sexta-feira, 20 de maio de 2011

Meningite mata garoto de 16 anos em 30 horas




por Jornal O Hoje, sexta, 20 de maio de 2011 às 08:37



O primeiro sintoma foi às 9h30 de terça-feira (17), durante o recreio na escola. O jovem Natanael Rodrigues Pereira, de 16 anos, começou a sentir dores de cabeça, febre, ânsia de vômito e calafrios. Uma professora o orientou que fosse para casa repousar e ele obedeceu. Algo em torno de 30 horas depois, ele viria a óbito, e quase sem conhecer a verdadeira doença. Natanael completaria 17 anos no dia 3 de junho, mas faleceu às 15h40 de quarta-feira (18) vítima de meningite.



A família recorreu de início a um Cais, onde o médico disse que ele sofria de virose, depois em hospital privado, lançou-se a suspeita de dengue hemorrágica, e só no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), quando ele já devia estar em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas não havia vaga para acolhê-lo, a família ficou sabendo que os sintomas sinalizavam, no entanto, para meningite meningocócica, ou seja, bacteriana e em estágio avançado.
O caminho percorrido em busca de tratamento e respostas para o caso é o suficiente para ter noção real da situação da saúde pública em Goiás. Em casa, no Parque Trindade 1, em Aparecida de Goiânia, o garoto se mostrou fraco e um dos irmãos, o serigrafista Diego José da Silva, 24, decidiu ir com ele ao Cais da Chácara do Governador, região leste de Goiânia. Eram 12h30 quando chegaram. Foram atendidos às 17h05, mais de 4h30 depois – para meningite, cada minuto sem tratamento significa quilômetros andados em direção à morte. No intervalo, Natan – como é chamado pelos familiares – lidou com o sofrimento das dores e do mal-estar do lado de fora do Cais. A consulta só foi agilizada após ele ter vomitado e o irmão ter pedido até “pelo amor de Deus” para ele ser atendido.




A consulta durou, conforme Diego, cerca de cinco minutos. “O médico nem tocou nele. Pediu que fizesse hemograma e fosse aplicado Dipirona na veia.” Os vasos sanguíneos já estavam frágeis. Não foi possível sequer tomar todo o remédio. A enfermeira teria feito sete furos na tentativa de segurar a veia, mas nada. Feito o exame, o médico não conseguiu identificar nenhum motivo aparente, disse que poderia ser virose e receitou Dramin no intuito de conter o vômito. A medicação amenizou por instantes. De volta em casa, Natanael apresentava-se lúcido, mas fraco. Deitou no sofá antes de ir dormir. A madrugada, porém, não foi nada tranquila. Levantou diversas vezes para ir ao banheiro vomitar. Por volta das 5 horas, chamou o irmão mais velho, com quem morava, o motorista Ulisses José da Silva, 29.



A irmã, Vanessa José da Silva, 22, foi chamada. Foram com ele para outro Cais, o do Jardim Nova Era, em Aparecida. Eram 6 horas e o local já estava cheio.

UTI obtida mediante pressão no HDT, mas já era tarde



Sem atendimento no Cais Nova Era, Natanael Rodrigues Pereira foi levado para um hospital privado, o Lúcio Rebelo, no Setor Pedro Ludovico, região sul da capital. “Lá foi rápido. Chegou andando, mas bem debilitado. Levaram-no para a enfermaria e logo lhe deram medicação e pediram que fossem feitos dez exames”, conta Vanessa, irmã da vítima.



Desde o princípio, no entanto, suspeitaram que pudesse ser dengue hemorrágica e pediram exame es¬pecífico. A situação piorou no decorrer do dia e aconselharam colocá-lo em UTI. No Lúcio Rebelo, a diária é de R$ 3 mil. Tentou-se uma vaga no Hospital de Doenças Tropicais e a família foi informada que lá teria espaço. Não tinha, e isso só foi descoberto quando lá chegaram com o garoto já entubado e sedado. A discordância de informações gerou o conflito. Uma tia e a irmã chamaram a imprensa e o Ministério Público, no intuito de solucionar o caso. Enquanto isso, o tempo passava e Natanel aguardava no corredor do local. Câmeras de TV posicionadas e promotor presente, levaram-no para um quarto e tentaram reanimá-lo. Depois o puseram no semi-intensivo. Foram feitos vários exames, entre eles o que diagnostica a meningite. Minutos depois, o médico chamou os parentes e deram a notícia: quadro avançado e infecção generalizada dos órgãos.



“O médico abriu a porta quando estavam eu e mais uma tia próximas a ele e disse somente: 1Ele está partindo1. Depois, saiu e fechou a porta”, conta a irmã.



Diagnóstico parecido com de dengue



A meningite é altamente contagiosa. Trata-se de um processo inflamatório das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. É capaz de atingir pessoas de qualquer idade e pode ser causada por bactérias, vírus, parasitas e fungos. O contágio é de indivíduo para indivíduo, por via aérea, ou seja, tosse e gotas de saliva de um que já esteja infectado.


No caso de Natanael, ele foi infectado via respiração


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