terça-feira, 8 de maio de 2012

Polícia investiga suposto erro médico e retirada de órgãos de bebê morto

A Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito nesta quarta-feira (2) para investigar a denúncia da mãe de um bebê que afirma que seu filho morreu por causa de erro médico e teve os órgãos retirados sem autorização pelo Hospital Dante Pazzanese, na região central da capital paulista. A Secretaria de Estado da Saúde nega as acusações de erro médico e de retirada ilegal de órgãos. De acordo com a assessoria de imprensa, a morte da criança será investigada pela Comissão de Óbitos do Dante Pazzanese.

Segundo a vendedora Josiane Angélica dos Santos, de 33 anos, seu filho, Enzo Gabriel Balbino, de 1 ano e 2 meses, morreu na sexta-feira (27) em decorrência da aplicação errada na entubação da criança durante cirurgia, feita no dia anterior, para corrigir um problema cardíaco.

“Ele tinha uma doença cardíaca e por conta dos problemas nos ossos, a aplicação e retirada do tubo precisava ser feita por um endoscopista. Mas soube que a retirada foi feita por alguém que não era especialista”, disse a mulher ao G1. Ela morava com o único filho em Rancharia, a mais de 500 quilômetros de distância de São Paulo. O pai do garoto é seu namorado.

Além de suspeitar da falha médica, ela disse que foi enganada ao assinar documento que permitiu necropsia do menino. “Eu estava nervosa. Achava que se tratava de um papel para permitir esse exame em um IML [Instituto Médico Legal] e não que ele fosse feito no próprio hospital. Se soubesse que a causa da morte seria feita pelo Dante, eu não deixaria. Afinal de contas, eu acho que meu filho morreu por erro médico. Como eu iria permitir que o hospital também desse a causa da morte?”, questiona.

Por telefone, a mulher contou ainda que, depois de discutir com o membros do hospital, conseguiu que os órgão públicos levassem o corpo de seu filho para necropsia em IML da capital. “Para minha surpresa, os médicos do IML deram duas informações contraditórias. Um perito disse que não poderia informar a causa da morte do Enzo porque todos os órgãos dele foram retirados e havia serragem no lugar deles. Outro perito disse que os órgãos estavam lá, mas haviam sido mexidos e também não era possível dizer do que ele morreu”.

Segundo Josiane, o corpo de Enzo foi enterrado na segunda-feira (30) em um cemitério em Rancharia. Ela disse que a declaração de óbito do Dante Pazzanese informa que o que matou seu filho foi “a doença”. "Por isso, vou procurar um advogado e pedir para que ele consiga na Justiça uma autorização para exumar o corpo do meu filho. Quero saber se os órgãos estão lá e o que o matou mesmo". Ao G1 o hospital negou que a causa da morte seja essa e informou que ela ainda não foi divulgada.

Investigação policialA vendedora registrou dois boletins de ocorrência na capital. Um no 27º Distrito Policial, no Campo Belo, para apurar crime envolvendo “transplante de órgãos” por conta de “remover tecidos órgãos ou parte do corpo de pessoa ou cadáver”. O outro, no 36º DP, Paraíso, para apurar morte suspeita.

De acordo com o delegado seccional Sul, Adalberto Henrique Barbosa, o caso será apurado pelo 36º DP. Procurado, o delegado titular do distrito, Márcio Nilson, afirmou a investigação vai tentar ouvir os depoimentos das partes envolvidas.

“Foi instaurado inquérito para apurar eventual homicídio culposo por imperícia médica. Os policiais também vão apurar se houve remoção de órgãos sem autorização. Somadas, as penas podem chegar a nove anos de reclusão ou um pouco mais”, disse o delegado Márcio Nilson, que pretende ouvir os médicos que atenderam Enzo e os peritos que examinaram o corpo da criança.

De acordo com o delegado, Josiane deverá prestar esclarecimentos por carta precatória numa delegacia de Rancharia.
O G1 também procurou o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para comentar o assunto, mas o órgão não respondeu o e-mail enviado pela equipe de reportagem.

O que diz o hospitalProcurado para comentar o assunto, o Hospital Dante Pazzanese se manifestou por meio da assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde. Leia íntegra da nota abaixo:

"O Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia esclarece que os pais do menor E.G.B. autorizaram, por meio de documento assinado por ambos e por mais duas testemunhas, também parentes da criança, a realização de uma necropsia a fim de investigar cientificamente a causa do obtido do paciente.

Em qualquer necropsia, órgãos podem ser retirados para investigação científica. O procedimento foi realizado seguindo protocolos médicos internacionais e o material colhido foi o necessário para a realização da análise, com finalidade estritamente científica. O óbito do paciente será investigado pela Comissão de Óbitos do Dante Pazzanese, como sempre ocorre.

O paciente, com 1 ano e 2 meses, foi transferido para o Dante Pazzanese no dia 16 de abril, com quadro de cardiopatia grave, que evoluiu para insuficiência cardíaca. Além disso, apresentava forte quadro de dermatite (inflamação crônica da pele) e outras deformidades congênitas – má formação óssea, hipodesenvolvimento (baixo peso para idade, apenas 5,9kg), entre outros.

Houve a necessidade de, num primeiro momento, controlar a inflamação da pele, situação que inviabilizava a realização da cirurgia cardíaca. Assim que o quadro foi estabilizado, o paciente passou por procedimento cirúrgico, realizada em 26 de abril. O paciente teve evolução satisfatória durante o pós-operatório, mas no dia seguinte evoluiu com arritmia cardíaca e parada cardiorrespiratória. Apesar da realização de diferentes manobras médicas para ressuscitação, o paciente não resistiu e morreu.

Diante da fragilidade do quadro clínico exposto, associada a múltiplas doenças congênitas que cria um cenário de indefinição ao motivo do óbito, o Instituto Dante Pazzanese sugeriu aos pais a realização da necropsia, procedimento esse não obrigatório, porém prontamente aceito pelos pais da criança.

O laudo da necropsia ficará pronto em até 60 dias. O Instituto Dante Pazzanese se coloca à disposição dos familiares e também das autoridades policiais para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o caso."


Veja a reportagem na íntegra no link abaixo:
http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/05/policia-investiga-suposto-erro-medico-e-retirada-de-orgaos-de-bebe-morto.html

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