terça-feira, 26 de julho de 2011

Via crucis em postos de saúde - Belém do Pará





Edição de 26/07/2011 Tamanho do Texto





Pacientes percorrem unidades DE BELÉM E ANANINDEUA em busca de atendimento; falta de médicos causou revoltaFilas, reclamações e falta de atendimento marcaram a manhã de ontem nas Unidades Municipais de Saúde e Prontos-Socorros de Belém e Ananindeua. Nos bairros da Marambaia, em Belém, e Paar, em Ananindeua, apenas um médico tentava dar conta da demanda. Na Cidade Nova VI, o problema era a falta de traumatologista. "Tem uma fila enorme lá dentro e, pela terceira vez, a atendente veio dizer que o médico está chegando. Está chegando desde as 6 horas da manhã e, até agora, não apareceu", contou Alessandra Sena, que desde as 6 horas aguardava atendimento para a avó, Nazaré Silva, que caiu durante a madrugada e podia ter fraturado a clavícula.A direção da Unidade de Saúde da Cidade Nova VI não quis comentar o problema, mas, por volta das 10 horas, um funcionário do posto confirmou que vários pacientes aguardavam o médico que deveria ter chegado ao local às 8 horas. Com dificuldade para respirar, por causa de uma crise de asma, Eliana Cordeiro também buscou atendimento da Cidade Nova VI, mas a dona de casa foi aconselhada a buscar atendimento no Posto de Saúde do Paar, bairro aonde mora. "Eles não querem atender porque dizem que tem um posto de saúde onde eu moro, mas eu já vim de lá e também não tem médico", denunciou.A reportagem foi até a Unidade de Saúde do Paar e confirmou a denúncia. No posto, apenas um médico havia comparecido ao plantão, ontem de manhã, para atender consultas marcadas previamente. A urgência e emergência estava descoberta. Revoltada, Maria Izabel da Silva aguardava desde 6 horas atendimento para a filha, que passou mal durante a noite de domingo. "Nós corremos para cá ontem (domingo), mas informaram que não tinha médico. Disseram pra gente voltar de manhã. A menina passou a noite em casa, com dor, e quando chegamos, agora de manhã, ouvimos novamente que não tem médico para atender." A doméstica Maria Sueli Corrêa também foi surpreendida pela falta de médico na Unidade. "Mandaram a gente tentar ser atendido lá na Cidade Nova VI ou no Posto 4."Também no Paar, ninguém da direção do Posto de Saúde foi encontrado para comentar a falta de médicos na unidade. Nas segundas-feiras de julho o atendimento parece comprometido também em outros setores. Uma fila se formou apenas por pessoas que aguardavam encaminhamento para exames que não podem ser feitos na própria unidade. A aposentada Maria Pereira é uma das que dependem desse serviço. Há dois meses ela tenta marcar raios-x. "É a terceira vez que volto aqui para tentar marcar o exame". Segundo um funcionário que não quis se identificar, o aparelho que poderia fazer o exame de Maria quebrou há 4 anos e nunca foi consertado.Prefeitura - A Secretaria de Saúde de Ananindeua informou, em nota, que o traumatologista da Unidade da Cidade Nova VI chegou atrasado, mas o atendimento foi normalizado ainda pela manhã. Sobre a Unidade de Saúde do Paar, a secretaria diz que "os atendimentos ocorreram normalmente com três médicos na urgência/emergência, pediatria e clínica geral". "Infelizmente, falta médicos", admite diretorNa Unidade de Saúde da Marambaia - o Posto 4 - em Belém, quem procurou atendimento de urgência e emergência, ontem de manhã, foi informado que o plantonista do horário estava de férias e a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) ainda não havia mandado um substituto. Apenas quem já tinha consulta marcada conseguiu atendimento no local. O diretor da unidade, Mário Rego, admitiu que o número de médicos do município é insuficiente para cobrir a rede. "Infelizmente, faltam médicos. Durante o mês de julho a situação é ainda pior porque muitos profissionais tiram férias nesse período", comentou. A direção do Posto de Saúde aguardava que a Sesma mandasse um substituto para o horário, mas não soube informar quando isso seria feito. A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou, em nota enviada à redação, que o médico do setor de urgência e emergência da UMS Marambaia "precisou se ausentar por motivos de doença e solicitou um afastamento de 15 dias para sanar o problema de saúde que vem enfrentando. A Sesma tenta substituir este profissional para não deixar a unidade descoberta, uma vez que julho é o mês atípico, onde a Secretaria encontra algumas dificuldades para manter os profissionais nas unidades, já que é o mês de férias escolares."Família denuncia negligência; Sesma rebateNos dois prontos-socorros de Belém, apesar das filas, o atendimento aconteceu normalmente durante a manhã de segunda. A denuncia mais grave partiu do autônomo Aldo Araújo. Segundo ele, a mãe, Maria Lúcia Mendonça Araújo, pode ter falecido por negligência no atendimento. A idosa, de 65 anos, foi levada ao Pronto-Socorro da Travessa 14 de Março na noite de domingo. Os sintomas eram dor no peito e falta de ar. "O médico passou uma medicação e meia hora depois liberou a minha mãe. Apesar de ela ainda se queixar de dores. Ele disse que os sintomas iam passar assim que o remédio fizesse efeito, mas não passou. Hoje (ontem) de manhã ela voltou a sentir dores ainda mais fortes, trouxemos ela pra cá novamente, mas ela não resistiu", relatou. A família questiona a liberação da idosa. "O que a gente não se conforma é que mandaram ela de volta para casa, mesmo com ela dizendo que não estava bem", disse, inconformada, a filha, Lúcia Araújo, enquanto aguardava a liberação do corpo.Outro lado - Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que "a paciente Maria de Lúcia Mendonça Araújo deu entrada ontem (24) no HPSM Mário Pinotti (14 de Março) apresentando dores. A paciente foi atendida pelo médico clinico Dr. Carlos Madureira, que prescreveu uma medicação para dor e solicitou os exames de eletrocardiograma e ultrassom para a paciente, com o objetivo de descobrir o motivo de seu mal estar. Após a administração do medicamento, Maria de Lúcia teve uma melhora no seu quadro de dor. Devido a aparente melhora, os familiares resolveram levar a paciente para sua residência, sem realizar os exames solicitados pelo médico. Hoje (25), pela manhã, a paciente retornou ao hospital, às 10h25, mas infelizmente já chegou em óbito. O atestado de óbito consta como causa desconhecida, uma vez que a paciente não chegou a realizar os exames solicitados pelo médico que a atendeu.

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