Service, Locanty Soluções, Bella Vista Refeições Industriais e Rufolo Serviços Técnicos e Construções seriam participantes frequentes de fraudes contra licitações, o Governador determinou a todos que verifiquem em suas respectivas Secretarias se existem contratos hoje em execução com essas empresas. Em caso positivo, solicito seja informada a Secretaria da Casa Civil. Todos os eventuais contratos de órgãos do Estado com essas empresas serão cancelados. A forma de continuidade dos serviços essenciais será decidida caso a caso em comum acordo com a Secretaria da Casa Civil e a Procuradoria Geral do Estado”.

Em nota, a empresa Locanty explicou que "ante a gravidade das denúncias apresentadas ontem, no Fantástico, a Locanty informa que já afastou de suas respectivas funções os dois funcionários que aparecem nas gravações produzidas pela reportagem".
PF abre inqúeritos
O delegado Victor Poubel, da Polícia Federal, disse nesta segunda-feira (19) que já abriu quatro inquéritos para investigar as empresas . A PF vai investigar fraudes em licitação, corrupção e formação de cartel, entre outros crimes
“Vamos apurar todos os contratos com órgãos públicos da União desde 2009 que tenham sido feitos por essas empresas. São fatos repugnantes, mas que não causaram surpresa à Polícia Federal que vem fazendo um trabalho forte concernente a desvio de recursos públicos. Tem grupo especializado que vai levar adiante o trabalho investigativo”, disse Poubel.
O Ministério Público Federal também anunciou que vai investigar todas as empresas que aparecem na reportagem e os contratos com hospitais federais.
Já o Ministério da Saúde informou que uma portaria será publicada no Diário Oficial desta terça-feira (20) determinando a suspensão imediata dos contratos que ainda estejam em vigor com essas empresas em toda a rede de hospitais do país. Ainda segundo o ministério, um ofício vai estabelecer uma auditoria em contratos de outras empresas que prestam serviços para hospitais federais.
Cremerj espera punição
Segundo o Conselho Regional de Medicina (Cremerj), a denúncia revoltou os médicos e profissionais de saúde e espera que haja punição para os empresários e gerentes que aparecem na reportagem negociando propina.
“Estamos vivendo um momento de corte de verbas da saúde, os salários dos médicos são baixos como os dos demais profissionais e esperamos que esse fato seja apurado com rigor e que essas pessoas sejam presas e devolvam o dinheiro para o setor público aplicar realmente em saúde ”, disse a presidente do Cremerj, Márcia Rosa.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-Rio), Wadih Damous, as imagens exibidas pelo Fantástico em que empresários oferecem propina para ganhar licitações em hospitais públicos criam um cenário de muitos indícios que dão margem ao início de investigações por parte da polícia e do Ministério Público. A declaração foi feita nesta manhã.
Para ele, os responsáveis pelas empresas podem vir a responder por corrupção, fraude de licitações e peculato. Ele explica que nas gravações os representantes das empresas mostraram como montam o esquema criminoso.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que já rompeu o contrato de aluguel de ambulâncias com uma das empresas que aparecem na reportagem. Já a Prefeitura informou que apura o estágio dos contratos com outra empresa, entre eles os de reboque e guarda de veículos. A Guarda Municipal, por sua vez, disse que a empresa que aparece na reportagem fornece refeições para alunos do curso de formação e o contrato foi feito por pregão público, sem caráter de emergência.

Repórter se passou por gestor de compras do hospital
Na reportagem especial feita por Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo, o Fantástico mostrou como funciona um esquema para fraudar licitações de saúde pública, feito entre empresas fornecedoras e funcionários públicos.
Com o conhecimento do diretor e do vice-diretor do hospital pediátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o repórter Eduardo Faustini fingiu ser o novo gestor de compras da instituição. Todos os outros funcionários acreditavam que ele era mesmo o responsável pelo setor de compras, onde pôde acompanhar livremente todas as negociações e contratações de serviços.
As negociações foram todas filmadas de três ângulos diferentes e levadas até o último momento antes da liberação do pagamento. Nenhum negócio foi concretizado, nenhum centavo do dinheiro do contribuinte foi gasto.
A fraude
A lei brasileira prevê que toda empresa que vá fazer um serviço para um hospital público dispute uma licitação, com outras que oferecem o mesmo serviço. É uma maneira de tentar garantir que o dinheiro público não vai ser desperdiçado.
No esquema flagrado pelo Fantástico, no entanto, as empresas fornecedoras se unem para fraudar a disputa. A que quer ganhar paga uma porcentagem do total do contrato para as demais - que entram na concorrência com orçamentos mais altos. Ou seja, entram para perder.
"Eu faço isso direto. Tem concorrência que eu nem sei que estou participando," comenta a gerente de uma empresa chamada para a licitação de contratação de mão de obra para jardinagem, limpeza, vigilância e outros serviços, que ganharia R$ 5,2 milhão se a licitação tivesse existido.
Sem nenhuma interferência do hospital, o repórter escolheu quatro empresas, que estão entre os maiores fornecedores do governo federal. Três são investigadas pelo Ministério Público, por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas meio bilhão de reais só em contratos feitos com verbas públicas.
Uma locadora de veículos foi convidada para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. “Cinco. Cinco por cento. Quanto você quer?”, pergunta de imediato o gerente. Falando em um código em que a palavra "camisas" se refere à porcentagem desviada, ele aumenta a propina. “Dez camisa [sic], então? Dez camisa?".
O presidente do conselho da locadora garante que o golpe é seguro e o pagamento é realizado em dinheiro ou até mesmo em caixas de uísque e vinho. A empresa ganharia R$ 1.680 milhão pelo contrato. "Eu vou colocar o meu custo, você vai falar assim: ‘Bota tantos por cento’. A margem, hoje em dia, fica entre 15% e 20%", explicam o diretor e o gerente de uma empresa convidada para a licitação de coleta de lixo hospitalar. "Nós temos hoje, aproximadamente, três mil clientes nessa área de coleta", afirmam.
Para esconder a fraude da fiscalização, o dinheiro do suborno é espalhado por vários itens da proposta vencedora. O dono da empresa de jardinagem e vigilância diz à reportagem que está acostumado a fraudar licitações, e a gerente comenta que o fraude é "ética de mercado". "No mercado, a gente vive nisso. Eu falo contigo que eu trago as pessoas corretas. Eu não quero vigarista, não quero nunca".

Veja reportagem na íntegra:
http://glo.bo/FQ2uGK

Criança morre em hospital de Manaus depois de receber medicação | Manaus | Acritica.com - Manaus - Amazonas#.T2efWgFGGZ4.orkut#.T2efWgFGGZ4.orkut

Criança morre em hospital de Manaus depois de receber medicação | Manaus | Acritica.com - Manaus - Amazonas#.T2efWgFGGZ4.orkut#.T2efWgFGGZ4.orkut

Repórter trabalha infiltrado em repartição pública e flagra escândalo de corrupção

Licitações com cartas marcadas, negociatas, combinações indecorosas de suborno, propinas, truques para escapar da fiscalização. Certamente, você já ouviu falar muito de corrupção. Mas hoje você vai conhecer a cara dela. E do jeito mais deslavado.

Durante dois meses um repórter do Fantástico trabalhou em uma repartição pública. O que ele viu - e gravou - é um escândalo. Um retrato de como algumas empresas agem em órgãos do governo para ganhar dinheiro. Muito dinheiro. O nosso dinheiro.

Entre quatro paredes, o que a gente paga em impostos e que deveria ser destinado à saúde, à educação e outros serviços vai parar no bolso de empresários inescrupulosos e funcionários públicos corruptos. Uma vergonha.

A reportagem é de Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo.

Empresários abrem o jogo. Licitações fraudadas são mais comuns do que a gente imagina. O desvio de dinheiro público é tratado por eles como coisa normal. E eles confessam que pagam propina. Os valores são milionários.

Você vai se assustar com o truque que eles usam para esconder o suborno.

O Fantástico mostra agora o mundo da propina, da fraude, da corrupção. De um jeito como você nunca viu. E vale a pena você ver: É o seu dinheiro que eles estão roubando.

Nosso objetivo foi descobrir como isso é feito. O Fantástico pediu ajuda à direção de um hospital de excelência, hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um grande hospital público infantil. Queríamos assumir o lugar do gestor de compras da instituição, acompanhar livremente todas as negociações, contratações, compras de serviços. Saber se existe oferta de propina, pagamento de suborno de um dinheiro que deveria ser sagrado: o da saúde.

Conseguimos. Durante dois meses, nosso repórter Eduardo Faustini frequentou o hospital. Na verdade, foi bem mais do que isso. Ele teve um gabinete aqui dentro. Foi o novo gestor de compras da instituição. Essa informação só era de conhecimento de duas pessoas no hospital, o diretor e o vice-diretor. Para todos os outros funcionários, o nosso repórter era mesmo o novo responsável pelo setor de compras.

“Todo comprador de hospital, a princípio, é visto como desonesto. Acaba que essa associação do fornecedor desonesto com o comprador desonesto acaba lesando os cofres públicos. E a gente quer mostrar que isso não é assim, em alguns hospitais não é assim que funciona”, disse Edmilson Migowski, diretor do Instituto de Pediatria/UFRJ.

As negociações foram todas filmadas de três ângulos diferentes e levadas até o último momento antes da liberação do pagamento. Evidentemente, nenhum negócio foi concretizado, nenhum centavo do dinheiro do contribuinte foi gasto. Só mesmo o tempo dos corruptos é que foi perdido. E eles agora vão ser desmascarados.

Com autorização da direção do hospital, o repórter Eduardo Faustini convocou licitações em regime emergencial. Elas são feitas por convite, são fechadas ao público. O gestor convida quem ele quiser.

Sem nenhuma interferência do hospital, o repórter escolheu quatro empresas, que estão entre os maiores fornecedores do Governo Federal.

Três dessas empresas são investigadas pelo Ministério Público, por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas meio bilhão de reais só em contratos feitos com verbas públicas.

Em frente ao repórter gestor de compras, nessas cadeiras, se sentaram diretores, donos de empresas que deram uma triste aula de como se é desviado o dinheiro dos serviços públicos.

Veja a reportagem completa no link abaixo:

http://tinyurl.com/82df273

domingo, 18 de março de 2012

Hospital Lourenço Jorge acaba de perder cirurgiões vasculares. Unidade já não tinha especialistas em tórax e cérebro

Superlotação na emergência do Hospital Lourenço Jorge
Superlotação na emergência do Hospital Lourenço JorgeFoto: Emanuel Alencar / Agência O Globo/10.10.2011
Flávia Junqueira
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A emergência do Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, recebe, em média, sete baleados e 350 acidentados ao mês. A unidade, que fica nas proximidades de uma via expressa, atende vítimas de trauma 24 horas por dia. A despeito disso, os cinco cirurgiões vasculares da unidade foram demitidos — eles eram funcionários da Fiotec, organização social que gerencia projetos com a Secretaria municipal de Saúde. Há cerca de um ano, os cirurgiões torácicos também foram retirados do hospital, que nunca teve serviço de neurocirurgia.
— A emergência do Lourenço Jorge recebe vítimas de acidentes de vias de alta velocidade. Seria obrigatório ter cirurgia vascular, torácica e neurocirurgia. Estamos falando de emergências. São eventos que não podem esperar a chegada de uma ambulância, as intercorrências do trânsito e a disponibilidade de equipe em outro hospital. O fato é que todos os hospitais estão sobrecarregados. É uma irresponsabilidade do secretário de Saúde — diz o médico Pablo Vazquez, coordenador da Comissão de Saúde Pública do Cremerj.
O médico, que trabalha no Hospital Souza Aguiar, alerta que a maior parte das equipes de plantão na unidade do Centro não tem cirurgião vascular.
Hoje, os casos de neurocirurgia precisam ser encaminhados ao Miguel Couto, arriscando-se a agravar as sequelas e a vida do paciente. Em 29 de novembro do ano passado, um senhor de 72 anos deu entrada na emergência do Lourenço Jorge com traumatismo crânio-encefálico e no tórax. A equipe acionou a central de regulação para tentar a transferência para um hospital com neurocirurgião. Tarde demais. O paciente morreu às 23h41 daquela terça-feira.
— Estou cansado de ver pessoas morrendo e ficando sequeladas por motivos totalmente evitáveis — desabafa um médico do Lourenço Jorge, que prefere não se identificar.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, afirma que os plantões na unidade ficaram restritos a cirurgia geral e ortopedia para casos cirúrgicos.
A Secretaria municipal de Saúde alega que se baseou num estudo de demanda feito em parceria com a Fiotec para fazer o "remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda".
Em nota, a secretaria informou que, em 2011, o Lourenço Jorge realizou nove cirurgias de emergência do aparelho circulatório, o que inclui as cirurgias vasculares. O livro de ocorrências dos plantões do serviço — agora extinto — mostra que 41 cirurgias foram feitas no ano passado, entre contenção de sangramentos em artérias de grande porte e amputações de pacientes com membros gangrenados, a maioria diabéticos descompensados.
— Não são traumas, mas são emergências. Sem a cirurgia, a pessoa morre — alerta o médico do Lourenço Jorge.
A nota da secretaria informa que, segundo o diretor do hospital, “o atendimento a diabéticos representa a maior parte da demanda clínica, porém, a quantidade de casos com necessidade de procedimentos cirúrgicos é pequena”. Os casos de trauma, que incluem acidentes, quedas e agressões, representaram cerca de 21% da demanda do hospital, e não são necessariamente cirúrgicos, completa a secretaria, acrescentando que os cirurgiões vasculares e torácicos foram remanejados para unidades com maior demanda.
A secretaria afirma que o Lourenço Jorge conta com suporte do Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, e está ampliando o atendimento na região da Barra, por meio de convênio com o hospital da Universidade Gama Filho — antiga Clínica São Bernardo, na Avenida das Américas. “A unidade conveniada atende pacientes eletivos transferidos do Lourenço Jorge, em especialidades como cirurgia geral, vascular, neurocirurgia e urologia”, diz a secretaria.
Em seu site na internet, a Gama Filho informa, no entanto, que “para maio, estarão abertos ao público os centros nefrológico, cardiológico, cirúrgico e de terapia intensiva”.

Leia a nota da Secretaria municipal de Saúde na íntegra:
“A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil informa que está ampliando o serviço de atendimento de diversas especialidades na região da Barra da Tijuca, por meio de convênio com o hospital da Universidade Gama Filho. A unidade conveniada atende pacientes eletivos transferidos do Hospital Municipal Lourenço Jorge, via SUS, em especialidades como cirurgia geral, vascular, neurocirurgia e urologia, entre outros, enquanto a unidade da Prefeitura continua atendendo a todas especialidades de emergência, conforme seu perfil. Além disso, a SMSDC ampliará a capacidade da emergência do hospital Lourenço Jorge com a contratação de profissionais, por concurso público em fase de conclusão. Serão convocados 1.700 médicos para toda a rede.
A rede municipal de saúde e as unidades conveniadas trabalham de forma integrada, visando otimizar os recursos existentes nos hospitais. Desta forma, e de acordo com estudo de demanda feito em parceria com a Fiocruz, por meio da Fiotec, houve remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda. Em 2011, o Hospital Lourenço Jorge realizou nove cirurgias de emergência do aparelho circulatório, o que inclui as cirurgias vasculares.
A região conta, ainda, com uma unidade de pronto atendimento (UPA) na Cidade de Deus, que recebe casos de menor gravidade, e com suporte do Hospital Municipal Miguel Couto, que fica a cerca de 16 quilômetros, e oferece serviços de referência em diversas especialidades, dando apoio ao Hospital Lourenço.
O Hospital Municipal Lourenço Jorge recebeu no ano passado, mensalmente, 7 baleados e 350 acidentados de todas as naturezas (colisão, queda de moto, atropelamento etc). Os atendimentos clínicos/ambulatoriais responderam por 79% dos registros da unidade em 2011. Os casos de trauma, que incluem acidentes, quedas, agressões etc, representaram cerca de 21% da demanda do hospital, e não são necessariamente cirúrgicos. Há pouca variação do atendimento em função do dia da semana.
De acordo com o diretor do hospital, o atendimento a diabéticos representa a maior parte da demanda clínica, porém, a quantidade de casos com necessidade de procedimentos cirúrgicos é pequena. Conforme informado, houve remanejamento dos profissionais de cirurgia torácica e vascular para unidades com maior demanda, de acordo com estudo de demanda feito em parceria com a Fiocruz, por meio da Fiotec.
O Hospital Municipal Lourenço Jorge nunca ofereceu serviço de neurocirurgia desde sua abertura. A unidade trabalha de forma integrada a hospitais de referência da rede, como o Hospital Miguel Couto. A unidade Core (Centro de Operações Regional de Emergência) que será aberta funcionará de forma independente ao hospital, como uma unidade avançada, dando apoio às emergências clínicas.”


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/hospital-lourenco-jorge-acaba-de-perder-cirurgioes-vasculares-unidade-ja-nao-tinha-especialistas-em-torax-cerebro-4337351.html#ixzz1pWFv56Q3

sábado, 17 de março de 2012

Falta remédio para leucemia

SAÚDE

Falta remédio para leucemia

Desde fevereiro, distribuição de medicamento está irregular e pacientes recorrem ao MPPE e à Justiça para garantir o tratamento

Publicado em 16/03/2012, às 07h33

Do JC Online

Washington Ataide não recebe o remedio há 15 dias. Cada caixa custa R$ 12 mil / Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem

Washington Ataide não recebe o remedio há 15 dias. Cada caixa custa R$ 12 mil

Foto: Ricardo B. Labastier/JC Imagem

A interrupção do tratamento de câncer tem levado ao desespero pacientes da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope). Portadores de leucemia mieloide crônica denunciam que desde fevereiro está irregular a distribuição de mesilato de imatinibe, de nome comercial Glivec, medicamento utilizado em substituição ao transplante de medula, de uso contínuo e que aumenta o tempo de vida do usuário. Cansados e temendo o agravamento da leucemia, os doentes estão recorrendo ao Ministério Público Estadual (MPPE) e à Justiça. Também preparam um manifesto para hoje, na porta do hospital.

"Antes de morrer tenho que agir, brigar pelos meus direitos", diz o técnico em eletrônica Washington Ataíde de Moura, 44 anos, que desde o dia 1º de março está sem medicamento e busca, diariamente, esclarecimento sem sucesso no Hemope. Pálido e debilitado, Washington não se conforma com a falta de atenção. "Sinto dores nas pernas e fraqueza. Sou paciente do Hemope há três anos, procuramos informação e ninguém explica exatamente porque o remédio está faltando. Quando vamos à farmácia do hospital, ninguém também sabe dizer quando ele estará disponível", conta.

Washington levou o caso à imprensa e protocolou denúncia no Ministério Público Estadual. No dia seguinte foi buscar ajuda no Conselho Estadual de Saúde, que deve fiscalizar o SUS, onde foi orientado, no entanto, a procurar a Associação de Usuários (Aduseps), para mover ação na Justiça e conseguir resultado mais rápido. A Promotoria da Saúde do MPPE informa que encaminhará ofício ao Hemope cobrando esclarecimentos. Médicos do hospital afirmam que a interrupção do tratamento é prejudicial. "Pode causar uma leucemia aguda e tornar a doença resistente até mesmo ao transplante de medula", explica um deles.

Cada caixa de Glivec, afirmam, custa R$ 12 mil, o que impossibilita a compra individual. Esta é a segunda vez em três semanas que os doentes reclamam da falta do medicamento.

O diretor presidente do Hemope, Divaldo Sampaio, minimizou a denúncia e disse desconhecer que doentes em tratamento há mais de um ano estejam sem tomar o remédio. "É um problema dessa semana, da última segunda-feira", afirmou, ignorando inclusive a denúncia anterior, de fevereiro.

Afirmou que a atual falta de Glivec se deve ao envio de um quantitativo incompleto (não informou a quantidade exata), pelo Ministério da Saúde. "Temos 200 pacientes cadastrados, e mensalmente essa demanda cresce 30% ou menos", alegou. De quem seria a culpa? O diretor do Hemope não sabe dizer. "Mudou o processo da Apac (Autorização de Procedimentos Ambulatoriais de Alto Custo)", respondeu, sem mais uma vez identificar se o erro era do Hemope ou do Ministério da Saúde.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Alunos de Enfermagem da UFMT acionam o MP contra os de Medicina







    09/03/2012 - 08:00

    Alunos de Enfermagem da UFMT acionam o MP contra os de Medicina

    Da Redação - Lucas Bólico
    Foto: Lucas Bólico - ODKarine Campos é presidente do CA de Enfermagem, Karine Campos é presidente do CA de Enfermagem,
    Estudantes de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) acionaram o Ministério Público para tentar dar um basta no sistemático assédio moral praticado por estudantes do curso de Medicina. O Centro Acadêmico (CA) do curso também protocolizou uma denúncia na própria UFMT, no Coren (Conselho Regional de Enfermagem) e na Delegacia da Mulher.

    A presidente do CA de Enfermagem, Karine Campos, afirma que o último ato de desrespeito aconteceu publicamente na segunda-feira (5), às 12h30, em frente ao Restaurante Universitário (RU). Ela conta que os estudantes de Medicina começaram a provocação cantando músicas ofensivas contra as estudantes do curso, sempre colocando a profissional de Enfermagem como objeto sexual.

    “Era o primeiro dia de aula e eles já chegaram no RU sabendo essas letras”, conta Karine. De acordo com a estudante, os calouros são incitados desde o início do curso a desrespeitar os colegas de Enfermagem. Para as estudantes, as letras das músicas ofendem a dignidade das enfermeiras.

    Karine filmou a última ação. “Isso [assédio] sempre acontece, mas é difícil provar. Desta vez tem o vídeo”. As imagens foram anexadas aos documentos enviados para o MP. E esta não é a primeira denúncia feita desta natureza.

    “Eles fizeram uma festa com uma foto de uma enfermeira e nós pedimos para retirar”, lembra. A imagem saiu do panfleto, mas foi postada nas redes sociais com uma tarja de censurado, para provocar, segundo ela.

    Alunas de enfermagem também reclamam da dinâmica entre os estagiários de Medicina e Enfermagem no Hospital Universitário Júlio Muller. Elas alegam que a relação lá também não é salutar. "Eles passam dos limites. Uma vez eles invadiram os corredores cantando essas músicas durante o horário de aulas", relembra.

    Em entrevista por telefone, a reitora Maria Lucia Cavalli Neder afirmou não ter conhecimento de nenhuma denúncia dessa natureza, mas assegurou que, caso chegue ao seu conhecimento, as reclamações serão apuradas. Já as estudantes reclamam que a universidade é leniente com os trotes e assédios que acontecem ao longo do curso.

    “A universidade infelizmente não faz nada, ele repassam a denúncia para o curso de Medicina, que repassa para o Centro Acadêmico, que faz uma nota de retratação”, queixa-se Karine.

    Fonte:http://www.olhardireto.com.br/index.asp

    Imagens mostram dificuldades nos atendimentos do Samu

    Quando a questão é matemática, a solução é fácil. Mas quando é questão de saúde, o problema fica difícil de ser resolvido. São Paulo tem 11 milhões de habitantes. E 120 ambulâncias do Samu, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
    Em todo o Brasil, há casos assim. E que ficam mais graves com ambulâncias quebradas, falta de médicos, falta de infraestrutura. Nossos repórteres acompanharam o trabalho dos socorristas e constataram: o serviço criado para salvar vidas não dá conta de atender a demanda.
    Em São Luís, um aposentado morreu depois que o socorro foi negado por quatro vezes.
    Em São Paulo, policiais militares fizeram o parto de uma mulher que não conseguiu uma ambulância.
    Veja os flagrantes impressionantes:
    Saímos rumo à sede da Samu em São Paulo, mas nem precisamos chegar lá. Na Marginal Pinheiros, encontramos uma equipe no meio de um atendimento.
    O acidente deixou dois motoqueiros caídos no chão com ferimentos leves.
    “Ele está equilibrado, está fora de perigo”, disse a enfermeira.
    “São mais contusões, escoriações, mas a gente está aguardando outro resgate para levar, porque são duas vítimas”, informou um médico.
    Vemos um nó. Uma equipe com três socorristas do Samu. Uma vitima já estável dentro da ambulância, já poderia partir para o hospital. Mas falta uma segunda ambulância para a segunda vítima. O Samu não tem unidade de resgate disponível. Foi pedido apoio para o Corpo de Bombeiros.
    Eram 18h, pico do trânsito. E a ambulância vinha de longe.
    Finalmente chega o resgate, 30 minutos depois do registro da ocorrência.
    Com o motoqueiro já imobilizado, a remoção é rápida. Achamos que tudo estava resolvido.
    Mas enquanto acontecia o atendimento do Samu, os curiosos causam outro acidente. Uma freada brusca. É muito comum acontecer um segundo acidente durante o atendimento de uma primeira ocorrência. E aconteceu. Diante da equipe de socorristas.
    Com a ajuda da companhia de tráfego, os paramédicos seguram o trânsito e fazem o primeiro atendimento ali mesmo, no meio da pista. O caso preocupa a equipe.
    “Ela está estável, mas a contusão dele foi mais grave. Ele voou e bateu a cabeça e coluna cervical no chão”, conta o socorrista. Ele diz que a prioridade será dada ao caso mais grave. “Os recursos são sempre menos que adequados a demanda”, diz.
    Vai um, enquanto o outro espera uma terceira ambulância.
    São 120 viaturas do Samu e 40 do Corpo De Bombeiros para todo o município de São Paulo. Com mil e quinhentos quilômetros quadrados e mais de 11 milhões de habitantes.
    Em Salvador, o cenário é pior. A cidade tem menos ambulâncias do que determina o Ministério da Saúde. Pelo menos 22 quebradas. E cinco novas à espera de equipes de socorro.
    “Hoje, infelizmente, tem ocorrência que nós levamos 30, 40 minutos para chegar ao local”, afirma o presidente do sindicato da Samu da Bahia.
    Na periferia de São Luís, a morte de um pedreiro virou caso de polícia. O Ministério Público estadual do Maranhão investiga a denúncia de omissão de socorro. A família diz ter feito quatro ligações para o Samu, sem que nenhuma ambulância fosse mandada.
    Só em São Paulo, a central do Samu recebe nove mil ligações por dia.
    Esta semana, o caso de uma mulher em trabalho de parto não foi tratado como prioridade. O bebê nasceu pelas mãos de dois policiais militares. E o Samu chegou apenas para remover mãe e filho para a maternidade.
    “Quando chegou a solicitação, ela tinha começado a ter as contrações há pouco tempo e não estava ainda de dez em dez minutos. Então, seria o início de um trabalho de parto. Precisa de ambulância, mas não imediatamente”, argumenta Gustavo Guilherme Kuhlmann, coordenador médico do Samu-SP.
    “Eu tenho que estabelecer as prioridades que o sistema me estabelece para poder mandar primeiro os recursos para os casos mais graves”, completa.
    Uma escolha difícil.
    O Samu é coordenado pelo Ministério sa Saúde, mas quem gerencia o trabalho são as secretarias municipais ou estaduais de saúde, dependendo da cidade.
    Em nota, o ministério disse que metade da verba vem do Governo Federal e metade dos governos locais. A nota também informa que o ministério doa ambulâncias e repassa recursos mensais para ajudar no custeio do serviço.
    Hoje o país conta com 2009 ambulâncias e 101 motos em operação pelo Samu. Como vimos, não têm sido suficientes.

    Correção: No texto publicado às 8h02, dissemos que São Paulo tem um milhão e meio de quilômetros quadrados. Na verdade, são mil e quinhentos quilômetros quadrados, como no texto corrigido, às 8h23.
    Veja a reportagem na íntegra no link abaixo:
    http://glo.bo/yqauKH

    quarta-feira, 14 de março de 2012

    A praga das consultas a jato

    Atendimentos médicos que não duram mais do que 15 minutos tornam-se frequentes, o que provoca o erro no diagnóstico e na prescrição de remédios. O que você pode fazer se tiver sido vítima dessa prática

    Monique Oliveira e Luciani Gomes

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    A cena é cotidiana nos consultórios médicos: entre o bom-dia e o até logo dados pelo profissional, passam-se apenas 20, 15 e, às vezes, inacreditáveis três minutos. Quando muito, dá tempo apenas para falar dos sintomas mais aparentes, pegar na mão uma lista de exames a ser feitos ou de remédios a ser tomados. Para que servem e quando mesmo devem ser tomados? Difícil lembrar, já que as explicações foram tão rápidas que nem deu para memorizá-las como se deveria. Também é evidente que o médico não teve tempo para avaliar com a precisão necessária o que foi prescrito. Trata-se de uma realidade cada vez mais frequente, tanto no Brasil quanto em outros lugares do mundo. Inclusive em consultórios particulares, essas consultas, que mais se parecem com um drive-thru de lanchonete, são registradas. E isso contribui para as estatísticas judiciais que mostram aumento nos casos de erros médicos.

    A banalização das consultas a jato é tão grande que levou a uma distorção. Hoje, ser atendido em 15 minutos é considerado um privilégio. Um estudo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, em São Paulo, deixou isso claro. Os pesquisadores acompanharam 480 consultas na rede pública e mediram, de cronômetro na mão, o tempo que cada doente passava no consultório. Logo em seguida, perguntaram o nível de satisfação com a consulta. Quem foi atendido entre 11,4 e 15 minutos considerou o atendimento excelente. Os que ficaram de 7,6 a 11,3 minutos acharam a consulta boa. Já os que permaneceram com o médico de 3,8 a 7,5 minutos consideraram-na regular e apenas os que ficaram de 0,1 a 3,7 minutos – ou seja, nem quatro minutos – acharam que foram mal atendidos.
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    Apesar dos efeitos nocivos das consultas-relâmpago, não há no Brasil uma regulamentação que determine o tempo mínimo que uma consulta deve ter. Há apenas um consenso entre os bons médicos de que é impossível fazer uma avaliação correta do paciente em menos de 25 minutos. “Não se coloca o tempo de consulta no contrato porque se supõe que o médico agirá com consciência ética”, afirma Rogério Toledo, diretor do setor de Proteção ao Paciente da Associação Médica Brasileira (AMB). Mas como fazer isso na rede pública, por exemplo, na qual cada médico tem pelo menos 16 pacientes marcados para prestar atendimento em uma jornada de quatro horas? Ou seja, dedicar a cada doente escassos 15 minutos? Esse tempo, aliás, é usado como marcador de produtividade na rede pública, de acordo com o Manual de Auditoria de Atenção Básica do Ministério da Saúde. O documento serve para analisar o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e, segundo uma de suas fórmulas, serviço produtivo é aquele que atende em 15 minutos. Na rede conveniada, o parâmetro é que os profissionais atendam no máximo quatro pacientes por hora – ou seja, os mesmos 15 minutos para cada um.

    O problema é que nem sequer a “regra” dos 15 minutos é respeitada. “Na rede pública há médicos que atendem em dois minutos, no corredor mesmo”, relata o médico Fernando Lucchese, diretor da Santa Casa de Porto Alegre. “Já ouvi colegas dizer que eram pressionados a atender em menos de dez minutos”, completa o proctologista aposentado Albino Sorbino, que durante anos trabalhou no Hospital do Servidor Público de São Paulo. A demanda na instituição pública comprometia o atendimento em seu consultório. “Eram, no mínimo, dois casos graves por dia”, lembra. “Não tinha como fazer essa consulta em 15 minutos e eu ficava sempre três horas além do meu horário.”

    Pouco a pouco, começam a surgir indicativos dos danos causados pelas consultas rápidas. Um estudo feito pela Universidade de Ghent, na Bélgica, revelou um pouco das diferenças que ocorrem quando uma consulta é rápida demais ou acontece no tempo certo. Os cientistas analisaram 2.801 gravações de consultas realizadas em 183 hospitais da União Europeia e categorizaram as relações estabelecidas durante o encontro com o médico. Nos curtos, o tempo é dividido entre perguntas e instruções. Já nos longos, observou-se mais tempo gasto no levantamento de problemas psicológicos que podem estar relacionados aos sintomas e no fornecimento de orientações gerais ao doente. Este último, é claro, é o modelo mais ideal. “A consulta não é o momento de diagnóstico preciso”, explica o gastroenterologista Rogério Toledo, da AMB. “É o momento de se inteirar dos hábitos do paciente.”
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    Uma boa consulta envolve também a coleta do histórico do paciente, exame clínico completo, indicação detalhada de exames complementares, se necessários, e orientações terapêuticas baseadas em pelo menos mais de uma hipótese de diagnóstico. “Tarefa difícil para 15 minutos”, diz o infectologista David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

    Há outros prejuízos quando esse roteiro não é cumprido. O tempo mínimo compromete a relação com o paciente e pode levar o médico a somente atenuar os sintomas sem tratar a doença. “O profissional vira um grande fazedor de receitas”, diz Lucchese, de Porto Alegre. O atendimento rápido também compromete a interligação de sintomas com situações, já que o paciente apenas responde a perguntas ou é dirigido pelo médico. “E é só deixando o paciente falar que se podem fazer conexões com uma sintomatologia que inicialmente não estaria relacionada à doença”, diz o cardiologista Múcio Oliveira, diretor de emergência do Instituto do Coração, em São Paulo. “O atendimento rápido vai comprometer o diagnóstico”, diz Rogério Toledo.

    Outros riscos são sair da consulta sem entender como tomar o remédio – e tomá-lo errado – ou receber uma prescrição incorreta. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde, 50% dos remédios comercializados são prescritos, dispensados ou usados de maneira errada. E, segundo especialistas, 49% dos erros são feitos pelo médico, na hora da prescrição. “O profissional faz um diagnóstico apressado, errôneo, e receita o remédio errado”, diz Fernando Lucchese. “O erro nas prescrições é uma consequência inevitável dessa consulta que não privilegia o olho clínico.” Além disso, a pressa eleva a chance de o paciente se submeter a exames desnecessários, sujeitando-se, por exemplo, a receber doses de radiação emitidas por aparelhos de imagem, sem que fosse preciso.

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    EXPRESSO
    Sorbino trabalhou na rede pública de atendimento. Colegas se
    queixavam de ser obrigados a atender em menos de dez minutos
    A falta de coleta de dados e um histórico mal tirado podem levar inclusive à morte. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo indenizou uma família em R$ 30 mil por causa de um atendimento ruim em um hospital privado. Uma criança de 1 mês e 7 dias de vida, com pneumonia grave, voltou para casa apenas com uma prescrição de Novalgina. “Ela morreu de pneumonia porque o médico não coletou os dados suficientes na hora da consulta”, relata o advogado Vinicius de Abreu, representante da ONG Saúde Legal, entidade de defesa de pacientes.

    Uma suposta falta de médicos poderia ser usada para justificar a pressa. Mas isso não é real no Brasil. Em outubro deste ano, os conselhos regionais de medicina registravam a existência de 371.788 médicos em atividade no País, um salto de 530% desde 1970, percentual cinco vezes maior que o crescimento da população. As razões apresentadas por entidades médicas para a disseminação da praga da consulta a jato repousam em outras esferas. Elas argumentam que a baixa remuneração dos profissionais é que provoca a necessidade de atender vários pacientes em um mesmo período. Isso fica mais evidente na rede pública, na qual os baixos salários não atraem muita gente. Como resultado, o número de médicos não seria suficiente para atender à demanda. “Não é novidade que faltam médicos nos serviços de urgência em hospitais públicos”, diz Aloísio Tibiriçá, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina.

    Na rede conveniada, que hoje já atende 9% da população brasileira, menos médicos se credenciam aos planos de saúde também por causa da baixa remuneração. Há planos que pagam menos de R$ 30 por consulta. A consequência: muitos profissionais atendem mais gente do que deveriam para conseguir um rendimento satisfatório. “O médico precisa manter o consultório, mas com os valores pagos só consegue isso aumentando os pacientes por hora ou cobrando no particular”, afirma Márcia Rosa de Araújo, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro.

    Essa realidade vem merecendo reação dos próprios médicos. Recentemente, verificou-se uma onda de paralisações entre os profissionais vinculados a convênios. Em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, os médicos Marco Leite e João Botelho decidiram fazer o contrário. Para mostrar à população como deve ser um atendimento impecável, reforçaram o time de profissionais em uma das Unidades Básicas de Saúde da cidade em um dia de atendimento. “Tivemos um reforço de oito médicos onde antes havia quatro”, diz João Botelho. E os pacientes finalmente foram atendidos corretamente.
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    É direito do médico pleitear salários mais altos. Mas os governos, os profissionais e as entidades que os representam devem ficar em alerta para não permitir que a baixa remuneração e a ausência de infraestrutura continuem a ser motivos para justificar a proliferação da prática das consultas expressas e suas consequências danosas aos pacientes. As entidades médicas deveriam também – inclusive para proteger os próprios profissionais – exigir das autoridades de saúde melhorias nos sistemas de saúde público e privado.

    No âmbito particular, não há muita explicação para o fato de um médico receber o que quiser por uma consulta e atender seu paciente rapidamente. Uma das argumentações dos profissionais é a de que muitos trabalham em hospitais públicos ou conveniados durante o dia e acabam ficando com pouco tempo para atender à noite no consultório. Mas o paciente não tem culpa disso.

    O que também contribui para a armadilha das fast consultas é uma formação médica baseada mais na técnica do que em um atendimento mais humano. Além disso, muitos médicos são oriundos de faculdades de qualidade ruim, de onde saem às vezes sem saber sequer como realizar um exame clínico correto. Atualmente, o Ministério da Educação supervisiona 17 cursos de medicina que obtiveram conceitos 1 e 2, considerados baixos, no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes. Entre elas estão quatro universidades federais.

    Como não há, porém, uma determinação legal sobre o tempo mínimo de uma consulta, o paciente só poderá processar o médico quando houver um dano evidente e ficarem caracterizadas negligência, imprudência ou imperícia. “Não é porque a consulta foi rápida que o serviço foi mal prestado”, diz a advogada Joana Cruz, do Instituto de Defesa do Consumidor. No entanto, a curta duração da consulta pode ser um indício de que o médico agiu com negligência. “Nesse caso, o consumidor pode usar a curta duração como contextualização”, afirma o advogado Alexei Marqui, especializado em direito do consumidor.

    Para isso é necessário que o paciente produza uma prova de que o tempo di­minuto resultou em negligência. “Ele pode pedir um comprovante da duração da consulta para o médico”, orienta Marqui. Mesmo na ausência de prova, dependendo do caso, o juiz pode determinar a inversão do ônus da prova. Nessas circunstâncias, como o paciente é considerado leigo, a Justiça entende que seria mais fácil o médico produzir uma prova que o defenda do que o paciente oferecer uma prova que acuse o médico.

    Mesmo sem um erro evidente, no entanto, vale registrar a queixa nas operadoras de saúde (para usuários de planos) ou no Ministério Público e secretarias de Saúde (pacientes da rede pública). O doente atendido por médico particular pode resolver na hora. A advogada especializada em saúde Rosana Chiavassa orienta só pagar a consulta depois do atendimento. “Dessa forma, se a pessoa considerar que foi mal atendida ou atendida rapidamente, é só levantar e ir embora sem pagar”, diz. Os indivíduos também têm a opção de recorrer à Justiça quando considerarem que a consulta expressa deixou consequências danosas à saúde.

    A denúncia aos órgãos competentes pode ser uma boa opção para detonar um movimento em massa por consultas mais extensas. Foi a partir da pressão popular, por exemplo, que a Agência Nacional Suplementar de Saúde decidiu diminuir o tempo de espera para a marcação de consultas e exames por usuários de planos de saúde.

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