Alunos que estão terminando o sexto e último ano do curso de medicina no Estado de São Paulo têm dificuldades para detectar e indicar tratamentos para doenças simples, como uma infecção de garganta. O diagnóstico é de um exame aplicado pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) em outubro deste ano e que teve os resultados divulgados nesta quarta-feira (9).
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Uma das questões com maior índice de erro testava a capacidade do aluno de decidir qual medicamento não era a melhor indicação para um paciente com infecção de garganta que fosse fazer o tratamento em casa. 66% dos 418 alunos que fizeram a prova responderam a pergunta errado.
Reinaldo Ayer, conselheiro do Cremesp e responsável pelo exame, disse ao R7 que a situação descrita na questão é “muito frequente” e requer “noções básicas de saúde”.
– Com o diagnóstico e o tratamento corretos, você aliviaria os hospitais, porque não precisaria internar o paciente.
Outra questão com alto índice de erros foi a que cobrava que os estudantes soubessem diagnosticar sepse (infecção generalizada) e meningite em um recém-nascido, algo que, de acordo com Ayer, exige um “raciocínio mais ou menos tranquilo”. 62% dos alunos erraram.
O índice de reprovações no exame foi alto. Apenas 54% dos alunos que fizeram o teste tiveram nota maior que 6, valor considerado de corte. No ano passado, o índice de aprovação foi de 57%, o melhor desde que a prova deixou o estágio experimental, em 2007. Em média, 2.500 médicos se formam por ano no Estado.
Nota baixa todo ano
O índice de aprovações tem se mantido baixo nos últimos anos: se forem levados em conta os exames aplicados entre 2005 e 2011, realizados por 3.135 candidatos ao todo, a reprovação chega a 58,4%.
Nos últimos cinco anos, o índice de aprovação foi sempre menor que 60%, resultado que, de acordo com o conselho, “mantém uma tendência consistente e é considerado insatisfatório e preocupante”.
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...O teste, aplicado em outubro deste ano, foi realizado por 25 dos 30 cursos de medicina do Estado. Duas das escolas ainda não têm classes se formando e alunos de três faculdades - Centro Universitário Barão de Mauá, de Ribeirão Preto, Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) - não tiveram qualquer representante.
Esses 418 estudantes representam 16% dos estudantes que cursam o sexto ano de medicina em São Paulo.
Deficiências de ensino
O conselheiro diz que, em parte, esses resultados ruins são um reflexo do aumento no número de faculdades de medicina no Estado de São Paulo – ele considera 30 cursos um número “incontrolável”.
Nem todas as instituições conseguem manter um padrão de ensino, com professores capacitados e estrutura de laboratórios e hospitais que permitam que os alunos aprendam. Para ele, o exame revela que “nós temos estudantes que saem da faculdade com formação inadequada”.
– Hoje nós temos um número incontrolável de escolas, sem ambientes de ensino e hospitais universitários adequados, e professores que não têm formação para serem professores.
No geral, os alunos de universidades públicas tiveram resultados melhores que os estudantes das instituições privadas. 76% dos futuros médicos que estudam em escolas públicas foram aprovados, enquanto entre as particulares a taxa foi de 42,5%. Mas é preciso analisar esses dados com cuidado porque o comparecimento de alunos formados em escolas públicas foi menor e, de acordo com o conselho, “o resultado não é homogênio”.
– Há escolas privadas com bom desempenho e públicas com resultados menos satisfatórios.
O conselho defende que o exame seja obrigatório para quem se forma em medicina, assim como acontece com a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), necessária para formandos em direito que queiram exercer a advocacia. Mas isso depende de uma mobilização nacional.
Em nota, o presidente do Cremesp, Renato Azevedo Junior, diz que o órgão está “convencido de que uma medida excepcional precisa ser tomada, em respeito à população que confia a saúde e a vida aos médicos”.
http://noticias.r7.com/saude/noticias/dois-em-cada-tres-formandos-de-medicina-nao-sabem-tratar-dor-de-garganta-20111110.html
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