quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A vergonha continua

descaso e morte


Fila do CTI tem 138 pacientes

Apesar de terem conseguido transferências para hospitais do Rio e da Baixada Fluminense, o drama de sete pacientes graves de São João de Meriti ainda não chegou ao fim. Segundo familiares, não há leitos para todos em Centros de Tratamento Intensivo e eles continuam sem a assistência necessária. Um deles é Hamilton do Nascimento, que até a tarde de ontem estava na emergência do Hospital Adão Pereira Nunes, em Saracuruna. O irmão dele, Adílson Nascimento, de 53 anos, ligava para hospitais à procura de um leito, em vão. Assim como Hamilton, o estado tem mais 137 pacientes à espera de uma vaga.



— Estamos fazendo um trabalho que deveria ser do estado. Meu irmão teve um AVC e, por não ter atendimento adequado, está piorando. Ele já tem uma infecção pulmonar.



Nesta terça-feira, Geruza Helena Espinoso, de 44 anos, buscava notícias do pai, que foi transferido, na segunda-feira, para o Hospital de Saracuruna.



— É triste saber que meu pai trabalhou tanto, a vida toda pagando impostos, e, na hora em que precisa de um atendimento, não tem — desabafou.



Segundo a Prefeitura de São João de Meriti, ontem, nenhum paciente precisou ser transferido. Até esta terça-feira, sete pessoas já haviam sido levadas a hospitais do estado. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, só uma estaria em estado grave, mas já no CTI.



No domingo, a idosa Magda Lúcia dos Santos morreu esperando por uma transferência. Na ocasião, a Central de Regulação de Leitos informou que, em casos gravíssimos, os pacientes poderiam ser transferidos diretamente. A Promotoria de Justiça de Saúde de Nova Iguaçu apura o caso.



O superintendente da central, Carlos Alberto Chaves, foi convidado para uma reunião, na terça-feira, com o Procurador-Geral de Justiça em exercício, Carlos Antonio Navega, e promotores de Justiça da capital e da Baixada Fluminense, que atuam na Saúde Pública, para discutir os problemas.



Nem por via judicial



Existem hoje no Rio 138 pessoas aguardando vagas em CTIs — e, em média, sete morrem por dia na fila, segundo uma fonte da Secretaria estadual de Saúde. Das 138 pessoas, 18 têm uma ordem judicial para serem internadas imediatamente, mas não conseguem transferências. O governo estadual tenta convencer a União, as prefeituras e os hospitais universitários a deixarem todas as suas vagas sob a gerência da Central de Regulação de Leitos. Para o superintendente do órgão, Carlos Alberto Chaves, essa é a única forma de resolver a situação.



O governador Sérgio Cabral reconheceu a falta de leitos.



— Mais do que dobramos o número de leitos em CTIs, mas ainda é insuficiente. É preciso haver maior ampliação da rede municipal — cobrou Cabral.



Estado é condenado



A Justiça condenou o governo do estado a pagar uma indenização de R$ 60 mil à mulher de um paciente que morreu após cair de uma maca, onde havia permanecido durante a noite. O incidente ocorreu no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio. Internado com hipertensão, o marido de Jacilda Gomes sofreu um hematoma na cabeça após a queda.



Segundo a desembargadora Vera Maria Van Hombeeck, o exame cadavérico mostrou que a morte ocorreu por traumatismo craniano com hemorragia subdural causado por ação contundente, o que comprova a negligência. Segundo a juíza, ficou demonstrado que, após a queda, não houve a devida investigação do caso.

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