Polícia Civil instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte de um bebê, ainda na barriga da mãe, em Guará (SP). Segundo o pai da criança, o médico responsável pelo acompanhamento do pré-natal na rede municipal de saúde foi negligente.
Ele afirma que uma semana antes da constatação da morte, a mãe procurou atendimento, relatando perda de líquido amniótico, e foi orientada a fazer repouso. Um ultrassom particular, no entanto, apontou o nível crítico do fluido, o que pode ter afetado a gestação.
O casal ainda foi surpreendido após a cirurgia para retirada do feto, quando descobriu que a menina esperada era, na verdade, um menino.
“A gente não se conforma, custa a dormir. Minha esposa fica chorando por causa desse erro médico que teve. Ela fica se sentindo culpada, mas ela não é culpada, porque toda semana ela ia no retorno que tinha no postinho”, diz o pai Elielton Lima Joana da Silva.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o Comitê de Mortalidade Materna e Infantil de Guará apura o caso.
Em nota, a Santa Casa informou que o caso é investigado pela Diretoria Clínica e que aguarda os laudos do Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Segundo a instituição, o médico plantonista seguiu todos os procedimentos clínicos recomendados.
Vanessa e Elielton no chá de bebê em Guará, SP (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação) Vanessa e Elielton no chá de bebê em Guará, SP (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Vanessa e Elielton no chá de bebê em Guará, SP (Foto: Arquivo pessoal/Divulgação)
Dores e morte da criança
Segundo o pai, os problemas na gestação da mulher, Vanessa Fernandes da Silva Lourenço, começaram quando ela passou a apresentar perda de líquido nas primeiras semanas. Elielton afirma que o médico do posto de saúde, responsável pelo pré-natal, orientou repouso à paciente por se tratar de um quadro normal.
No dia 2 de maio, já na 37ª semana de gestação, Vanessa sentiu fortes dores e foi levada pelo marido à Santa Casa de Guará, onde passou por exames.
“O médico colocou o aparelho para escutar o coraçãozinho do bebê. Ele falou que escutou e minha esposa falou que não escutou, porque dá para escutar o coraçãozinho normal.”
Vanessa fez o pré-natal no posto de saúde da rede municipal em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV) Vanessa fez o pré-natal no posto de saúde da rede municipal em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
Vanessa fez o pré-natal no posto de saúde da rede municipal em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
Vanessa foi liberada após ser medicada com soro e Buscopan para aliviar as dores na barriga e nas costas. No dia seguinte, a mulher voltou a passar mal e retornou à Santa Casa. Desta vez, foi atendida por outro médico, que a encaminhou a um hospital em São Joaquim da Barra (SP) para fazer um ultrassom, uma vez que o equipamento em Guará não era seguro.
O pai desembolsou R$ 180 pelo exame e o casal descobriu que a criança estava morta. “O médico falou que ela tinha perdido o bebê por falta de líquido. Não tinha mais líquido na barriga dela.”
Erro no sexo
Além da tristeza pela perda da criança, o casal ainda descobriu após a cesárea que o bebê era um menino, e não uma menina como foi apontado em todo pré-natal.
“As coisas estavam todas preparadas, o berço, as paredes pintadinhas. Tudo para esperar ela, as roupinhas, as fraldas. Mandamos fazer bolsa com o nome dela, kit do berço, urso para por na parede com o nome dela”, afirma.
Pai do bebê, Elielton Lima Joana da Silva acusa médicos de negligência em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV) Pai do bebê, Elielton Lima Joana da Silva acusa médicos de negligência em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
Pai do bebê, Elielton Lima Joana da Silva acusa médicos de negligência em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
Indignação
Para Elielton, a sucessão de falhas no atendimento causou a morte do filho. O pai registrou um boletim de ocorrência e estuda processar os responsáveis no caso. O atestado de óbito aponta que a causa da morte não foi esclarecida. O corpo foi encaminhado para autópsia e o resultado do laudo deve ser conhecido em 30 dias.
“Eu estou muito indignado e revoltado. A Santa Casa daquele tamanho não tem uma estrutura de posto, não ter um ultrassom compatível, é uma pouca vergonha. O erro maior foi ela toda semana ir ao postinho e o médico falar que era normal a perda de líquido.”
Amiga de Vanessa, a assistente social Gabriele Ponciano diz que a sensação é de descaso, uma vez que as queixas da paciente foram ignoradas e o acompanhamento médico foi falho.
“A gente se sente impotente porque tentou fazer tudo dentro da via pública. Não temos condições de pagar um plano de saúde, a gente acredita no SUS. As características do bebê que o ultrassom conseguiu ver davam a entender que ela tinha uma gestação de 39 semanas, e não de 37 como vinha sendo dito aqui pelo pré-natal no município.”
Pai mostra enxoval preparado para receber bebê em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV) Pai mostra enxoval preparado para receber bebê em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
Pai mostra enxoval preparado para receber bebê em Guará, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
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Fonte : G1