sexta-feira, 6 de abril de 2012

Avaliação de médicos em SP tem abstenção de 84%

KARINA TOLEDO - O Estado de S.Paulo
A participação dos estudantes de Medicina no Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) - que avalia o conhecimento dos formandos na área - caiu 70% nos últimos sete anos. Na prova deste ano, apenas 16% dos alunos compareceram e 46% foram reprovados, o que faz a entidade repensar o modelo de avaliação.

A participação no exame do Cremesp não é obrigatória nem requisito para o exercício da medicina. É, no entanto, um importante indicativo da qualidade da formação médica no Estado. Quando a prova foi criada, em 2005, 998 do 1,9 mil estudantes de Medicina do Estado participaram - 52%. Neste ano, apenas 418 estudantes, de um total de 2,5 mil, compareceram.
Para Renato Azevedo, presidente do Cremesp, a queda nas inscrições pode ser explicada em parte pelo boicote de algumas universidades. "Não tivemos nenhum aluno da USP, por exemplo, que é considerada a melhor faculdade de Medicina do País." Ainda assim, diz, o resultado é significativo e aponta uma grave falha na qualidade do ensino médico.
Mau desempenho. O índice de 46% de reprovados entre os inscritos deste ano está dentro da média verificada nos sete anos de existência do exame. "Acreditamos que se inscrevem para a prova aqueles que se julgam mais bem preparados. A situação real, portanto, pode ser ainda pior. O que estamos fazendo é uma denúncia sobre a precariedade do ensino de Medicina no País", ressalta.
Segundo Azevedo, 40 novas escolas foram abertas nos últimos oito anos, muitas sem hospital-escola. "Nem há professor para atender a essa demanda. A consequência disso é que estão sendo formados médicos sem condições de atender a população."
Problemas. Os resultados deste ano mostram dificuldade até em áreas essenciais da medicina, como clínica médica (43,5% de erro), obstetrícia (45,9%) e pediatria (40,7%). Mais de 60% dos candidatos não souberam apontar que febre alta e persistente é indicativo de infecção bacteriana grave em recém-nascido. E 66% não souberam dizer quais medicamentos não são indicados para tratar infecção na garganta.
Mas o Cremesp admite que, se a tendência de queda na participação se mantiver, a realização do exame se tornará inviável. "Por isso defendemos que o exame se torne nacional e obrigatório", afirma Azevedo. Isso, no entanto, não poderia ser feito sem uma mudança na legislação.
Para o coordenador do exame no Cremesp, Reinaldo Ayer, uma alternativa seria a entidade se aproximar das faculdades e aplicar em parceria uma avaliação ao longo do curso. "Algumas universidades já estão aplicando sua própria avaliação ao final do segundo, do quarto e do sexto ano. Isso é positivo, pois permite que se identifiquem os problemas quando há tempo de corrigir. Mas é necessário que também exista uma avaliação externa", afirma.

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