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sexta-feira, 1 de junho de 2012
Plantão da Justiça se torna última esperança para quem fica sem tratamento médico
No plantão do Tribunal de Justiça do Rio, uma rotina dolorosa. Dezenas de pessoas aguardam, noite após noite, uma liminar judicial para garantir a internação nas redes pública e privada de saúde. Os pedidos respondem por 90% da demanda no órgão. A estimativa foi feita um dia depois de vir à tona o caso do menino Enzo, de 1 ano, que morreu há dois meses, após ter sua internação recusada no Hospital de Clínicas de Niterói. O plano de saúde do menino era Amil.
— Cerca de 60% dos atendimentos são pedidos de liminar para a internação na rede pública e 30% na privada. Geralmente, os hospitais e planos dizem que não há vagas, mas esta é uma alegação descabida. Se a pessoa paga, tem que ter a vaga, nem que seja em outro hospital da rede credenciada, o plano tem que resolver e arcar com os custos — afirmou a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine, responsável ontem pelo plantão judiciário.
A demanda é generalizada, mas, segundo a juíza, algumas empresas de saúde se destacam nas críticas:
— A Amil tem essa conduta em toda parte. Também observamos que a operadora tem reiteradamente descumprido as ordens e que tem praticado a reserva de vagas. Informam ao cliente que não há vaga, mas quando um oficial de Justiça se apresenta, fica constatado que a vaga existia — afirmou Juliana Krykhtine.
Na tarde de ontem, Karla foi à 81 DP (Itaipu) para pedir uma investigação sobre a morte do filho. Ela contou que irá entrar com uma ação na Justiça contra o hospital e o plano de saúde, que são acusados de negligência.
— Abrimos um inquérito por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e vamos intimar todos os envolvidos (hospital e plano de saúde) — disse o delegado Gabriel Ferrando.
Procurada ontem, a Amil não foi encontrada. Na quarta-feira, em nota, a empresa informou que "lamenta a morte da criança e que em momento algum houve qualquer tipo de interrupção de cobertura assistencial, que comprometesse o estado de saúde do mesmo".
Enzo não resistiu a tantas dificuldades
Recontar a história do pequeno Enzo ainda é um tormento para sua mãe, Karla Paes. A operadora de telemarketing, que já está há dois meses afastada do trabalho por um quadro depressivo, voltaria à rotina no próximo dia 20 de junho. Algo impossível para ela.
— Na semana passada, meu psicólogo avisou que meu quadro tinha piorado. Não consigo deixar essa história de lado — disse ela.
Karla contou que pretende acompanhar de perto cada passo do inquérito policial que investiga a morte do seu filho. Mas por indicação do psicólogo, ela deveria deixar o assunto com a polícia.
— Sou mãe e vou acompanhar cada detalhe dessa investigação. Vou até o fim nessa história — contou Karla.
Abatida, em depoimento na 81 DP (Itaipu), Karla precisou lembrar cada detalhe dos últimos momentos que passou com o filho no Hospital de Clínicas de Niterói:
— Cada vez que lembro disso tudo parece que estou revivendo a história e, no fim, vou conseguir mudar o desfecho e ter meu filho de volta. A ficha não cai.
O quarto de Enzo, na casa dos pais, em Itaipu, está fechado desde a morte do menino. Todos os pertences e fotos da criança foram recolhidos da casa da família:
— Desde que ele morreu não vou ao quarto do Enzo. Tirei todas as lembranças dele da casa. Cada canto que olho lembro dele descobrindo a vida aqui dentro.
Reflexos na família
Os transtornos refletem em toda a família. Segundo Karla, sua filha mais velha, de 10 anos, está com problemas sucessivos na escola desde que o irmão morreu no hospital.
— Ela perdeu provas na época que o irmão morreu e fez a segunda chamada escondida. Até hoje ela não aceitou a morte do irmão — afirmou a operadora.
Os pais e irmãos de Enzo também estão com acompanhamento psicológico. Para dormir, até hoje Karla precisa de remédios:
— Por todo esse transtorno causado, quero que o plano pague pelos danos.
Entenda o caso:
Pneumonia
Enzo foi diagnosticado com pneumonia no dia 19 de março, em uma clínica particular. Sem melhora no quadro, a mãe voltou a procurar atendimento no dia 23 do mesmo mês.
Hospital das Clínicas
Enzo foi atendido na emergência do Hospital de Clínicas de Niterói, mas teve a internação recusada, acusou a família.
Liminar judicial
Karla conseguiu uma liminar que obrigava o hospital a internar o menino na UTI no dia 24. A ordem judicial foi descumprida.
Internação
Enzo só foi levado para o quarto no dia 25.
Transferência
Somente no dia 27 de março, com a evolução do quadro e o aparecimento de uma infecção generalizada, o hospital transferiu Enzo para a UTI.
Óbito
Quase 13 horas após a internação, Enzo teve uma cardíaca e morreu
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/plantao-da-justica-se-torna-ultima-esperanca-para-quem-fica-sem-tratamento-medico-5089121.html#ixzz1wamK1ukr
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