sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Hospital da Unimed, no Rio, tem nova queixa de demora em atendimento

Após a morte de Ana Carolina Cassino, de 23 anos, que morreu neste domingo (17) de uma infecção generalizada, depois de esperar por mais de um dia por uma cirurgia de apendicite, um empresário que teria passado por uma situação parecida no mesmo hospital decidiu falar. Ele afirma que aguardou durante seis horas na unidade para passar pelo mesmo procedimento- entre atendimento, diagnóstico e espera para vaga para cirurgia.
“Eu também, imagino que ela era cheio de sonhos, eu também sou cheio de sonhos, família, E aí ninguem está preocupado com nossos sonhos”, disse Carlos Eduardo, que também teve apendicite e recorreu ao Hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.
Quando avisaram que ele ainda poderia esperar mais três horas por uma ambulância para levá-lo ao hospital onde seria a cirurgia, desistiu. Procurou outro hospital, onde pagou pela operação, que foi feita imediamente.
“Já estava diagnosticado que eu tinha apendicite e precisava operar e esperar de 10 às 16h depois de duas a três horas por uma ambulância, eu vi que aquilo não ia ter fim naquele dia então ia passar para o próximo dia. A gente sabe que apendice quando sutura, quando inflama a dor qual é e o que pode acontecer e eu tomei a atitude de sair e procurar uma clínica particular e paguei por isso. Após uma hora e meia eu tava operado deitado na cama já de repouso”, disse Carlos Eduardo.
CRM vai abrir sindicância
A família de Ana Carolina Cassino acusa o hospital de demora para a realização de cirurgia e o Conselho Regional de Medicina (CRM) disse que vai abrir uma sindicância para apurar o caso.
Ana Carolina estava planejando o casamento com o noivo Leandro Nascimento Farias. Juntos desde 2007, o casal viveu intensamente o relacionamento. Ana Carolina e Farias se conheceram no Ensino Médio, fizeram faculdades de farmácia juntos, trabalhavam na Maternidade Fernandes Figueira e cursavam a mesma pós-graduação.
“Nós éramos praticamente uma pessoa só. Em todo momento da minha vida ela estava presente. Estou me pegando na gana de justiça para não me derrubar. Nós tínhamos planos de ter filho. A gente sempre foi muito planejado, não éramos daqueles jovens de viajar, gastar. Nós abrimos mão de muita coisa para conseguir a nossa casa própria e realizar nossos sonhos”, contou Leandro.
Parentes de Ana Carolina cobram explicação da direção do Hospital da Unimed. Para a família, a demora de 24 horas para a realização de uma cirurgia de apendicite pode ter provocado o óbito. Leandro Farias contou que o hospital entregou uma cópia do prontuário na manhã desta quarta-feira (20). Em um primeiro momento, a unidade informou que só entregaria o documento mediante um mandado da Justiça.
'Negligência', diz noivo
“Até agora ninguém me procurou, ninguém da alta cúpula. Eu fui atendido por um simples funcionário da ouvidoria. Eu quero provar o óbvio, que o que aconteceu com ela foi por negligência do plano, do hospital e por partes dos funcionários. Isso [apendicite] é uma coisa que todos nós estamos sujeitos a desenvolver, uma cirurgia que não demora mais de 30, 40 minutos. Todo mundo sabe quanto custa um plano da Unimed. A burocracia matou ela, o descaso, a falta de humanização dos profissionais da saúde”, afirmou noivo da jovem.
Casal estava junto há 7 anos e iria casar (Foto: Leandro Nascimento Farias / Arquivo pessoal)Casal estava junto há 7 anos e iria casar (Foto:
Leandro Nascimento Farias / Arquivo pessoal)
Jovem tinha consciência da infecção
Leandro contou que Ana Carolina sempre se preocupou muito com as pessoas que estavam à sua volta. Já no Centro de Tratamento Intensivo, ele contou que a farmacêutica fez um pedido para o médico:
“Ela tinha consciência do que estava acontecendo. Então ela disse para o médico: doutor, não conta pra minha mãe que eu estou com infecção generalizada, porque minha mãe tem medo dessa palavra”, contou o noivo, que disse ao G1 que o pai de Ana Carolina morreu há quatro anos por infecção generalizada e ela não queria deixar a mãe mais preocupada.
“O que aconteceu com ela é inaceitável, uma jovem feliz, com muita saúde e muitos planos. Ela era uma excelente profissional. Até o último minuto da vida dela ela se preocupava com as pessoas”, lamentou Leandro.
Em nota, a diretoria médica do Hospital Unimed-Rio informou que todo o processo de atendimento à paciente Ana Carolina Domingos Cassino foi avaliado por suas comissões de Óbitos e de Prontuário Médico. Segundo a diretoria da unidade, as conclusões serão analisadas pela Comissão de Ética do Hospital Unimed-Rio e será encaminhado ao representante legal de Ana Carolina Domingos Cassino. O Hospital Unimed-Rio reforçou o pesar já manifestado pelo ocorrido, se solidarizou com a família e reafirmou seu compromisso com o mais breve esclarecimento do caso.
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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cremesp apura suposto erro médico em morte de bebê por meningite

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) investiga se houve erro médico na morte de uma criança de 1 ano diagnosticada com meningite viral em Franca (SP). Miguel Schentl de Oliveira morreu segunda-feira (18) depois de ficar internado por uma semana na Santa Casa e de ter passado por diferentes atendimentos no pronto-socorro infantil da cidade e em um posto de saúde do Jardim Aeroporto sem que o problema fosse constatado. A Prefeitura informou que somente vai se pronunciar após ter acesso aos relatórios de atendimento.
A técnica em enfermagem Neide Aparecida Schentl afirma que seu neto começou a apresentar febre no começo de julho e que desde então vinha passando por diferentes atendimentos. Em todos eles, segundo ela, os médicos deram pareceres diferentes e superficiais sobre o estado de saúde do menino.
“A criança chegou a passar pelo pronto-socorro várias vezes, umas três vezes por semana pelo menos. Em uma época era febre. Eles davam amoxicilina, mas quatro, cinco dias depois ele [o bebê] voltava a ter febre e então falavam que era problema de garganta. Outro que era ouvido, outro estomatite. Um médico até desconfiava do outro”, diz a avó.
Segundo ela, somente em um domingo (10), Dia dos Pais, constatou-se que a criança estava com meningite. No mesmo dia, Miguel foi internado na Pediatria às 19h50, segundo informações da Santa Casa, e foi transferido para o CIT Infantil no dia 11. Porém, sete dias depois, a criança não resistiu e morreu às 14h35 desta segunda-feira. As causas da morte, segundo o hospital, foram edema cerebral e encefalite aguda disseminada em função de meningoencefalite, ou seja, meningite.
Miguel, de 1 ano, morreu por meningite em Franca, Sp (Foto: Alexandre Sá/EPTV)Miguel, de 1 ano, morreu por meningite em Franca
(Foto: Alexandre Sá/EPTV)
“Até então diziam que era [meningite] bacteriana, depois foi confirmada que era viral. Só que a meningite causou o edema na cabeça dele, porque, com o passar do tempo, os remédios mascararam a doença. Demoraram a descobrir a doença, deveriam ter feito um exame mais preciso na criança”, lamentou a técnica em enfermagem.
De acordo com o delegado do Cremesp Ulisses Menicucci, a entidade abrirá uma sindicância para apurar se houve falha médica na hora de constatar a meningite, ainda que esta segundo ele, seja de difícil diagnóstico.  “Enviamos um ofício aos locais onde a criança foi atendida, solicitamos os prontuários e através desses prontuários convocamos os médicos envolvidos para que façam as manifestações. Depois das manifestações dos médicos fazemos uma conclusão”, afirma.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Prefeitura de Franca comunicou que apenas comentará o caso após analisar todos os prontuários de atendimento ao menino Miguel.
Neide Aparecida alega que seu neto passou por vários atendimentos sem diagnóstico antes de morrer (Foto: Alexandre Sá/EPTV)Neide diz que neto passou por atendimentos sem diagnóstico antes de morrer (Foto: Alexandre Sá/EPTV)

No Inca, doente morre aguardando cirurgia

RIO — Além do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), outro federal de referência, o Instituto Nacional do Câncer passa por momentos de agonia. Há uma semana, o representante comercial Maricélio Alfradique, de 59 anos, esteve na unidade da Praça da Cruz Vermelha, no Centro, para remarcar uma cirurgia. Acompanhado pela filha, ele chegou à sala de espera em cadeira de rodas, sentindo muitas dores no abdômen, em consequência de um tumor no estômago. Em abril, a previsão era que ele fosse operado este mês. Durante a espera, Alfradique foi ao Inca três vezes para tentar antecipar o procedimento. De nada adiantou. No fim de julho, sua saúde piorou. Debilitado e com a imunidade baixa, por ter passado por quatro sessões de quimioterapia, ele contraiu pneumonia e a cirurgia não pôde ser marcada. Alfradique morreu na madrugada da última quarta-feira, após esperar por mais de cem dias pela cirurgia no Inca.
— A espera de mais de três meses pela cirurgia matou meu pai. A culpa não é dos médicos do Inca, mas do tempo de espera — afirma Carolina Alfradique, de 27 anos.
O caso de Alfradique (que repórteres do GLOBO acompanharam na semana passada) ilustra a atual situação do Inca, que enfrenta uma crise devido à falta de funcionários das áreas médica e administrativa. Segundo fonte ligada a um órgão de saúde federal do Rio, há cerca de 500 vagas aguardando preenchimento nas três unidades do Inca (Praça da Cruz Vermelha, Santo Cristo e Vila Isabel). O déficit tem impacto direto no atendimento. Na unidade do Centro, das dez salas de cirurgias, duas estão fechadas por falta de médicos. Em 2013, lá foram realizados cerca de 5 mil procedimentos. Caso pudesse contar com mais profissionais, o número chegaria a 6 mil. Outro problema é a falta de servidores nas salas de leitos pós-cirúrgicos. Com a escassez de funcionários, cinco vagas estão desativadas.
— O Inca faz o máximo. Os médicos cumprem 40 horas por semana e ganham salário muito abaixo da média. A taxa de ocupação está acima dos 80%, número alto para instituição pública. A crise é grave e compromete o hospital — diz a fonte.
TCU DETERMINOU FIM DA TERCEIRIZAÇÃO
Para tentar sanar a antiga falta de funcionários, em 1991 foi criada a Fundação Ary Fauzino para Pesquisas e Controle do Câncer (FAF), para agilizar a contratação, sem a necessidade de concurso público. Mas, em 2006, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o sistema fosse extinto. Na época, houve acordos que estenderam o prazo até março de 2015.
Em 2010, havia cerca de 1.900 trabalhadores terceirizados no Inca, indicados pela FAF. Para se adequar às normas do TCU, a instituição realizou um concurso e convocou 1.433 funcionários, que substituíram parte dos terceirizados. Atualmente, ainda há 583 profissionais não concursados, que cederão suas vagas aos aprovados em concurso previsto para este ano. Segundo um funcionário da instituição, que pediu para não ser identificado, a situação pode ficar pior ainda:
— Como a partir de março de 2015 o Inca não poderá contar com a FAF, o processo seletivo deste ano vai apenas substituir quem já está trabalhando. Ninguém tem a resposta de como ficarão as 500 vagas que estão abertas. No fim do ano serão cerca de 600. Com a morosidade do governo federal em abrir concursos para o Inca, a situação vai piorar. O instituto pode fechar as portas se algo não for feito.
DIRETOR-GERAL ESTÁ SENDO PROCESSO
Para o Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, a evasão de médicos é devida às condições de trabalho pouco atrativas:
— É difícil segurar um profissional no Inca, mesmo concursado. O salário para uma jornada de 40 horas mensais é muito baixo, se comparado ao de uma unidade particular. Muitos médicos concursados pedem demissão em menos de dois anos, porque não aguentam. Há outro fator: hoje, o Inca tem médicos que entraram pela FAF que recebem salário maior do que os concursados.
No mês passado, o Ministério Público Federal moveu ação de improbidade administrativa contra o diretor-geral do Inca, Luiz Antônio Santini Rodrigues da Silva, por contratação irregular de terceirizados. O MPF alega que, mesmo proibido, o Inca contratou 64 funcionários sem concurso. Também está sendo processada a coordenadora de Recursos Humanos, Cassilda dos Santos Soares.
— A direção tem permissão para manter terceirizados até o ano que vem, mas não pode contratar ninguém sob o mesmo regime. A ausência de concurso permite que um candidato assuma uma vaga sem méritos. Isso não é permitido — alega o defensor público Sergio Suiama, autor da ação do MPF.
De acordo com o defensor público federal, Daniel Macedo, outro problema grave é que o Inca não está cumprindo o prazo máximo de 60 dias para atender pacientes que precisam passar por sessões de radioterapia:
— Acima de 60 dias é um prazo muito longo para quem precisa do tratamento imediato. A situação no Inca está ruim, mas, nas outras unidades de saúde do Rio que oferecem radioterapia, é pior ainda. Ou o doente espera na fila do Inca ou a chance de morrer aumenta.
Procurado, o diretor-geral do Inca não quis dar entrevista, mas a assessoria afirmou que todos os setores funcionam normalmente. O Ministério da Saúde também não respondeu como pretende suprir as 500 vagas em aberto. A Associação de Funcionários do Instituto Nacional do Câncer também não retornou as ligações.
Enquanto isso, quem depende do atendimento do Inca tenta manter a esperança de cura. Tatiana Silva aguarda a marcação da cirurgia da irmã para retirar um tumor no estômago:
— A informação é que a fila está grande. Precisamos aguardar porque quando somos atendidos, os médicos são muito competentes e conseguem curar os doentes. Segundo o Inca, minha irmã será operada em até dois meses.


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Diagnosticada com apendicite morre após esperar 21 horas por cirurgia; Cremerj vai apurar Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/diagnosticada-com-apendicite-morre-apos-esperar-21-horas-por-cirurgia-cremerj-vai-apurar-13676171.html#ixzz3B1ea69LV

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) vai abrir uma sindicância para apurar a morte de uma mulher no Hospital Unimed-Rio, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, após esperar 21 horas para realizar a cirurgia de apendicite. A farmacêutica Ana Carolina Domingos Cassino, de 23 anos, foi diagnosticada com a doença na última sexta-feira, mas só teve a cirurgia agendada para sábado, mesmo com fortes dores na barriga.
Os sintomas começaram na sexta pela manhã. Ana acordou vomitando e com dores na barriga. Por volta das 13h40m, deu entrada na unidade de pronto-atendimento da Unimed, no mesmo bairro, e, às 18h, após realizar alguns exames, foi diagnosticada.
— Aguardamos até as 23h para a Unimed fazer o trâmite burocrático que é arrumar hospital, ambulância e cirurgião — contou o também farmacêutico Leandro Nascimento Farias, de 24 anos, noivo de Ana Carolina.
Ana com o noivo Leandro. Eles se casariam em dezembro
Ana com o noivo Leandro. Eles se casariam em dezembro Foto: Álbum de família
A cirurgia da farmacêutica foi marcada para as 15h de sábado, mas às 13h ela começou a apresentar piora no quadro e precisou ser reanimada, contou Leandro. A cirurgia só foi realizada às 17h30m. O apêndice de Ana foi retirado e ela, encaminhada ao CTI. A jovem, no entanto, acabou morrendo às 5h de domingo:
— Ela já foi pro CTI com infecção generalizada. Foi uma sucessão de erros. Todo mundo sabe que apendicite é coisa grave. Diagnosticou, tem que operar. Não deram importância para o caso dela.
Ele e a noiva moravam juntos desde janeiro e já se preparavam para o casamento, em dezembro. O farmacêutico ainda não conseguiu voltar para a casa.
— Falta coragem. Tudo lembra ela. Estou na casa dos meus pais. Na quinta à noite, estávamos no shopping vendo as alianças. Semana que vem, faríamos sete anos de relacionamento. Judiaram da minha noiva, ela sofreu muito — lamentou Leandro que pretende processar o hospital e o plano:
— Ainda estudo a possibilidade de processar o corpo clínico. Não vai trazê-la de volta, mas outras pessoas não podem passar por isso.
A direção do Hospital Unimed-Rio informou, em nota, que está apurando o processo de atendimento à paciente.
Ana morreu após seguir para o CTI
Ana morreu após seguir para o CTI Foto: Álbum de família
Leia a nota da assessoria do Hospital Unimed-Rio na íntegra:
A Diretoria Médica do Hospital Unimed-Rio informa que todo o processo de atendimento à paciente ANA CAROLINA DOMINGOS CASSINO está sob apuração pelas comissões de Óbitos e de Prontuário Médico do hospital. Todos os procedimentos realizados desde o primeiro atendimento estão sendo avaliados por essas comissões, e tão logo as apurações sejam concluídas serão submetidas à Comissão de Ética Médica do hospital, a quem cabe o parecer final sobre o caso, e comunicadas à família. O Hospital Unimed-Rio lamenta profundamente o ocorrido, se solidariza com a família e reafirma seu compromisso com o mais breve esclarecimento do caso.
Prof. Dr. Luiz Antonio de Almeida Campos
Diretor Médico do Hospital Unimed-Rio


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Pacientes reclamam da espera por uma cirurgia no Into Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/pacientes-reclamam-da-espera-por-uma-cirurgia-no-into-13671162.html#ixzz3B1eFBqDL

RIO — Apesar de ter sido operado no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into) há dois anos, o aposentado Geraldo Dias de Andrade, de 49 anos, ainda não encontrou a solução para as dores que sente na perna direita. Vítima de uma acidente de trânsito, há quinze anos, que o levou a se aposentar por invalides, Geraldo enfrenta uma viagem de cerca de quatro horas para sair de Santo Antônio de Pádua, no Norte Fluminense, até o Centro do Rio, na esperança de conseguir realizar uma cirurgia que acabe com as dores que sente. Nesta quarta-feira, ele foi ter uma consulta no instituto, mas a médica não estava lá.
— Remarcaram a consulta sem dar satisfação. Eu faço tratamento há cinco anos no Into e até já fui operado. Mas, ao invés de resolver, meu problema acabou piorando: o osso da minha perna ficou deslocado e deu artrose — reclamou.
Apesar da demora para marcar uma nova cirurgia, o aposentado elogiou a qualidade dos médicos do instituto. A cozinheira Janette Mello, de 58 anos, também não pode mais trabalhar por causa de problemas nas duas mãos e em um joelho e já está sentindo as consequências da longa fila para conseguir ser operada. Ela aguarda desde 2010. Sem a operação para resolver a perda de cartilagem no joelho esquerdo, Janette acaba forçando o direito, que ficou lesionado. Além disso, as dores na mãos aumentaram e os remédios já não estão surtindo efeito.
— Há quatro anos que eu venho ao Into todas as semanas para tentar ser operada. Cada vez é um médico diferente e eles não conseguiram resolver nem o problema nas minhas mãos, que exigem uma cirurgia mais simples — contou a moradora de São Gonçalo.
Para pressionar o Into a resolver o problema da longa espera dos pacientes, a Defensoria Pública da União entrou na Justiça com uma ação civil pública para que seja apresentado, no prazo de 160 dias, um plano para fazer, em dois anos, cirurgias e procedimentos médicos em 14.077 pacientes que aguardam na fila do instituto. Mais de 53% deles têm mais de 60 anos e alguns esperam há 11 anos.
O Into informou que ainda não foi notificado pela Defensoria, mas informou que algumas das exigências já estão sendo cumpridas. As filas já estão sendo reavaliadas desde o ano passado e o sistema foi informatizado em 2004. A abertura de concurso público, entretanto, só pode ser feita pelo Ministério da Saúde. Segundo o diretor do instituto, o cirurgião ortopedista João Matheus Guimarães, a fila de mas de 14 mil pacientes é de responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo gestor é o município.
— Na realidade essa fila não tinha que estar aqui, mas no SUS. Como o Rio foi capital do país, temos uma grande quantidade de hospitais federais. Isso criou um vício em que o gestor municipal passava as cirurgias mais complexas para os hospitais federais. Além disso, um único paciente pode estar em várias filas. Por isso, queremos unificar — disse.
O Into informou que vem adotando uma série de medidas desde 2013 para ampliar e acelerar o atendimento cirúrgico aos pacientes ortopédicos. Dentre as ações a assessoria do instituto destacou os 16 mutirões de cirurgia realizados no Instituto desde 2013; o recadastramento e a revisão de pacientes da lista de espera, além das parcerias com unidades de saúde com serviço de ortopedia, como os hospitais estaduais da Criança e Dona Lindu, no Rio de Janeiro, que também realizam cirurgias. Essas medidas permitiram a redução da fila, que em dezembro de 2012 era de 21 mil pessoas, para 14 mil, sendo 5,2 mil incluídos este ano. Desde 2013, foram realizados 13.497 procedimentos cirúrgicos. Em relação a 2012, houve o aumento de 42% no número de cirurgias. As cirurgias mais complexas — no joelho, quadril e coluna — têm espera mais longa. Operações podem ser adiadas de acordo com a condição do paciente (em caso de diabetes ou hipertensão, por exemplo).


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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Cresce a proporção de médicos que respondem por erro no país

Entre 2000 e 2012, a proporção de médicos alvo de processos por erro profissional no Brasil quase dobrou. Passou de 4% para 7% – o que significa que, atualmente, cerca de 28 mil profissionais são réus em ações na esfera cível, ética ou criminal. Os dados foram levantados para o livro Erro Médico e Judicialização da Medicina, que será lançado amanhã em Curitiba, durante um debate sobre o tema.
Auxílio
ONG auxilia pacientes e familiares afetados por negligência
“Mataram meu filho.” Moradora de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, Saula Dell’Antonia Silveira, 76 anos, não poupa palavras para acusar de erro médico quem ela considera responsável pela morte do filho, José, em 2001. Saula conta que o filho morreu de infecção, após uma intervenção médica em que foi colocado um cateter na uretra para retirada de pedras no rim. “O médico disse que as dores que ele sentia eram normais, depois não atendeu mais o telefone. Outros médicos não queriam atendê-lo. Foi um crime o que fizeram”, conta Saula, que não conseguiu levar o processo adiante na Justiça, principalmente, por falta de dinheiro.
Para ajudar famílias que passam por situação semelhante, ela fundou a Associação Beneficente José Gaudêncio Silveira, em 2002. “Foi até contra a vontade da família, mas minha mãe precisava disso para poder falar a respeito do ocorrido. Acredito que é missão dela tentar ajudar aos outros”, diz a filha Marta.
Demanda
Ginecologia e Obstetrícia são as áreas com mais acionadas no Paraná
Dos 90 processos analisados pelo advogado Raul Canal no Paraná, 30% são questionamentos sobre erro médico na área Ginecológica e Obstétrica. Em seguida aparecem Ortopedia e Traumatologia (14,4%) e Clínica Médica (11,1%). A maior parte das demandas (22,9%) foi motivada por óbito.
Entre os profissionais que são réus, a maior parte é homem: 78,3%, acima do porcentual de médicos que atuam no Paraná. Segundo o estudo Demografia Médica do Brasil, do Conselho Federal de Medicina, 65% dos profissionais que atuam no estado são homens.
Raul Canal informa que vai terminar o levantamento dos dados de todos os estados até setembro, e que, após, será possível comparar as conclusões do Judiciário. “A intenção é analisar os casos mais graves e as diferenças nos julgamentos. Não pode haver discrepâncias nessas situações”, opina. Segundo ele, o ideal é que seja criada uma espécie de tabela, como a usada por seguradoras, para delimitar a indenização para cada órgão atingido em caso de erro médico, prevendo determinados agravantes.
O país, porém, não está preparado para lidar com o aumento das demandas judiciais. O alerta é do autor do estudo, o advogado e especialista em Direito Médico Raul Canal. Segundo ele, o Judiciário não tem quadros especializados em saúde, e isso acaba criando injustiças para os réus e também para os autores das ações. “O que um juiz aprende sobre Medicina? E, com a carga de trabalho que tem, como vai se debruçar em um processo com sete a dez volumes com terminologia técnica e científica? Não há tempo nem preparo para isso”, afirma.
No Paraná, por exemplo, um dos estados onde Canal já fez o levantamento regionalizado sobre erro médico, foram identificadas 90 ações com decisão de mérito no período de 2000 a 2013. Dessas, 60% foram julgadas improcedentes na 1.ª instância. Ou seja: para os juízes, na maior parte dos casos ocorreu apenas uma fatalidade, e não negligência ou imprudência profissional. “Mas o que ocorre é que, às vezes, o paciente não têm razão e ganha, condenando o médico de forma injusta. E muitas vezes o paciente realmente tem razão, mas não consegue provar, e o juiz inocenta o médico”, explica Canal.
A demora e a falta de conhecimento técnico dos juízes para julgar casos médicos é um problema já reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em agosto de 2013, o órgão aprovou, por unanimidade, a Recomendação n.º 43, orientando os tribunais estaduais a criarem varas especializadas para processar e julgar ações que tenham como objeto o direito à saúde pública. Além disso, recomendou que as varas competentes priorizem os processos relativos à saúde suplementar.
O CNJ fez apenas uma recomendação e por isso cada tribunal tem autonomia para decidir sobre a instalação da vara especializada. O Tribunal de Justiça do Paraná não informou se planeja seguir a recomendação.
Motivações
A falta de qualidade nos serviços médicos é um dos motivos para o aumento dos questionamentos. “Isso ocorre no serviço público e no suplementar. Os médicos são muito mal formados. Em 1998, tínhamos 100 escolas de Medicina. Hoje temos 216. Onde foram buscar professores? Não há corpo docente qualificado. Em 2012, de 192 faculdades avaliadas pelo MEC, só 70 passaram. Não obstante, as de péssima qualidade continuam abertas”, critica.
O acesso à informação também contribui para que as pessoas acionem o Judiciário em busca do que consideram seu direito. “Não há mais paciente. Há um consumidor de serviços de saúde, que não é nada paciente.”
Relação com paciente exige transparência
O presidente do Sindicato dos Médicos no Paraná (Simepar), Mario Ferrari, diz que as condições de trabalho atuais podem causar situações de má prática médica. “A imprudência, a negligência e a imperícia não deveriam ocorrer nunca, mas a jornada excessiva muitas vezes acaba interferindo na conduta profissional”, avalia.
Ferrari alerta, porém, para o que ele considera “demonização” do profissional. “É preciso ver a estrutura disponível e outros fatores, como a baixa remuneração dos planos privados, o que leva a uma jornada excessiva.”
Muitas vezes, quando ocorre uma fatalidade, familiares do paciente não aceitam o ocorrido, e acionam a Justiça. Para evitar isso, diz Ferrari, o médico e o paciente precisam ter uma relação próxima, de confiança e transparência. “Todos os riscos precisam estar bem colocados. Mas a Medicina não é uma ciência exata.”
Jornada excessiva e a situação precária da saúde pública colaboram, segundo o sindicato da categoria, para os erros.
Serviço
Lançamento de livro e debate sobre erro médico.
Data: 10 de abril. Local: Universidade Positivo, anfiteatro 1, bloco amarelo. Endereço: Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, Curitiba.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cremerj vai abrir sindicância para apurar sumiço de paciente

O Conselho de Medicina vai abrir sindicância para apurar o desaparecimento de um paciente do Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio. O RJTV mostrou na segunda-feira (28) a angústia da família de Grayson. Ele sofreu um acidente de moto no dia 21 de julho e foi levado para a unidade de saúde. Uma semana depois o eletricista deixou o hospital sem fazer nenhum contato com a família.
“Se ele internou, está lúcido, está orientado e ele é responsável pela internação dele, aí não há o que fazer. O médico tem que anotar no prontuário que ele se retirou na hora em que descobre, porque as vezes só se descobre após o fato. O Conselho nestes casos abre sindicância”, afirmou o presidente do Conselho Regional de Medicina, Sidnei Ferreira.
O irmão do eletricista contou que o rapaz estava com um coagulo na cabeça e sedado a maior parte do tempo. Na segunda feira (21) quando a família chegou para fazer uma visita levou um susto ao ser informada de que Greyson não estava no quarto e de que ele havia saído por conta própria do hospital.
“Eles com a maior normalidade falam que o meu irmão estava lúcido e apenas saiu. Eu só quero que o Souza Aguiar faça a parte dele. Até me mostrar que o meu irmão verdadeiramente saiu ou se houve algum erro médico, porque eu não tenho certeza, eu quero uma resposta do hospital, porque não pode ser assim. Eu não estou conseguindo viver, como é que eu vou tocar a minha vida assim? Simplesmente eu não sei o que aconteceu com ele”, contou o irmão de Grayson, Cleyton Torquato.
O delegado Cláudio Vieira de Campos, da 4ª DP (Praça da República), afirmou que fez buscas em vários bairros no entorno do hospital e da Central do Brasil. A polícia também pediu as imagens das câmeras de segurança do Hospital Souza Aguiar e o prontuário médico do Grayson. Os funcionários que trabalhavam no dia em que o eletricista sumiu vão ser chamados para depor.
Na segunda-feira a família do eletricista teve uma pista. O Disque-Denúncia recebeu a informação de que Grayson teria sido visto na porta do restaurante popular, atrás da Central do Brasil. “De porta em porta. Aonde for preciso eu vou”, falou emocionado o pai do eletricista Zequias Torquato.
Fonte: G1

TJPE condena Estado a pagar R$ 50 mil a viúva de vítima de erro médico

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) condenou o Estado ao pagamento de R$ 50 mil por danos morais a esposa de um agricultor que morreu por causa de um erro médico durante uma cirurgia no Hospital da Restauração, na área central do Recife. O homem morreu no dia 20 de setembro de 2009, oito horas depois de ter alta hospitalar da unidade de saúde. Segundo o laudo pericial, ele sofreu traumatismo craniano durante uma cirurgia na cabeça. O Estado ainda foi condenado a pagar uma pensão vitalícia no valor de um salário mínimo à viúva.

A sentença foi dada pelo juiz José Viana Ulisses Filho na sexta-feira (25), mas a Procuradoria Geral do Estado informou que ainda não foi notificada oficialmente até esta quinta (31). Apenas depois de ser notificado é que o Estado vai poder recorrer da decisão.

O agricultor sofreu um grave acidente de moto e passou por dois hospitais antes de chegar no HR. No Hospital de Quipapá não foi atendido por causa dos ferimentos graves, e no Hospital Regional do Agreste, em Caruaru, não havia neurologista de emergência. Depois de chegar no HR, no Recife, ele passou por uma cirurgia de aspiração, evacuação e drenagem intracraniana, além de uma reconstituição do crânio. O procedimento é chamado de craniotamia descompressiva.

Ele ficou internado por cinco dias após ter feito uma cirurgia. E oito horas depois de ter alta hospitalar, veio a falecer. Segundo a viúva, a perícia médica constatou que houve irregularidades, abusos, desrespeito, negligência, imprudência e imperícia no tratamento da vítima.

O laudo pericial concluiu que ele morreu em decorrência de um traumatismo craniano que aconteceu durante a cirurgia. O documento aponta que o procedimento era muito delicado e que o paciente teve alta médica de forma precipitada, pois precisava de cuidados hospitalares por mais tempo. O Estado de Pernambuco também foi condenado ao pagamento dos honorários advocatícios, orçados em R$ 2 mil.

Fonte G1

‘Sou inocente’, diz médico acusado de participar da 'Máfia dos Órgãos'

O médico nefrologista Álvaro Ianhez rompeu o silêncio de mais de 14 anos para se defender do caso que ficou conhecido como “Máfia dos Órgãos”. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal de ser o chefe de uma central clandestina de transplantes que teria provocado a morte de um menino de 10 anos, no ano 2000, em Poços de Caldas (MG). Os órgãos foram retirados e encaminhados para doação. Ianhez diz ser inocente em uma entrevista ao G1, que entrou em contato com uma empresa contratada pelo médico para fazer um trabalho de assessoria de imprensa. As respostas foram dadas por e-mail, uma vez que ele preferiu não atender pessoalmente a equipe de reportagem. 
Na entrevista, Ianhez, que será julgado no próximo dia 31, afirma já ter sido absolvido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). “Eu atuei por muitos anos chefiando a equipe de transplantes da cidade e, posteriormente, coordenando a central regional de transplantes do Sul de Minas. Salvei centenas de vidas – e isso não é crime”, comentou.
Salvei centenas de vidas – e isso não é crime"
Álvaro Ianhez
nefrologista
Questionado sobre a morte do menino Paulo Veronesi Pavesi, que foi hospitalizado depois de cair da janela do apartamento onde morava, o médico afirma que não era possível salvá-lo. “Não havia fluxo de sangue para o cérebro e o quadro era irreversível. Erros burocráticos que também ocorrem nos maiores hospitais do Brasil não invalidam o diagnóstico feito pela equipe”. A resposta para esta questão foi retirada de um vídeo divulgado pelo médico na internet.
As denúncias apresentadas pela promotoria contra o médico apontam ainda que apenas o pai da criança teria assinado a doação de órgãos e que no documento não constaria a assinatura da mãe, mas um acordo verbal entre o profissional e a família. “A família manifestou intenção de doar os órgãos do menino. Fui, então, chamado ao hospital. Expliquei a eles como se dava a doação de órgãos e doação foi feita. Fiz o meu trabalho com dignidade.”
Entenda o Caso Pavesi
As investigações do ‘Caso Pavesi’ já duram quase 14 anos. Na denúncia feita em 2002 consta que cada um dos profissionais cometeu atos encadeados que causaram a morte do menino. Entre eles, a admissão em hospital inadequado, a demora no atendimento neurocirúrgico, a realização de uma cirurgia feita por um profissional sem habilitação legal que resultou em erro médico e a inexistência de um tratamento efetivo e eficaz. A denúncia aponta também fraude no exame que determinou a morte encefálica do menino.
Documento atestaria idoneidade da MG Sul Transplantes (Foto: Reprodução/EPTV)Documento atestaria idoneidade da MG Sul
Transplantes (Foto: Reprodução/EPTV)
Ao todo, sete médicos foram acusados de participar dos procedimentos envolvendo o menino Pavesi: Cláudio Rogério Carneiro Fernandes (urologista), Celso Roberto Frasson Scaffi (urologista), Sérgio Poli Gaspar (anestesiologista) – os três já julgados e condenados – José Luiz Gomes da Silva (neurologista), Álvaro Ianhez (nefrologista), José Luiz Bonfitto (intensivista) e Marco Alexandre Pacheco da Fonseca (anestesiologista).
A investigação deu origem a outros sete inquéritos e a Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas perdeu o credenciamento para realizar os transplantes em 2002. O caso foi tema de discussões também no Congresso Nacional em 2004, durante a CPI que investigou o tráfico de órgãos. Vale lembrar que tramitam na Justiça outros oito casos ligados á suposta máfia.
Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)

O caso deu origem a outros oito processos de supostas retiradas e vendas ilegais de órgãos envolvendo outros pacientes. Com as investigações que se seguiram a esse caso, descobriu-se a existência da suposta máfia que tinha o objetivo de traficar órgãos de pacientes em Poços de Caldas, sem respeitar a fila única de transplantes existente no país. O caso também provocou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados em Brasília (DF) em 2004, que pediu providências quanto aos casos da suposta máfia na cidade.

Fonte : G1

Julgamento de médicos acusados de matar criança é adiado em Poços, MG

Conforme previsto, o julgamento dos médicos acusados de matar e retirar irregularmente os órgãos do menino Paulo Pavesi, morto em 2000, foi adiado em Poços de Caldas (MG). Após 1h40 de atraso, a sessão foi aberta na manhã desta quinta-feira (31) no Fórum da cidade e logo depois suspensa pelo juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro após pedido do Ministério Público. Uma nova data para o julgamento foi pré-marcada para o dia 9 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições.
Em entrevista, o juiz disse que a remarcação, mesmo que feita em Belo Horizonte, não deve demorar e que o período eleitoral não deve atrapalhar o processo. "Queremos que seja feito o quanto antes e o período eleitoral só pode prejudicar quem tenha interesse que este julgamento não aconteça antes do pleito eleitoral", comentou.
Antes da sessão ser adiada, os 25 jurados previamente selecionados pela Justiça chegaram a ser convocados no plenário. Os quatro réus, os médicos Álvaro Ianhez, José luiz Bonfitto, José Luiz Gomes e Marco Alexandre Pacheco da Fonseca, compareceram ao plenário. Em seguida, o promotor de Justiça titular da vara da Comarca de Poços de Caldas, Sidney Boccia, recebeu a palavra e solicitou a transferência do julgamento para a Comarca de Belo Horizonte (MG).
Da esquerda para direita, os réus: Luiz Bonfitto, Álvaro Ianhez, José Luiz Gomes e Marco Alexandre (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Da esquerda para direita, os réus: Luiz Bonfitto,
Álvaro Ianhez, José Luiz Gomes e Marco Alexandre
(Foto: Jéssica Balbino/ G1)
"Eu retornei de férias ontem [quarta-feira] e fiquei surpreso com o bombardeio de mensagens subliminares feitas pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) e também pela Associação dos Médicos de Poços de Caldas na imprensa. Concluo que houve abuso de poder econômico e político em favor dos réus e que isso pode influenciar um pré-julgamento por parte do corpo de jurados, que por viver na Comarca, tem contato com os réus e também com os fatos. E se a Associação dos Médicos tem poder econômico para sustentar tais informes publicitários, que arque também com o ônus deste adiamento", disse no plenário.
Ainda de acordo com o promotor, vários jurados o procuraram com medo de irem à sessão do júri, o que também motivou a pedir o desaforamento do caso. "Em 24 anos de trabalho no Ministério Público eu nunca vi uma propaganda tão insistente. Talvez por isso muitos jurados tenham manifestado preocupação diante da responsabilidade de encarar um processo dessa magnitude e o Ministério Público quer que o jurado tenha a tranquilidade para apreciar o mérito", completou Boccia.
Os promotores de Belo Horizonte, Marcelo Matar e Francisco de Assis designados para o caso não estiveram presentes no plenário. Os advogados dos réus José Luiz Gomes, José Luiz Bonfitto, Marco Alexandre Pacheco da Fonseca e Álvaro Ianhez conversaram com o G1
"Eu fiquei em dúvida quanto esta decisão da promotoria e ainda não refleti sobre o caso", disse Orlando Pedro, responsável pela defesa de Bonfitto.
Já o advogado do réu Marco Alexandre Pacheco da Fonseca defendeu o cliente. "Ele é inocente. A acusação é de homicídio e ele não matou ninguém. Ele apenas foi chamado para dar uma anestesia e pronto", comentou Sílvio Arthur Dias da Silva.
"Nossa linha de defesa é afirmar a inocência dos réus, que apesar do processo extenso, não praticaram homicídio! Houve uma exumação que provou que o menino morreu em virtude da queda e não de qualquer erro médico", disse Dorio Ferreira Grossi, advogado de Gomes.
"Para a defesa é indiferente o júri acontecer nesta ou em qualquer outra comarca. Temos certeza que as provas encaminharão a sentença para uma absolvição. O que nos incomoda é o fato de que o Ministério Público desconfie da isenção da comunidade de Poços de Caldas, colocando à prova a imparcialidade dos jurados", disse Leonardo Bandeira, advogado de Álvaro Ianhez.
Início de júri de médicos tem atraso em Poços de Caldas (Foto: Jéssica Balbino / G1)Início de júri de médicos começou com atraso em Poços de Caldas (Foto: Jéssica Balbino / G1)
Os réus do julgamento são quatro médicos: O nefrologista Álvaro Ianhez, o anestesiologista Marco Alexandre Pacheco da Fonseca, o intensivista José Luiz Bonfitto e o neurocirurgião José Luiz Gomes da Silva. Eles são acusados de retirar em 2000 os órgãos do garoto Paulo Pavesi, de dez anos, que caiu de uma área a dez metros do chão. O exame que apontou a morte cerebral teria sido forjado e o garoto ainda estaria vivo no momento da retirada dos órgãos. Os quatro negam qualquer irregularidade tanto nos exames quanto nos transplantes aos quais o garoto foi submetido.
O Caso Pavesi
O caso aconteceu em abril de 2000 e ganhou repercussão internacional. Na ocasião, Paulinho, como era conhecido, caiu de uma altura de 10 metros do prédio onde morava e foi levado para o pronto-socorro do Hospital Pedro Sanches. Ainda de acordo com o Ministério Público, o menino teria sido vítima de um erro médico durante uma cirurgia e foi levado para a Santa Casa de Poços de Caldas, onde teve os órgãos retirados por meio de um diagnóstico de morte encefálica, que conforme apontaram as investigações, teria sido forjado.
Após receber uma conta hospitalar no valor de R$ 11.668,62, o pai do menino, Paulo Airton Pavesi, questionou as cobranças e deparou-se com dados que não condiziam com o que havia sido feito, inclusive com a cobrança de medicamentos para remoção de órgãos, que oficialmente é custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)
A descoberta de um suposto esquema para a retirada ilegal de órgãos de pacientes em Poços de Caldas fez com que a Santa Casa da cidade fosse descredenciada para a realização de transplantes e remoção de órgãos no ano de 2002. A entidade que geria os trabalhos na cidade, MG Sul Transplantes, também foi extinta no município. Quatro médicos: José Luis Gomes da Silva, José Luis Bonfitto, Marco Alexandre Pacheco da Fonseca e Álvaro Ianhez foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado do menino Pavesi.
Na denúncia, consta que cada um cometeu atos encadeados que causaram a morte do menino. Entre eles, a admissão em hospital inadequado, a demora no atendimento neurocirúrgico, a realização de uma cirurgia feita por um profissional sem habilitação legal que resultou em erro médico e a inexistência de um tratamento efetivo e eficaz. A denúncia aponta também fraude no exame que determinou a morte encefálica do menino.
Ainda na época, o médico Álvaro Ianhez foi denunciado por chefiar a entidade MG Sul Transplantes, que realizava as retiradas dos órgãos e os encaminhava aos possíveis receptores. A organização foi apontada pelo Ministério Público como  “atravessadora” em um esquema de tráfico de órgãos humanos.
Segundo o Ministério Público, a constatação da morte encefálica da criança foi feita de forma equivocada, o que levanta a suspeita de que o menino estivesse vivo no momento da retirada dos rins e das córneas. Outra linha de investigação é de que os órgãos retirados do garoto foram transplantados de maneira irregular. As córneas do menino foram levadas para Campinas (SP), quando deveriam ter sido transplantadas em pacientes da lista de espera de Minas Gerais, já que se trata de um procedimento regionalizado.
Em 2010, a Justiça determinou que a equipe médica responsável pela cirurgia de retirada dos órgãos do menino Paulo Veronesi Pavesi fosse a júri popular, o que acontece nesta quinta-feira (31) no Fórum de Poços de Caldas.
Médicos são acusados da retirada e transplante irregular de menino de 10 anos (Foto: Jéssica Balbino/ G1)Médicos foram condenados por  retirada irregular
de órgãos de menino (Foto: Jéssica Balbino/ G1)
Médicos já condenados no caso
Três médicos que foram incluídos posteriormente como réus do Caso Pavesi, por terem participar da remoção de órgãos do menino, foram condenados em janeiro de 2014 a penas que variam de 14 a 18 anos de prisão em regime fechado por participação no caso. Eles não foram a júri popular.
Os médicos Celso Roberto Frasson Scafi e Cláudio Rogério Carneiro Fernandes chegaram a ficar presos por 30 dias e ganharam na Justiça o direito de recorrer da sentença em liberdade. Já Sérgio Poli Gaspar ficou foragido por um mês e após se entregar passou apenas um dia preso. Ele também pode recorrer em liberdade. As condenações provocaram também a reabertura do inquérito referente à morte de Carlos Henrique Marcondes, o Carlão, que foi diretor administrado do Hospital Santa Casa até o ano de 2002. Ele foi encontrado morto na época com um tiro na boca dentro do próprio carro.
José Domingos de Carvalho (no detalhe) foi uma das vítimas do suposto tráfico (Foto: Reprodução EPTV)José Domingos de Carvalho (no detalhe) foi uma
das vítimas  (Foto: Reprodução EPTV)
Médicos condenados por retirada de órgãos de pedreiro
Dois dos médicos julgados no Caso Pavesi já foram condenados em fevereiro deste ano pela remoção e suposto tráfico de órgãos e tecidos do pedreiro José Domingos de Carvalho, morto aos 38 anos em abril de 2001, na Santa Casa de Poços de Caldas. Os profissionais Celso Roberto Frasson Scafi e Cláudio Rogério Carneiro Fernandes receberam as sentenças junto com outros dois médicos, João Alberto Góes Brandão e Alexandre Crispino Zincone. Eles receberam penas que variam de 8 a 11 anos e seis meses de prisão em regime fechado por homicídio doloso, compra e venda de órgãos humanos, violação de cadáver e realização de transplante irregular.
Além do Caso 1, do pedreiro José Domingos de Carvalho, cuja sentença já foi dada, tramitam na Justiça o ‘Caso 2’, referente à morte de Adeleus Lúzio Rozin, em 2001. O médico neurologista José Luiz Gomes da Silva, é o principal acusado neste processo. Ele responde por homicídio. As circunstâncias da morte da paciente Alice Mezavila Tavares, de 49 anos, que recebeu um rim de Adeleus, também é investigada no 'Caso 3". Segundo a família, as causas apontadas pela Santa Casa na morte da mulher foram infecção generalizada e insuficiência renal crônica.